Acordei alvoroçado, mas feliz com o sonho que estava a ter.
Estava a música a tocar, 99 red balloons, tenho a certeza, e numa sala sem luz um grupo de miúdos dançava, agitava-se, ria e conversava alto. Ao canto, duas miúdas riam-se de qualquer declaração de amor feita por um dos mais adiantados.
Tu estavas a dançar com a tua saia aos quadrados, como se nada do que se passava à tua volta estivesse lá. Tinhas essa capacidade de te esqueceres do que te rodeava. Dançavas sem te preocupares com o que fazias, agitando os braços e rodopiando sem parar. Como é que não tinhas vergonha do teu corpo? Todos os outros tinham.
Eu via-me, como num filme, como se eu fosse a câmara e os meus olhos fossem a lente. Via as minhas mãos a abanarem-se ao som da música, via um grupo de miúdos a chegar à adolescência, a tentar exteriorizar o que andávamos todos a pensar, que tínhamos poder, que podíamos abanar o mundo.
E eu só queria olhar para ti. Para a minha companheira de brincadeiras nos dois últimos anos, para a miúda meio arrapazada que, afinal, sabia dançar. Que, afinal, era uma rapariguinha e usava saias e... bem, era uma miúda. E bonita. Para onde é que eu tinha andado a olhar antes? Como é que não tinha reparado? Que tontos que somos aos 12 anos... Que saudades que tenho hoje das nossas conversas, das nossas brincadeiras antes do fim da inocência, da nossa amizade, que gastámos num ápice pouco depois desta festa.
Agora que penso nisso, esta festa foi um pouco o fim da inocência. Era o princípio da Primavera e coisas estranhas começaram a acontecer.
Por isso, hoje, fechei os olhos e fiquei a ver-te dançar, com o teu ar de betinha intocável. Quem me dera ter tido coragem de tentar entrar no teu mundo e de ter lá ficado até hoje.
Com os anos que passaram, acabámos por nos perdermos um do outro. Acho que um dia hei-de dizer-te o que sinto por ti. Que saudades que tenho de ti.
2 comentários:
JOANA, tens um intruso no teu blog! Alerta Alerta...
É inofensivo, deixo-o ficar.
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