Começa a tornar-se uma tradição familiar - em férias, a fechadura da porta da casa onde estamos tem de avariar. Estranhamente, isto tem-se repetido um pouco por todo o lado, incluindo na Escócia há dois verões atrás.
Os divertidos (em retrospectiva) elementos para a história de hoje foram os seguintes:
É Domingo de manhã. Está um sol fenomenal e vamos para a praia.
Acabo de puxar a porta e, quando tento rodar a chave para a trancar, não roda. Não abre nem tranca a porta. Belo.
Olho rapidamente para o pessoal. Estamos os quatro em fato de banho e t-shirt, duas pranchas e toalhas ao ombro. Eu tenho uns calções, com três euros e umas moedas pretas no bolso. Tenho a inútil chave de casa. Tenho a mala da praia cheia de protectores solares e a revista Sábado. Ninguém tem telemóvel, nem chave do carro, que está a quilómetros de distância.
Lembro-me do momento em que hoje, pela primeira vez nas férias, pus as janelas do primeiro andar - mais facilmente acessíveis pela rua - em modo basculante - o que impede a sua abertura por fora.
Olho para as janelas do segundo andar, abertas. Mas altas que se farta. Penso a quem é que poderei pedir uma escada gigante emprestada. Não conheço aqui ninguém. Lembro-me do cartão wtf que o miúdo ganhou ontem na praia a tentar acertar com argolas num pino. Falho miseravelmente na tentativa de abrir a porta com ele.
A casa não é nossa. Não temos o contacto do dono connosco - está no telemóvel.
Começo a dirigir-me para os Bombeiros, a miúda vai comigo. Os dois homens ficam na praia com as pranchas. Pequenos momentos de stress: será que os bombeiros são no cimo da ladeira? É que aqui a ladeira é mesmo grande - mas afinal até são perto. Será que não está ninguém no quartel? Está tudo com ar fechado - mas afinal está gente. "Difícil, muito difícil. Agora só abrimos portas em socorro, se estiver uma panela ao lume ou se estiver uma criança em casa.", diz-me o primeiro bombeiro que encontro. Desejo ter deixado uma panela ao lume, mas não deixei.
A colega reforça que "agora só em socorro. Se for sem socorro é muito caro. Mas aqui na rua há um senhor que abre portas." Espere, quanto custa sem socorro? pergunto a sentir-me em socorro e a ficar sem voz... Nem responde e pede ao colega que vá comigo ao senhor das fechaduras.
No caminho para a oficina, o simpático bombeiro explica que começaram a ter muitos problemas por causa de irem abrir portas que depois se verificou serem questões relacionadas com divórcios e partilhas. Por isso é que agora não fazem. Lá diz que consegue abrir com uma radiografia, mas não pode. Não faço mais perguntas mas fico a imaginar porque é que não poderá. A porta da oficina está obviamente fechada, mas há um número de telemóvel. O bombeiro liga do seu telefone, claro que parece que ninguém vai atender, o bombeiro começa a ficar com ar preocupado, eu volto a pensar a quem é que vou pedir uma escada, mas o senhor das chaves lá atende e combino, uma hora depois à porta de casa. Lá agradeço ao bombeiro, despedimo-nos dele. Pelo caminho ainda cravo uma caneta a um casal e anoto o número de telefone, não vá dar-se o caso.
Voltamos à praia. Ainda pergunto as horas a três pessoas e um pouco antes da hora combinada lá vou para a porta de casa. Miraculosamente, o senhor chega a horas e, em menos de um minuto abre a porta (de segurança) - verifica-se então que a outra chave tinha ficado do lado de dentro. Eu achava que não estava lá nenhuma chave.
Bem, o miúdo adiantou os 40 euros e a história teve um final feliz. Pelo meio senti-me bastante desesperada - como é que vou dar almoço aos miúdos e outras preocupações do género. A conclusão? Nunca deixar a porta de casa no trinco, nem quando se sai, nem quando se vai dormir. É tão fácil abrir a porta...
Sem comentários:
Enviar um comentário