26/07/11

A culpa

A sair da praia, um cromo atira-se para cima do meu carro. Eu, num reflexo estúpido, mas mais rápido do que o que teria sido sensato, que era virar o volante, buzinei e depois disse
Eh, pá!
No lugar de trás, a minha filha disse, muito depressa:
"não fui eu, mamã, não tenho nenhuma buzina aqui atrás".

25/07/11

Desejos esquisitos

No andar de baixo, a minha irmã regressada das compras diz à minha mãe que trouxe amaciador e nestum e subitamente, a única coisa que quero fazer na vida - agora que estou deitadinha na cama a ler o cómico "uma questão de atração", de David Nichols - é comer nestum. Um prato grande. Daqueles em que a colher fica em pé, polvilhado com flocos não dissolvidos no leite.

19/07/11

Anos 90

Se calhar, agora que os anos 80 andam por todo o lado e já consegui matar algumas das saudades desses primeiros anos conscientes, tenho nostalgia é dos anos 90. Dos primeiros cinco. Da escola. Dos dramas existenciais que se debatiam pela noite dentro. Da liberdade. De ter tempo para gastar. Dos Nirvana, essencialmente. E do que sentia ao ouvi-los. A nostalgia tem cura?

As piadas do dia

"PJ cria equipa para deter criminoso fugitivo de 83 anos", DN dixit. Eu sei que a esperança média de vida está a aumentar, e ainda bem, mas esta notícia ou o que a motiva é meio tonta. Será que o senhor corre muito?

"Católica proíbe chinelos e calções no campus", DN dixit idem. Quando eu lá andei, livremente vestida, os únicos que se passavam com "essas" coisas eram mesmo os alunos de Teologia, que ficavam rebarbados a olhar para tudo o que fosse mulher sem hábito vestido. Ridículo. Cresçam.

18/07/11

O leitor

Achei piada a um postal sobre a comemoração dos 60 anos do leite Vigor e pendurei-o no frigorífico. Uns dias depois, estranhamente ainda na 2a circular, apontei um pacote de leite Vigor gigante com os mesmos desenhos, um homem vestido de branco a transportar o leite.
E a mais pequenina diz, muito contente por conhecer essa profissão tão antiga:
"olhem, é o leitor!"

Publicidade do século passado

Um gigantesco cartaz recebia até há uns dias atrás quem passava na 2a circular com a frase "Adidas is all in".
Não me pareceu muito original, e comecei a puxar pela cabeça, até que me lembrei de um dizer popular, muito típico dos anos 80. So last century...

13/07/11

Perder umas horinhas com a Segurança Social

Pois. As coisas que funcionam mal na vida real vão funcionar mal ou pior na virtual. Quero pedir o famoso cartão europeu de seguro de doença para os quatro, porque nas férias havemos de dar um pulinho a outros países e nas férias anteriores tenho-me esquecido e vou sempre a pensar "ai se acontece alguma coisa".
Tento primeiro pela net. O site da Segurança Social digamos não é assim muito user-friendly. As explicações são dadas em texto e não se percebe exactamente a quem se deve pedir nem como. Descubro um número de telefone.
Objectivo supremo: evitar tudo quanto seja ir à própria da Segurança Social.
A senhora que atende o telefone encosta-me logo à box, perguntando-se se tenho acesso à Segurança Social directa. Acho que já recebi essa senha em tempos, pergunto para que é que é precisa.
"Por telefone não pode pedir, só se tiver a senha da Segurança Social Directa. Se não tiver, pode pedir uma senha, que recebe passado sete dias e depois pode pedir o cartão."
Supondo que não tenho,
"Então pode ir a um dos serviços da Segurança Social",
assim como quem diz pode ir ali ao café beber uma bica. E eu vejo mentalmente a fila que dá a volta ao quarteirão na Avenida dos Combatentes em Algés, horas antes do serviço abrir.
Lá desenrasco o número e, afinal, é super simples pedir o cartão. Para mim.
Para os miúdos (e para o pai deles), que não estão agregados a mim na SS porque não pedimos abono e que não são "clientes" como eu da Segurança Social Directa, é mais complicado. Estou uns bons minutos ao telefone à espera de descobrir.
Afinal, tenho de digitalizar os cartões de cidadão (de todos os lados, obviamente, vezes três), preencher um impresso com duas páginas (vezes três) que pergunta, entre outras coisas, o motivo da deslocação - era o que mais faltava (não respondo) - e depois digitalizá-lo (duas páginas vezes três). No final, tenho de enviar para uma localização obscura, onde se chega através de uma página da SS, preencher as palavras certas e indicar o assunto certo e mais uns quantos preceitos.
Eu, que não tento nunca enganar ninguém, que sou estupidamente honesta com trocos e com qualquer outra coisa que se me apareça à frente, involuntaria e essencialmente porque devo ter medo do inferno, que gosto de facilitar a vida a toda a gente, essencialmente porque devo acreditar no céu, não concebo tanta estupidez para pedir uma porcaria de um cartão. Não é que eu não goste de preencher impressos - que gosto - mas eu e os burocratas não nascemos mesmo uns para os outros (especialmente se tivermos de estar cara a cara).
(Ainda não consegui enviar tudo - penso que é preciso aí uma hora para o processo ficar completo para cada um de nós)

