25/02/11

I wish

O meu filho corre atrás de mim até ao Multibanco. Ele sabe que preciso de levantar dinheiro para pagar uma visita de estudo, um cinto novo do judo porque passou de nível e também para saldar uma dívida, porque no dia anterior me tinha emprestado dez euros para pagar as quotas dos bombeiros.
E então pergunta:
"mamã, quanto é que vais imprimir?"

Chocolate

Andava há dias a mastigar nesta ideia - pannacotta de chocolate.
Pannacotta, que não quer dizer mais do que natas cozidas (em italiano) e que também não leva quase mais nada do que natas, é uma das sobremesas que faço quando estou sem paciência para nada mais elaborado.
É uma receita super (e quando digo super quero mesmo dizer super) fácil e rápida de fazer e tem uma lista mínima de ingredientes. No final, é uma sobremesa luxuosa, para consumir com moderação porque, afinal de contas, natas são natas.
E então, comecei a pensar em variações e fiz uma bela

Pannacotta de chocolate

1 litro de natas
6 folhas de gelatina transparentes
100 gramas de açúcar
meia tablete de chocolate preto (+ de 70% cacau)

1. Num tacho, levar ao lume as natas e deixar fervilhar durante 5 minutos;
2. Àparte, demolhar as folhas de gelatina em água fria;
3. Passar a forma para a pannacotta por água fria (para ser mais fácil soltar quando for servir);
4. Tirar as natas do lume, misturar bem o açúcar, as folhas de gelatina escorridas e o chocolate partido em pedaços;
5. Deitar na forma e levar ao frigorífico até prender (+/- 6 horas);
6. Desenformar e servir com doce de ginga ou framboesa (de compra, que se liquidifica no micro-ondas ou num tacho sobre o lume).

Fiz a primeira vez para os anos do meu filhote, mas pus só 50 gramas de açúcar e ficou pouco doce. Por isso, decidi dobrar a receita e fica uma delícia. Fica bonito em copinhos individuais para comer com colher de chá.
Aliás, a receita da pannacotta presta-se a muitas variações que congemino, nomeadamente pannacotta com legumes (que é para compensar das calorias monstras que terá). Parece-me um bom side dish. Quando fizer logo partilho os resultados.

[Curiosamente, enquanto estava a escrever este post, recebi um mail de um amigo a pedir que enviasse a receita mais fácil que conheço, a que sei de cor, para uma pessoa - foi fácil, bastou-me fazer copy+paste e depois enviar o pedido de nova receita para 20 amigos. É suposto receber 36 receitas, espero que ninguém falhe.]

21/02/11

Da minha janela

Assim que chego ao trabalho ponho logo os phones nos ouvidos. Consigo reduzir em muito as tentativas de contacto, porque quem se aproxima percebe logo a mensagem. Ainda posso piorar um pouco a coisa fingindo não ouvir quando me chamam.
Precisava de ter mais duas pessoas só para conseguir gerir tudo o que tenho que fazer e, ainda por cima, estou sempre a ser interrompido. O cúmulo? Não tenho pachorra nenhuma para as miúdas que entram aqui com dúvidas parvas "o meu computador encravou, o que é que devo fazer?" ou pior "Aquela coisa ficou toda azul e perdi o meu trabalho todo".
Ctrl+Alt+Del
Reinicia o computador
Para a próxima, grava. Há uma função automática para o fazer.
Sempre as mesmas respostas para as mesmas perguntas. Devem ser parvinhas. "Ah, é verdade, tinha-me esquecido disso." E lá vão, pelo corredor fora, convencidas de que encontraram a solução para a paz no mundo. Há uma que até é gira, a quem não me chateia aturar. Passo por vezes pela sua secretária, dou-lhe dicas para melhorar a visualização do ecrã, alguns shortcuts para o word, que vai enchendo com os seus textos sobre optimização fiscal. Está em forma e vejo-a pela janela a regressar do ginásio depois da hora do almoço, com o cabelo molhado e a rir com as colegas.
Quando volto para casa, faço o mesmo com os phones quando vou no comboio. Vou na minha. Hoje entrou a seguir a mim no elevador do meu prédio a miúda do word. Tive um ataque de riso nervoso e fiz logo o filme todo na minha cabeça, a subida vagarosa e tensa do elevador até minha casa, a aproximação dos corpos, os dois a entrarmos de rompante em minha casa, bolas ficou toda desarrumada de manhã, mas isso não interessa, entramos a chocar contra as paredes, num frenesim de beijos e abraços com que ando a sonhar há meses, desde que a vi regressar do ginásio de cabelo molhado e a rir pela primeira vez. Enfio finalmente as minhas mãos no cabelo dela, quero comunicar, estou a libertar-me finalmente, vou dizer-lhe que gosto dela há meses, é agora,
"Então moras aqui?"
Sim, balbucio, sem querer interromper o sonho que estava a ter.
Que coincidência, o meu namorado também. Para que andar vais?"

