21/02/11

Da minha janela

Assim que chego ao trabalho ponho logo os phones nos ouvidos. Consigo reduzir em muito as tentativas de contacto, porque quem se aproxima percebe logo a mensagem. Ainda posso piorar um pouco a coisa fingindo não ouvir quando me chamam.
Precisava de ter mais duas pessoas só para conseguir gerir tudo o que tenho que fazer e, ainda por cima, estou sempre a ser interrompido. O cúmulo? Não tenho pachorra nenhuma para as miúdas que entram aqui com dúvidas parvas "o meu computador encravou, o que é que devo fazer?" ou pior "Aquela coisa ficou toda azul e perdi o meu trabalho todo".
Ctrl+Alt+Del
Reinicia o computador
Para a próxima, grava. Há uma função automática para o fazer.
Sempre as mesmas respostas para as mesmas perguntas. Devem ser parvinhas. "Ah, é verdade, tinha-me esquecido disso." E lá vão, pelo corredor fora, convencidas de que encontraram a solução para a paz no mundo. Há uma que até é gira, a quem não me chateia aturar. Passo por vezes pela sua secretária, dou-lhe dicas para melhorar a visualização do ecrã, alguns shortcuts para o word, que vai enchendo com os seus textos sobre optimização fiscal. Está em forma e vejo-a pela janela a regressar do ginásio depois da hora do almoço, com o cabelo molhado e a rir com as colegas.
Quando volto para casa, faço o mesmo com os phones quando vou no comboio. Vou na minha. Hoje entrou a seguir a mim no elevador do meu prédio a miúda do word. Tive um ataque de riso nervoso e fiz logo o filme todo na minha cabeça, a subida vagarosa e tensa do elevador até minha casa, a aproximação dos corpos, os dois a entrarmos de rompante em minha casa, bolas ficou toda desarrumada de manhã, mas isso não interessa, entramos a chocar contra as paredes, num frenesim de beijos e abraços com que ando a sonhar há meses, desde que a vi regressar do ginásio de cabelo molhado e a rir pela primeira vez. Enfio finalmente as minhas mãos no cabelo dela, quero comunicar, estou a libertar-me finalmente, vou dizer-lhe que gosto dela há meses, é agora,
"Então moras aqui?"
Sim, balbucio, sem querer interromper o sonho que estava a ter.
Que coincidência, o meu namorado também. Para que andar vais?"

1 comentário:

Sónia disse...

...sem limites...gosto da tua imaginação.