27/02/10

Sentimentos de culpa

Enquanto via o Larry David, que Woody Allen escolheu para fazer de si, no seu filme delicioso "Whatever works", senti-me pessoalmente atingida quando ele pergunta ou diz para a plateia qualquer coisa como:
"vocês são daquele tipo de espectador idiota que quer um feel good movie/um filme para se sentirem bem?"
Nem sei o que ele diz depois disso, mas a frase assim dita fez-me sentir exposta e, por momentos, pensei que todos os outros elementos intelectuais da plateia do Monumental se iam virar para mim e dizer qualquer coisa como:
"não tem vergonha? Isto é o Woddy Allen, não é para se sentir bem".
Por isso, encolhi-me e escondi-me um bocado na minha camisola gigante. Mas o Woody Allen para mim é sempre um feel good movie - mesmo quando é deprimente ou deprimido, neurótico ou quando levanta dúvidas existenciais deliciosas ou quando é só a vida como ela é. Vide "Amor e morte". Não pode haver melhor.
No entanto, ninguém na plateia se virou para mim, nem mesmo o meu vizinho do lado, que eu sei que sabe que eu gosto mesmo é de filmes rosinha. Por isso, respirei de alívio. E o "Whatever works" é uma teoria para a vida, tudo pode dar certo, nem tem de ser muito complicado.

E no dia a seguir, à hora do almoço, fui ver o "Dia dos namorados" com uma amiga. Rosa mais rosa não há.

25/02/10

Adoro presentes

"Podes chamar-me de Imperador", dizem os seus olhos enquanto passeia pelo nosso quarto com um toalhão de banho enorme enrolado ao pescoço em jeito de romano. De facto, não diz nada do que eu imagino, mas diz que as toalhas novas são um luxo, que são muito mais fofinhas do que as nossas que já têm dez anos e que não são tão bonitas e que não têm tão bom aspecto.
Por adorar presentes, apesar de se fazer de caro, proibiu-me de trocar um conjunto de lençóis novos, muito parecidos com uns que já temos, porque "a cor deles dá-me sonhos tranquilos".
"Ok, Imperador".

23/02/10

ih ih ih

Apercebi-me hoje, quando fui buscar os meus filhos à escola, que as auxiliares tratam o mais velho pelo último nome, assim como na tropa. Achei ternurento. Até porque eu trabalhei num sítio onde também me tratavam mais ou menos pelo último nome, assim como na tropa. E tive um momento de nostalgia.
A cabeça é um lugar estranho.

22/02/10

Eu sou tão querido... (II)

Ao jantar,
"papá, podes esmagar-me uma banana?"
o pai faz um ar não-me-apetece-nada e diz
"a mamã é que faz isso."
e o miúdo diz, com ar angelical,
"mas é que tu é que tens força..."
e o pai, vencido, mas com ar de quem venceu
"então dá cá que eu esmago".

O meu filho de seis anos sabe como argumentar com o seu pai competitivo. Lindo.

...

... e depois acontecem coisas destas que me fazem sentir fútil. 250 desaparecidos na Madeira, aqui ao lado. E queria muito saber de uma amiga que lá mora e não sei a quem perguntar.

20/02/10

10 razões

... olha, adorei o teu discurso sobre as dez (principais) razões porque gostas de mim e que, caso não me falhe a memória, são (como ditas por ti):

1. porque ela é simples;
2. porque sabe tratar montes de doenças;
3. porque estar casado com ela é como viver com um elemento da protecção civil, dos bombeiros e outro do CDC norte-americano, tudo ao mesmo tempo;
4. porque sabe todos os ingredientes que existem em inglês;
5. porque estar casado com ela é como estar casado com um clã, com irmãos, pais, sobrinhos, tios, primos e por aí fora;
6. por causa dos nossos filhos;
7. porque tem um blogue que me ajuda a saber como entrar em casa em cada dia;
8. pela sua capacidade de me ouvir sobre coisas que mais ninguém quer ouvir;
9. porque nunca consegue acertar nos nomes ou nos autores das músicas;
10. por ser a metade simpática do casal.

Ainda disseste mais umas coisas, mas estas foram, em traços gerais e caso não me tenha enganado, as de que eu me lembro. Adorei o que disseste. Tens de facto jeito para contar histórias. Obrigada. Deixaste-me quase sem palavras.

Porque eu gosto de ti

Hoje celebramos dez anos de casados.

Foi no dia 19 de Fevereiro de 2000, em Seteais. Estava Sol apesar de nos dias antes e nos depois ter chovido muito, acho - era Fevereiro. Estava tão contente que não me lembro de quase nada do que aconteceu nesse dia. Lembro-me do meu irmão mais novo a chorar antes de sairmos de casa. Lembro-me vagamente da viagem no carro dos meus pais. Lembro-me de mais ninguém ter chorado. Lembro-me do Sol. Lembro-me do conservador se ter atrasado 40 minutos.