As crianças têm sempre razão

Eu lembro-me de sempre ter tido medo do Kadhafi. Medo puro, daquele que dava pesadelos à noite, que dava arrepios quando ele aparecia na televisão. E, nos anos 80, o raio do homem aparecia muitas vezes. Tinha um ar maquiavélico, um sorrisinho tenebroso e fazia coisas horríveis.
Depois, foi o caso Lockheed e o homenzinho, por milagre, ficou bom. Passou a ser bem recebido nos sítios supostamente evoluídos onde ia, nomeadamente em Oeiras, há um ou dois anos, onde montou a sua enorme tenda.
Agora, com a repressão violentíssima e com mais de 200 mortos acabados de noticiar na rádio, tudo enquanto nós dormíamos tranquilamente, confirma-se tudo o que eu achava sobre ele. É mau. É odioso.

19/02/11

11 e a contar

11 anos, comemorados à antiga, com jantarinho, barzinho e cinema. Sexo sem compromisso. Gostei.
P.S. Sexo sem compromissos é o nome do filme, para os mais distraídos.

Acordei a dançar

Acordei alvoroçado, mas feliz com o sonho que estava a ter.
Estava a música a tocar, 99 red balloons, tenho a certeza, e numa sala sem luz um grupo de miúdos dançava, agitava-se, ria e conversava alto. Ao canto, duas miúdas riam-se de qualquer declaração de amor feita por um dos mais adiantados.
Tu estavas a dançar com a tua saia aos quadrados, como se nada do que se passava à tua volta estivesse lá. Tinhas essa capacidade de te esqueceres do que te rodeava. Dançavas sem te preocupares com o que fazias, agitando os braços e rodopiando sem parar. Como é que não tinhas vergonha do teu corpo? Todos os outros tinham.
Eu via-me, como num filme, como se eu fosse a câmara e os meus olhos fossem a lente. Via as minhas mãos a abanarem-se ao som da música, via um grupo de miúdos a chegar à adolescência, a tentar exteriorizar o que andávamos todos a pensar, que tínhamos poder, que podíamos abanar o mundo.
E eu só queria olhar para ti. Para a minha companheira de brincadeiras nos dois últimos anos, para a miúda meio arrapazada que, afinal, sabia dançar. Que, afinal, era uma rapariguinha e usava saias e... bem, era uma miúda. E bonita. Para onde é que eu tinha andado a olhar antes? Como é que não tinha reparado? Que tontos que somos aos 12 anos... Que saudades que tenho hoje das nossas conversas, das nossas brincadeiras antes do fim da inocência, da nossa amizade, que gastámos num ápice pouco depois desta festa.
Agora que penso nisso, esta festa foi um pouco o fim da inocência. Era o princípio da Primavera e coisas estranhas começaram a acontecer.
Por isso, hoje, fechei os olhos e fiquei a ver-te dançar, com o teu ar de betinha intocável. Quem me dera ter tido coragem de tentar entrar no teu mundo e de ter lá ficado até hoje.
Com os anos que passaram, acabámos por nos perdermos um do outro. Acho que um dia hei-de dizer-te o que sinto por ti. Que saudades que tenho de ti.