12/07/11

Banda sonora Pequenas mentiras entre amigos

Cómico: as estatísticas dizem-me que ontem veio imensa gente aqui parar por causa de uma pesquisa "banda sonora Pequenas mentiras entre amigos". A banda sonora é, de facto, óptima. Toca a facilitar: aqui dá para encontrar tudo. Em francês "Les petits mouchoirs".

11/07/11

Mergulhar

Debaixo de água tens assim uma espécie de uma superioridade natural sobre mim. As luzes difusas, os ruídos abafados, o ambiente estranho, fazem com que dependa de ti mais do que gosto de admitir. É uma situação desconfortável para mim. Mas sinto-me bem lá em baixo. Gosto de me perder a procurar peixes e conchinhas, rochas e animais estranhos. Não gosto da sensação de perigo, de dependência. Isso nunca gostei. Por isso, obrigo-me a procurar-te, mais uma vez. Dás-me a mão, paternalista, controlas o meu oxigénio, perguntas por sinais se está tudo bem, respondo que sim, tudo ok. Mas mastigo esta desagradável sensação de depender de ti, quando na vida real dependo tão pouco.
Vejo passar um cardume de sargos. Brilham sob a luz filtrada do Sol, parecem pequenos espelhos voadores a insinuarem-se, ora perto ora longe de nós. Movem-se em unidade, são quase como um só, num bailado prateado e privado, só para mim. Penso outra vez "o que pensarão de nós?", mas sei que isso não interessa nada, porque não se consegue ter uma conversa filosófica com um peixe.
Mais tarde, já a caminho da superfície, libertando bolinhas, numa espécie de renascimento, voltando a respirar sem botijas, olho para ti novamente e já não sinto nada. Já não és mais, está tudo normal de novo. No barco comemos uma sandes deliciosa de atum e está tudo bem.

Como as crianças consomem pornografia

A pergunta da capa da Sábado da semana passada é apelativa q.b. para um adulto com filhos. Para um filho é ainda mais, como percebi ontem enquanto lia descontraidamente as primeiras páginas da revista depois do almoço e o meu filho se pôs aos meus pés a ler o dito título. Como não perguntou "o que é que isso quer dizer?", como faz sempre que encontra alguma coisa que não percebe, presumo que tenha percebido pelo resto do título "às escondidas dos pais" ou "sem os pais saberem", que era um assunto tabu e saiu envergonhado (obviamente sem perceber porquê) do pé de mim. Confesso que fiquei irritada e já não acabei de ler a revista.

08/07/11

Ó Diogo

Já tive tempo para pensar o que é que é que faz com que sinta tanta emoção por saber que partiste, além da óbvia questão de seres estupidamente novo para isso. Já remoí as vezes todas que nos encontrámos, desde que nos conhecemos em Nova Iorque há dez anos, e eramos sete ou oito enfiados na traseira de uma limusine à saída do aeroporto a rir o caminho todo. Lembrei-me do resto desses dias em que andámos a passear por essa cidade estrondosa e de todos os outros em que te encontrámos depois, fosse na rua a comprar prendas para alguém ou com hora marcada para a conversa. Desde uma monumental celebração prévia de um cargo que fizemos a quatro no Casanostra, para comemorar algo que depois não se efectivou, a mais um jantar muito divertido de onde saímos com dores na barriga de tanto rir.
E o que fica e que penso justificar o choque que sentimos quando soubemos que morreste é o sentido de humor, a inteligência e a intensidade que punhas em tudo.
Temos saudades.