Lembro-me basicamente do que vejo nas fotografias no álbum cor-de-rosa que de vez em quando tiro da estante para mostrar aos nosso filhos ("e eu onde é que estava, mãe?").

Nesse dia estava pouco eloquente, tinha um nó na garganta e não fiz nenhum discurso. Isto apesar de ter pensado tanto tempo no que queria dizer. Queria assinalar a falta monstruosa do meu irmão mais velho - queria explicar porque é que não íamos dançar, porque me chocava uma grande festa quando o vazio era tão grande -, mas também a falta dos meus avós maternos e do teu avô materno.

Queria dizer que a nossa festa era também a festa da minha irmã, que se tinha casado no ano antes, queria agradecer do fundo do coração aos meus pais, queria agradecer a todos os amigos por estarem ali.

Mas o máximo que disse foi "já está", quando o conservador finalmente se calou. E esse "já está" foi a melhor expressão que encontrei para selar a união que decidira anos antes, quase na primeira vez que te vi nos degraus da faculdade.

Foi aí que pensei "vou casar-me contigo" e calhou tu também achares isso de mim. E ainda bem. Hoje continuas a ser o meu melhor amigo. És a outra metade de mim, o outro elemento da nossa equipa.

Adoro sentir-me orgulhosa das coisas que fazes ou dizes. Adoro maravilhar-me contigo. Adoro quando à noite ficamos horas à conversa com a luz apagada como se fossemos miúdos. Adoro quando me perguntas se acho que dás muito mimo aos miúdos. Sabes o que eu acho, que o mimo nunca é demais.

Em dez anos, as pessoas e as famílias evoluem e hoje temos filhos, sobrinhos e mais um a caminho, temos menos os teus avôs paternos e a minha avó materna, temos amigos velhos, temos amigos novos. E temos-nos um ao outro.

Hoje vamos jantar com alguns amigos para comemorar tranquila e simplesmente. Amigos que estão connosco desde sempre ou desde há pouco.

Estou a preparar um discurso. Prepara-te.

[Esta mensagem foi publicada no dia certo, o 19, mas por engano ficou atrás da última, perdendo, por isso, o impacto que queria dar-lhe. Aqui fica.]

17/02/10

Hormonas

É suposto os miúdos de seis anos terem as hormonas a comandar as reacções? Ou isso é só mais tarde? Tenho um cá em casa que anda altamente hormonal, reage a tudo como se fosse a coisa mais importante do mundo e anda com um feitiozinho de primadona que nem sei o que lhe hei-de fazer.

16/02/10

Saudades

Hoje enquanto estava a arrumar as compras que fiz à chuva para o lanche tive de repente saudades duns passatempos que tinha quando era pequenina. Numa altura em que quase diariamente me assusto com a quantidade de brinquedos que os meus filhos acumulam - eles próprios desconsolados com o facto -, lembro-me que as brincadeiras que tinha em miúda eram sempre mais com tralha ou com coisas da rua do que com brinquedos (que eram escassos).

Então lembrei-me das latas de Nesquick, que eram um divertimento:
* Para abrir a lata tínhamos de aprender o que são alavancas;

* Depois de tirada a primeira tampa havia uma película prateada grossa e muito resistente que servia para fazer gravuras, se recortada com cuidadinho. Com um lápis ou outro objecto pontiagudo podíamos fazer desenhos e mesmo pintá-los com pincel. Tinham um aspecto suficientemente precioso para oferecer aos avós ou aos pais no Natal;

* Durante, faziam o horrível leite branco ser bebível (percebi há pouco tempo porque é que nunca gostei de leite, sou intolerante, algo que sempre senti);

* E, no fim, as latas davam para fazer mealheiros, furando a tampa e pintando ou para guardar as várias colecções, sendo que a minha preferida era a de botões.

* E, nas férias, davam para guardar as lagartixas, os girinos, a terra especial, as pedrinhas do rio, as folhas para o herbário, tudo o que as nossas mãos conseguiam apanhar.

Eu acho que nós até bebíamos mais leite só para podermos ter as latas para nós. Hoje há outros produtos assim versatéis? Acho que é tudo tanto de plástico que não serve para mais nada. As próprias "latas" de Nesquick, que agora são de papel e plástico ou qualquer coisa do estilo e acho que não sei o que fazer com elas. Também me lembro que com as primeiras caixas de cereais que apareceram fazíamos televisões, recortando o "ecrã" e fazendo um rolo com folhas coladas umas às outras, que corriam de um lado para o outro com o "programa". Lindo!