16/02/11

É difícil

Acho que esta ideia não é nova por aqui, mas há uma coisa que me acontece com muita frequência, que é as minhas coisas estragarem-se mais do que as das outras pessoas. Não é por que eu lhes dê uma utilização mais intensiva nem sequer abusiva, mas, por norma, acabo por ficar com uma coisa estragada, na fase em que ainda gostava muito dela.
Porque a vida é assim, as coisas são diferentes das pessoas - há pessoas de quem gostamos sempre, para sempre. Com as coisas, gostamos delas durante um certo período de tempo e depois moving on (lembro-me das borrachinhas de cheiro há uns dias atrás). Comigo é impossível que essas coisas de que gosto muito estejam sempre bem.
Por isso, quando tenho uma coisa nova de que gosto muito, tenho sempre receio de que se vá estragar. É uma seca.
Ontem, resolvi finalmente, com um empurrão é certo, mas resolvi, o drama da falta de pilha do identificador da Via Verde, que já tinha anos de avisos. Enquanto vinha para casa a pensar "que orgulho está tudo ok com o carro" (quase tudo, há um minor issue com o registo, mas prefiro não pensar nisso agora), aviso sonoro de falta de óleo. Raisparta a porcaria do carro.
Se pudesse prescindir da ajuda que me dá com os miúdos, especialmente nos dias de chuva, dispensava-o do serviço e diminuía a lista de coisas to do.
Por isso, o despojamento, o ter menos coisas, é muito bom. E pegando nessa ideia, hoje descobri que a Bota Minuto, aqueles quiosques onde se arranjam sapatos e coisas do estilo, está outra vez a fazer uma campanha de recolha de sapatos usados, para voltarem a ter uso.
Eu sei que toda a gente deve ter, como eu, sapatos quase novos que já não usa, sapatos dos miúdos que foram usados uma vez ou duas e por aí fora. Estão, em suma, a ocupar espaço. E há pessoas que não têm sapatos.
A crise, se é dura para alguns, para outros é duríssima. A minha irmã, que é professora, diz que agora nota fome nos alunos, que nota roupas que já passaram a data de validade há muito.
Food for thought.

15/02/11

Eu sei que está na Constituição

Mas as greves não serão certamente a solução para os nossos problemas. Páram o país, perturbam o funcionamento das poucas empresas que ainda produzem qualquer coisa. Lembram-se da Grécia? Pois, não melhoraram nada.

14/02/11

Dia de Primavera

Quem é que é a princesa que hoje - com a chuva dissolvente - foi de sabrinas para a rua? Quem é que, além disso, foi sem guarda-chuva para a rua?
E quem é que, para compensar e à falta de galochas, comprou um guarda-chuva novo no chinês de Entrecampos, que usou até ao Metro do outro lado da rua e depois mais 15 metros desde a saída do Metro do Marquês até o passar a uma mãe com um bebé ao colo e uma mala com rodinhas mais dois filhos pintaínhos a reboque cada um com sua malinha?
Amo amo a Primavera.

13/02/11

Pois

Podia ter ido levar o bolo ou os biscoitos que pensei tantas vezes levar quando soube que estava doente.
Podia ter tido um bocadinho mais de paciência, de ter conversado mais um bocadinho todos os dias, de ter sido mais gentil.
Podia, mas nem sempre tive, conversei ou fui.
A minha filha fazia as honras da casa, atirando os seus bons dias e adeuses espectaculares quando íamos a caminho da escola, dançando para a senhora como num cortejo, exibindo as toilettes mais pirosas.
Agora já não dá. A garrafa com um lírio roxo pendurada na janela quer dizer que morreu, não foi? 1 beijinho de despedida.

11/02/11

Daydreaming

Constatas, com um ar espantado, que raramente sonho. Corriges, despachado, que "ou então" não conto os meus sonhos.
Não costumo contar sonhos, é um facto. Mas sonho. Muitas vezes não me lembro do que sonhei durante a noite, que passo geralmente a dormir.
Tu amas contar-me os teus sonhos. Adoras que me sente no sofá a dar-te cem por cento de atenção enquanto me contas as tuas aventuras dentro de água. Se desvio os olhos vais atrás deles, obrigando-me a concentrar-me de novo.
Eu gosto de te ouvir entusiasmado com os sonhos malucos que tens.
Mas eu, como te digo, à noite gosto de dormir.
Por isso, sonho de dia. Muito. E se estou a ter sonhos bons fecho os olhos com muita força para não se irem embora. E adoro remoer em sonhos bons.
Mas se os sonhos da noite podem ser completamente destituídos de raciocínio lógico, os do dia não. Por isso não os partilho com o teu lado racional. Porque só se podem sonhar sonhos malucos de noite.

