31/10/08

Paciência

Porquê?

Porque é que hoje, caso uma página da net demore um bocadinho de mais a carregar ou caso o Multibanco tenha uma fila de três pessoas, ficamos logo super impacientes e reclamamos, nem que seja com os nossos botões da demora?

Não foi assim há tanto tempo que erámos capazes de ficar um grande bocado à espera que o jogo do ZX Spectrum entrasse. Por preguiça ou falta de ideia, ainda nunca tinha pesquisado por esta maravilha da tecnologia que fez parte de uns bons anos da minha infância - eu sei que é uma palavra foleira, mas o conceito de infância não tem outra palavra. Mas devia ter, uma palavra que soubesse a carrosséis e a algodão doce, a praia e a pés descalços.

Hoje procurei e lembrei-me mais uma vez das horas passadas a jogar ZX Spectrum. Jumping Jack Flash, Chuckie Egg, Jungle Trouble são alguns dos jogos que adorava e que estive hoje a recordar. Porque tenho tanto medo dos actuais jogos? Talvez por serem tão perfeitos e tão absorventes. No ZX Spectrum nada daquilo era realidade. Nós sabíamos que ao desligar o gravador íamos à nossa vida. Os actuais jogos são muito mais viciantes.

Também não foi assim há tanto tempo que para ir levantar dinheiro a minha mãe tinha de ir à terrinha ao lado com os quatro putos e ficar sei lá quanto tempo à espera de vez. Ainda só havia cheques...

Os anos 80 foram mesmo bons. Eu sei que os 70 também devem ter sido, não me lembro de muito, e os 90 também não foram nada maus, pelo menos na primeira metade. Os zeros (será que é assim que se chama a esta década em que estamos?) já são mais sérios, o tempo já é mais repartido com trabalho e portanto menos tempo é para brincar. Agora prefiro mil vezes brincar com os meus filhos na rua.

A notícia

Ao dar uma notícia podemos fazê-lo de imensas formas diferentes.

Pode ser em código, como quando soube que estava à espera do meu primeiro filho e disse à minha mãe e à minha irmã: "vem lá um Francisquinho", o que fez com que a minha mãe perguntasse: "mas quem é que é esse?".

Pode ser de uma forma alarmista, como quando ligamos para o nosso pai que está na América e dizemos: "cortei metade do dedo", quando apenas entalámos metade da falangeta numa porta, apesar de ter doído como tudo. O pior é que este alarmista vive comigo e já por diversas vezes tive de o proibir de dar más notícias, dando-as eu na sua vez, para não dar baques aos ouvintes.

Pode ser de uma forma dramática, como quando o meu avô nos disse: "tenho cancro", apesar de a sua idade avançada graças a Deus não ter permitido que fosse muito agressivo e o meu avô ter programado fazer cem anos no próximo mês de Maio.

Pode ser discretamente, para ninguém dar por nada: "hoje está um dia lindo, bati ligeiramente com o carro, amanhã podíamos ir jantar fora". Assim, suavemente, não dói tanto.

Ao dar uma notícia podemos fazê-lo de imensas formas diferentes. A maneira como o fazemos vai influenciar a reacção de quem a ouve. Por isso, por favor, quando tiverem de me dar notícias más, sejam gentis, não alarmistas e escolham bem as palavras. A reacção não pode congelar a acção que pode ser necessária a seguir.

28/10/08

Orientação profissional

Nos exames psicotécnicos do 9º ano, para escolher uma orientação profissional, saí com três áreas mais fortes. A engenharia electrotécnica não faço a mínima ideia com surgiu, mas era a primeira recomendação da psicóloga estagiária que me entrevistou na Faculdade de Psicologia. Penso hoje que ainda bem que não a levei muito a sério.

A segunda área forte foi Direito. Na altura fascinou-me essa ideia - deve ser influência das séries norte-americanas sobre advocacia. Por cá, o exercício do Direito não é minimamente parecido, arrastando-se por secretarias decrépitas e por requerimentos infindáveis e totalmente desinteressantes. Também tenho um avô juiz, que ficou muito contente com essa opção. Ainda bem que não a segui. Por várias razões, a principal de ordem prática.

Sou uma pessoa muito simples. Não tenho cabelo de advogada, eternamente alinhado e penteado e brilhante. Odeio ir ao cabeleireiro. Tenho geralmente o cabelo com jeitos que não consigo desfazer e uma tolerância muito limitada a saltos altos. Assim, nunca haveria de conseguir ser uma advogada de sucesso.