15/02/10

Retiro o que disse

Eu afinal gosto da chuva - nunca pensei que a sacaninha fosse ficar chateada comigo pelo que eu disse dela e se impusesse assim nas nossas vidas, como se fizesse obrigatoriamente parte da vida, fazendo a besnica ficar com tosse por tudo e por nada. Não é por tudo e por nada. É especificamente por causa da chuva. É por isso que digo que afinal gosto da chuva. Para ver se fazemos as pazes e se ela vai molhar o pessoal ali para o meio do mar.

14/02/10

Dúvida

Sou eu que estou viciada em chá de camomila - ou infusão de camomila para os puristas - ou o meu estômago está a precisar de ir fazer outra série de visitas ao senhor da acupunctura?
Parece que engoli um saco de pedras...

13/02/10

Conversar

Não há nada melhor do que conversar. Despreocupadamente, casualmente, no fim de uma semana cansativa, despir o profissional e entrar suavemente em modo informal. Falar sobre filhos, trabalho, amigos, projectos, ideias. Conversar. Jantar com amigos, com músicas daquelas de que eu gosto, dos anos 80, em fundo. Os miúdos também em fundo a brincar nem sei a quê, satisfeitos da vida. Perfeito.

Esta, por sugestão da Cláudia.



Ou estas, por sugestão da Raquel e da Sónia.



É só pôr o computador no volume mais alto, tirar os sapatos (se forem de salto alto, que eu quase nunca uso porque não tenho pachorra) e dançar. Se tiverem vergonha de o fazerem sozinhos, os miúdos são um excelente acessório. Nem é preciso esperar pelo próximo casamento.

11/02/10

Love love love

Anúncio de se lhe tirar o chapéu. Lindo.

Chamem-me pirosa (II)...

... mas hoje podia ir ver este filme ao cinema. É pink, é girly, está cheio de... vedetas... Até pode ser uma banhada, mas apetecia-me.

Chamem-me pirosa...

... mas enquanto vinha para o trabalho e a rádio estava a tocar "Take my breath away" dos Berlin e o sol brilhava como se fosse Verão e estava satisfeita porque os miúdos não tinham feito nenhuma birra para sairem de casa ou para ficarem na escola...

Pensei que há momentos perfeitos e que adoro apropriar-me deles e aproveitá-los. E, assim, esforçei-me por apanhar os meus dez minutos de sol diários que andam meio atrasados este Inverno chuvoso, para processar a vitamina D. Só que só foi nos punhos, por isso pensei "será que os benefícios se estendem ao resto do corpo?" Geralmente sinto-me mais sunny quando o sol fica directamente na cara, mas isso ia fazer com que tivesse de conduzir numa posição estranha e provavelmente distraía-me da condução.

Portanto, como gosto de partilhar, aqui fica o momento piroso do dia, ou o momento 80's do dia. Enjoy.

10/02/10

chove chuva...

Um filho, chuva, guarda-chuva.
Dois filhos, chuva, molha.

As mães deviam ter sempre um braço a mais do que o número de filhos que têm. Parece-me bastante óbvio.

P.S. Hoje, pela manhã, chegou a senhora carteira com um embrulho enorme para os meus filhos, que trazia presentes carinhosos. Adoraram e esqueceram-se que o pai foi de férias uns dias. Não há nada melhor do que receber correio, ainda por cima deste.

08/02/10

ai...

Confesso que ontem, quando calhou ligar a televisão no exacto momento em que o Pedro Abrunhosa estava a levantar-se do chão entre-palcos do Ídolos, não apanhei a parte mais divertida. Confesso que hoje já vi uma série de vezes no youtube o clip da queda e do subsequente levantamento tipo sempre-em-pé do artista. Até aí nada de estupidamente divertido.
Agora o que foi verdadeiramente original foi o genuíno "ai f%#@-$e" preocupado do João Manzarra, que parece ser um tipo verdadeiramente divertido, pelo menos na televisão. Para culminar um momento já de si de rir até às lágrimas, o seu glorioso salto à ninja para salvar o senhor dos óculos escuros - quem é que se lembra de ir para um palco escuro de óculos escuros? Who cares se o senhor não quer mostrar os olhos? Não devia já ter-lhe passado essa mania?

No céu

Hoje quando íamos para a escola vi um fantasma no céu. Um fantasma branco, que não era uma nuvem e só podia mesmo ser um fantasma. Era etéreo, não era papel, não era um saco de plástico e desapareceu assim que eu o fixei segunda vez, possivelmente envergonhado por ter sido descoberto.
Depois dos fantasmas negros e assustadores do filme "A princesa e o sapo" da Disney, que vimos ontem com amigos e de que gostei muito, este fantasma era calminho e transmitia uma certa paz. Ninguém quer que os seus fantasmas sejam negros e se dissolvam pelas paredes, que corram pelos pântanos a assustar criaturas e lancem gritos horríveis. Quem tem fantasmas quer que sejam meio nuvens meio transparência, que voguem tranquilamente pelo céu.
Eu não acredito no céu, mas mantenho o medo infantil do inferno...