08/02/11

A importância de um nome

- Boa tarde, queremos um esquentador.
- Boa tarde. Querem Vulcano ou Junkers?
Silêncio envergonhado da nossa parte, que nunca fazemos o trabalho de casa e por isso nem tínhamos pensado no que queríamos. Só sabíamos o principal, que queríamos um esquentador. A marca, o tamanho, o preço, isso já era complicar muito a questão.
Balbuciamos um
- ah, qual é a diferença?
Mas ainda não tínhamos tido tempo de começar a pensar nas duas hipóteses, quando o senhor acrescenta:
- São exactamente a mesma coisa.
Surpresa. Perguntámos então se era uma diferenciação de qualidade,
- não, são a mesma coisa, só o logo é que é diferente.
se era pelo preço,
- não, é o mesmo.
...
Optámos pelo Vulcano, que parece mais português e indicia que vai aquecer de facto, como se fosse um vulcão... Sem mais nenhuma razão, vamos para as razões parvas.
...
Até podíamos pensar que seria a assistência técnica que era diferente, mas também não, andam por aí as carrinhas dos técnicos, com os dois logos, um em cima um em baixo. Cena mais marada.
Dúvida:
Não seria mais eficiente/barato ter só uma marca?

07/02/11

Conta-me como é

Eu sei que continuo a fazer hoje igualzinho ao que fazia quando era miúda. Tal e qual.
Reparei mais uma vez hoje de manhã que não uso as collants racings que comprei em Londres com medo que se estraguem, por isso espero pela ocasião mais apropriada para as estrear.
O pior é que daqui a nada chega a Primavera e o calor e já não me apetece nada usar as ditas collants. Também calculo que para o ano já não se usem. É um dilema da treta, que não vale um caracol, bem sei.
E é exactamente o mesmo estilo de problema existencial que se passou com aquelas porcarias das borrachinhas de cheiro nos anos 80.
Construí uma colecção enorme, pouco organizada, bem sei, mas dava-me gozo olhar para as ditas, ordená-las por cor ou por cheiro, o que fosse, e, no fundo, possuir aquelas coisas. Todas as minhas amigas tinham, é claro que os rapazes não percebiam o seu valor, mas nós trocávamo-las como se fossem cromos.
Esquecia-me, até, da sua única função útil, que devia ser apagar. Coisa que também não faziam assim lá muito bem, manchando os desenhos e esborratando os cadernos.
Por isso, ao fim de uns anos, vi-me confrontada com uma colecção completamente desinteressante de borrachinhas, que já nem cheiravam muito bem nem serviam para apagar nada.

03/02/11

Rerun

A última vez que assou frango no forno, eu tive de recuperar um saco meio derretido com miúdos cozidos lá dentro, já perto do fim da cozedura do próprio frango.
Hoje, com medo de repetir o disparate, que me fez oscilar entre um valente ataque de riso e um receio de comer aquela porcaria que tinha estado dentro do frango a libertar coisas más que a minha família ia comer, apareceu nos vidros da porta da sala segurando cuidadosamente um frango nas mãos, a perguntar-me onde é que vêem os miúdos. Resposta óbvia: dentro do frango. A resposta dele, também óbvia e muito usada: mas não estão lá...
Como ando a aprender a desligar o botão, fingi que não ouvi. Tudo se resolve a seu tempo, sem a nossa interferência.
Eu estou a ressacar na sala, dando um olhinho ao Clube dos poetas mortos, filme com que embirro vagamente, talvez por ter tido um colega de turma que passou um ano lectivo inteiro a berrar carpe diem...
Da cozinha chega a esperada constatação: já encontrei.
E também um promissor: vou fazer sopa de cenoura.
A felicidade existe.

02/02/11

Tempo para olhar

Como fazia quando era miúda, olho para as paredes em busca de padrões. O Sol, as sombras...
Quando era pequena e ficava doente, entretinha-me a descobrir formas estranhas no papel de parede das flores azuis e brancas do quarto que partilhava com a minha irmã ou nas flores maiores amarelas e verdes do quarto dos meus avós. No quarto dos meus pais a parede era mais lisa, por isso, não me lembro de lá encontrar padrões. Ficava mais calma.
Hoje, que estou com uma pequena carraspana na cama, descobri pela primeira vez formas no quadro do Van Gogh que trouxe de Amsterdão. Cópia, claro, escusam de vir cá gamá-lo, que não faz acabar a crise. Descobri uma cabrita a saltar e uma senhora com ar de resmungona de braços esticados.
E lembrei-me desses dias de relaxamento da infância, sem nada para fazer, à espera de as forças voltarem.
O que é que recomendam para tratar os resfriados? Qualquer ideia, desde que não seja mastigar alho...