Já a psicóloga da escola tratava-me por Joaninha nas reuniões de orientação que eram feitas com dez alunos e penso que não me orientou muito apesar de olhar para nós com um ar muito profundo, de quem conseguia ver-nos até à alma. Na realidade já não me lembro. Sei que entre as duas psicólogas, escolhi jornalismo. É fácil perceber porquê. É uma profissão interessante, não há volta a dar-lhe. Os horários e os salários é que são para o baixito.

Adorei fazer os exames psicotécnicos porque sou tão cusca de mim mesma como das outras pessoas. Acabei por descobrir algumas coisas e por confirmar outras. Adorei responder a questionários intermináveis de cruzinhas e divertir-me. Mais com as perguntas do que com as respostas. Adorava saber o que diriam hoje de mim esses questionários se os fizesse.

De repente...

De repente...

A minha filha bebé
que ainda não tem dois anos
mas já aspira a comer chupa-chupas,
que não come,
que nunca gostou de chucha,
senão dois ou três dias

o que deve querer dizer que
na realidade,
não gosta de chuchas.

De repente,
hoje
apareceu com uma chupeta do primo
mais pequenino
de menos um ano que ela.
Feliz da vida
mas obviamente sem saber como se come aquilo.

Os putos são mesmo giros. E esta,
ainda por cima,
tem caracóis.

Quem sou eu?

Na aula de ontem tivemos de em dez/15 minutos preencher uma folha em branco com informações sobre nós. Isto é, cada um teve de preencher a folha para dizer quem era.

No final, tivemos de trocar de folha com outra pessoa que não conhecessemos e fazer uma avaliação dessa pessoa pelo que escreveu/desenhou... Fi-lo de uma forma absolutamente desinteressada - a rapariga com quem troquei estava sentada ao meu lado, penso que não emitimos boas vibrações uma para a outra, antes da folha ainda não tinhamos trocado uma palavra.

O professor (de psicologia) disse que valia tudo para fazer o trabalho, por isso a resposta a qualquer pergunta que começasse por "posso..." seria respondida com um "claro que pode".

Eu escrevi. É o mais fácil para mim. Também teria sido fácil fazer um desenho, mas ando num modo infantil de fazer patos e cães e motas e carros. Disse que tinha dois filhos, família, casada, jornalista, free-lancer, etc. Com bastantes espaços para não ter de pôr muita informação.

Obviamente, não pus na folha nada de privado, nada de pessoal, nada de meu.

A minha colega do lado fez uma série de desenhos, o centro era ela. Tinha aparentemente muita confusão na sua vida, uma família pouco estruturada, necessidade de evasão.

A minha colega do lado, sabiamente, disse que achava muito pouco definir-me assim, por coisas exteriores a mim, como a família e o trabalho. É claro que isso não me define, faz parte de mim, mas não sou eu. Eu sou uma pessoa que não gosta de partilhar facilmente o privado, o pessoal, o meu.

A conclusão é que é impossível definirmo-nos assim. Especialmente perante estranhos iguais a nós.

23/10/08

Brincar com as cores

Sempre adorei cores.

O azul sobre todas as cores, o anil pelo tom sonhador, o petróleo pelos tecidos e pelo petróleo em si nas candeias em Abrantes, o azul transparente do mar, o azul das Bic, o azul cueca do carro da faculdade que dizia "este carro não é azul cueca", o azul do céu, este é óbvio. O azul.

Adoro o branco. O branco que faz todas as pessoas ficarem lindas nas fotografias, com um ar super saudável e fabuloso.

Desde que soube que ia ter uma miúda, este também é óbvio, cor-de-rosa. Deixou de ser piroso e tornou-se amoroso. Foi a única maneira de o pai se convencer que íamos ter uma miúda e não um miúdo.

Ultimamente, mais por preguiça, uso montes de vezes preto. Porque é uma cor confortável, embora seja geralmente assumida como uma cor do poder - algo a que eu, de todo, não aspiro.

Ontem tive uma aula sobre cor, que adorei. CMYK, RGB, LAB et al. Logo falo mais sobre isso.

21/10/08

Igual aos outros

Hoje ao jantar comemos pizza. Depois de termos rapado o cabelo ao mais velho - a ideia era acabar com o breeding ground para os minúsculos e rápidos piolhos e sim, ficou cheio de peladas, hoje tenho de ir ao barbeiro. Na escola, não percebi se os pais ficaram mais chocados com os piolhos se com a qualidade do corte. Pobre miúdo, o que vale é que ainda é pequenino, não percebe.

Voltando ao jantar, quando há pizza, e eu adoro pizza e todos os miúdos adoram pizza, faz parte, reforço a quantidade de legumes na sopa e a sobremesa é fruta dupla ou tripla se estiverem com fome. Só para compensar e para ter a certeza que não estou a dar cabo do equilíbrio nutricional deles para sempre.