07/02/10

Dia fixe

Sábado - putos colaborativos, almoço nas pizzas, passeio na Gulbenkian, à procura de caminhos emocionantes, lanche bom.

Aviso: eu não sei falar italiano

... mas o meu filho sabe algumas coisas.
Hoje disse-lhe para dizer "buon giorno a tu sorella" - a maior parte disto foi inventada e dita em tom mais baixo do que as partes verdadeiras. Mas como na escola andam a aprender a Itália, como antes aprenderam Espanha, Inglaterra e Rússia, ele retorquiu "queres que diga bom dia à minha irmã?".
"E sabes como é que se diz criança? É bambino. E boa noite? Buona sera. e... e..."
Adoro.

04/02/10

Na savana



Há dois dias, a caminho da escola, encontrámos um rinoceronte, que estava com um ar esfomeado. Pelo sim, pelo não, enfiámos as mãos geladas nos bolsos dos casacos, subimos as golas até ao queixo e enfiámos a cabeça em gorros quentinhos.
Toda a gente sabe que os rinocerontes esfomeados gostam de gelados de pessoas como nós gostamos de gelados de morango e marabunta e assim este já não nos apanha.

Este é um desporto favorito, quase tão favorito como apanhar coelhos a comer tubarões nas nuvens. Bons sonhos.

Iupi

Quem é que tem o dobro do trabalho (físico e, acima de tudo, emocional) quando os papás ficam a trabalhar até mais tarde dois meses seguidos? É claro, as mamãs. Que bom...

02/02/10

E já que estamos a falar de Deschanel

Também quero ver este filme "500 days of Summer", mas também não sei o nome em português e penso que não está no clube de vídeo - será que passou no cinema? Que tristeza não poder ir ao cinema ver todos os filmes cor-de-rosa que aparecem...

Me likey

O grupo chama-se She and him, ela é Zooey Deschanel e ele é M. Ward. Têm umas músicas tão fixes que hoje têm estado a tocar no meu computador. E também gosto do estilo deles.

01/02/10

e vai mais uma...

... gastroenterite num dos putos. Isto anda tão animado, mas tão animado, que já nem sei o que faça primeiro, se limpar o chão, se lavar a roupa suja, se as toneladas de baldes e outros recipientes, os sapatos, os tapetes, and so on and so on...

Alguém sabe o nome deste filme em português?

É que eu tenho de o ver, porque acho que é um daqueles filmes de que eu gosto. Broken English de Zoe Cassavetes (acho). Nem que seja só pela confusão do rapaz francês que deseja "I hope you can find hapiness" e das americanas que ouvem "a penis?".

X

Hoje de manhã no Pingo Doce:
"não sei onde hei-de pôr isto" - diz uma das funcionárias com uma caixa de cartão cheia de pequenas caixinhas coloridas com pets ou littlest pet shop ou qualquer outro brinquedo em miniatura.
A funcionária que me está a atender sugere:
"põe no meio das bolachas."
... ar de espanto da outra.
"então não nos disseram para apostar no cross?", justifica.

Cada vez mais os supermercados são sítios perigosos para ir com os miúdos. Risco sério para a carteira para os pais mais moles ou para a cabeça para os pais mais teimosos. O cross-selling torna-nos mais vulneráveis porque nos atinge em sítios onde não estávamos à espera. Na zona das caixas, com bebidas frias, pastilhas elásticas ou pilhas, na zona dos vinhos com saca-rolhas tecnológicos, na zona das fraldas com brinquedos para bebés...

Com os miúdos é de evitar ir a lojas:
"ó mãe quero um gormiti", "ó mãe quero uma kitty", "ó mãe quero isto, o que é isto?", "ó mãe o miguel tem isto, também quero", "ó mãe és mesmo má", "ó mãe és mesmo mesmo muita má", "e se eu me portar bem para sempre?", "mas é só hoje", "tens dinheiro?", "xxx", "xxx", "xxx". Ad nauseam.

É por isto, meus queridos filhinhos, que eu prefiro ir correr (algo que odeio acima de tudo fazer) do que ir convosco às compras.

Ups...

... socorro!!! Acho que estou viciada em Bombay mix...

Certezas cósmicas

Se eu trabalhasse na caixa dum supermercado, iria rir-me interiormente baixinho sempre que alguém passasse com um pacote de rolos de papel higiénico, imaginando o fim que os ditos iriam ter.