07/07/11

Pequenas mentiras entre amigos

Brutal! Há meses que não vinhamos ao cinema e hoje tivemos uma borla, o que é super raro, e está a ser bom demais!

News of the world

A Inglaterra e o resto do mundo são apanhados de surpresa com o súbito anúncio do encerramento do tablóide inglês News of the world.
As nojentas escutas a particulares envolvidos em crimes violentos ou qualquer outro motivo foram só o passar de mais uma linha. Aliás, é muito isso que muitos jornais e revistas fazem cada vez mais todos os dias em maior ou menor escala. Expor o drama, suor, sangue e lágrimas de famosos e, cada vez mais, foi esse o caso do News of the world, também de particulares.
Com a medida de encerrar já o jornal, Murdoch, que não fica livre da investigação policial, eleva, contudo, a barra que andava a baixar demais.

06/07/11

Lixo?

E se largassem o osso, ó imbecis das agências? Nós somos cumpridores, estamos a tentar levantar esta porcaria, trabalhando mais e pagando mais impostos, parece que nem prendas no Natal vamos comprar (disclaimer: eu não tenho subsídio de Natal). Dá para irem chagar o Obama?

05/07/11

Veneno


Não costumo ser assim, mas será possível alguma foto mais pirosa? Esta é a fotografia oficial do casamento real do Mónaco. Bem sei que não têm grande sorte, porque a escadaria, só por si, já é super pirosa, mas escusavam de se postar assim nestas figurinhas ridículas. Acho.

04/07/11

Compulsiva

Há coisas em que acho que sou um bocadinho compulsiva. Ler livros bons é uma delas, mas não tenho pachorra para ler o que dizem os críticos. Gosto mais do boca-a-boca ou de ter pontaria, o que é mais difícil.
Depois de um conselho em que confio sempre, andava a adiar a leitura do livro "O jogo do anjo", de Carlos Ruiz Zafón, porque o exemplar que me emprestaram estava longe.
No fim de semana passado, deitei-lhe a mão e foi um ver se te avias. Despachei as 568 páginas num instante, presa nas descrições fantásticas e, confesso, um bocadinho assustadoras, da Barcelona do início do século passado feitas pelo autor.
Um bom romance, cinematográfico, mesmo como eu gosto.
Compulsivamente, como se preze, estou sentada sobre "A sombra do vento", do mesmo autor, de dedos cruzados, esperando não ter um desapontamento.
Foi assim que li todos os livros do João Aguiar, depois do conselho do professor de literatura portuguesa da faculdade - um dos poucos de que ainda me lembro.
Depois conto o que achei deste.

Bezerrinha de férias

A mais pequenita está de férias com os avós e com as primas desde ontem e, citando o pai, "a casa até parece que está vazia". O mais velho, de férias também, mas desportivas, quer fazer as rotinas da mana. É tão bom ter uma família.

Espelho para ti

Se nada mais indicasse que Portugal está em mais ou menos maus lençóis, agora são os portugueses que são expulsos de Angola.

01/07/11

Na paragem

Ponto de partida: Eu até gosto de andar de transportes.
Gostava de ter o metro de Londres à porta de casa. Não me importava de apanhar o funicular da Nazaré todos os dias. Não me importava, calculo, porque nunca lá estive, de apanhar o elevador para o Cristo Rei da Bahia. Gostava de andar de riquexó em Xangai, onde também nunca estive - mas um riquexó não é propriamente um transporte público...
O que eu não gosto é de estar à espera montes de tempo numa paragem onde o máximo que posso ganhar é pó e poluição. Snob? Honesta.
Aqui passam dois, três, cinco, 10 autocarros para os mais variados sítios e nenhum me levará a casa. Levantam-me a saia com um vento quente e peganhento e passam até à paragem seguinte. O relógio marca 10, 20, 30 minutos de espera, de tempo que já passou, de tempo que não estive com os meus filhos a comemorar o fim da escola.
Uma ambulância chega para socorrer uma senhora que se sentiu mal, terá tido uma quebra de tensão? Levava a filha ao colo, quando entrou no autocarro. A pequenita chora agora ao colo de uma rapariga que nunca mais vai ver. Ela bem tenta animá-la, mas ver a mãe envolta em bombeiros também me assustaria a mim e julgo que também berraria e esticaria os braços para tirar a distância entre nós, o vidro do autocarro que nos separa.
Finalmente aparece o 7, cheio de gente, vou de pé ao lado de uma bebé quase recém nascida. Tenho fome. Estou farta do dia.