Acho que com estes problemas de consciência sou igual às outras pessoas todas. Noutro dia, o meu filho de quase cinco anos comeu pela primeira vez na vida um chipicao, que é igual ao bolicao só que sabe melhor. E também já fui com ele ao McDonald's. Não gostou, o que compensou o peso na consciência com que lá entrei. Devemos excluir os nossos filhos das experiências normais da idade, só porque temos uns quantos conceitos de segurança alimentar e de nutrição?

No fundo, no fundo, mais do que sermos todos iguais, acho que somos todos o mesmo. Daí a minha curiosidade pelas pequenas coisas e pelas vidas dos outros - se eles sou eu, então tenho de saber como vivem.

Aliás, um destes dias, hei-de falar sobre a minha religião, que assume que todos somos o mesmo, que todos somos Deus. Assim que me organizar em relação a isso.

20/10/08

É verdade...

Prometi fazer um post sobre isto, por isso, aqui vai: adorava que a minha vida tivesse banda sonora. Qualquer dia hão-de inventar um sistema que adapte a música às circunstâncias que vivemos. Eu sei que há o iPod e coisas do estilo - há dois cá em casa - mas não suporto barulho colado aos ouvidos.

Quando inventarem um sistema funcional, por favor, ponham uma música bem animada na minha vida. Acho que só isso faz com que ande mais feliz.

Nunca tive jeito para escolher música. Nunca sei os nomes dos cantores, dos grupos, das músicas. Sei cantar, vá lá. Mas só isso não é muito intelectual. Nem sequer sei dizer quais são as minhas dez músicas preferidas de todos os tempos, à la high fidelity, um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. Já me lembrei: Time of your life dos Green Day é das boas. Enjoy.

Enfim

Ando com uma vida mesmo fixe. Tenho projectos novos e super estimulantes. Ando a ter tempo para namorar. Ando a ter tempo para os meus amigos e para mim - há tanto tempo que não tinha tempo.

Nesta fase divertida, o meu filho mais velho anda um pouco contestatário - mal sabes tu meu querido que a minha adolescência está bem perto. Sabes, meu amor, há pouco tempo eu era como tu... Assim, pequenina e desafiadora. Mas agora tenho a tarefa de te ensinar os limites e de te explicar como funciona o mundo. Eu sei que às vezes não te apetece ir para a escola. Às vezes também não me apetece ir trabalhar. Às vezes também me apetece deitar a língua de fora a alguém e berrar "és má", mas já aprendi que isso não resolve nada.

"É a vida" - este o corolário mais parolo de qualquer frase, mas acaba por ser mesmo assim. Melhor só mesmo o do sr. Costa, dito sempre que alguém morre ou fica gravemente doente - "ninguém diga que está bem". Presumo que também o use quando alguém é despedido de uma maneira fulminante.

Portanto, ando contente. Eu sei que anda por aí uma crise tão grande, mas tão grande, que os senhores que nunca se preocupam com a economia andam muito preocupados. Obrigada monsieur Sarkozy pelo seu empenho. E façam lá com que tudo fique bem, ok?

16/10/08

O poder do mktg

Ficar uns bons bocados a olhar para as prateleiras do supermercado é algo que me acontece com alguns produtos. Geralmente fico irritada com isso porque não tenho nenhuma estratégia. Tenho uma amiga, esperta, que compra sempre o mais barato. Tenho outro amigo que acha que se não comprar nada está a contribuir para acabar com a sociedade de consumo... Impossível. Eu tento pensar duas ou três vezes se preciso mesmo do que estou a comprar. Nem sempre resulta. Se calhar não sou muito convincente... Ou então ando a rezar a um Deus distraído.


Shampou from Damon Stea on Vimeo.

14/10/08

Pelo menos uma

Se pelo menos uma pessoa ficar feliz da vida com algo que eu diga, acho que vale a pena dizê-lo. De há uns tempos para cá, acontece as palavras sairem da minha boca sem sequer as pensar e dou por mim a dizer coisas como: "estás grande", "estás mesmo gira", "essa roupa é excelente", "nem parece que acabaste de ter um bebé" ou "nem parece que estás grávida"... e por aí fora.

O que vale é que sinto mesmo o que digo. Não são balelas, até porque saiem, como disse, sem sequer pensar nelas. Gosto de ter assim um espírito cumprimentador.

Bem sei que sempre me preocupei em saber se as outras pessoas gostam de mim, até porque acho que a minha auto-estima não é só auto-estima, precisa de hetero-estima para estar em forma. Feitios...

Sei que há pelo menos uma pessoa que goza desta minha maneira de ser e que vai gozar ainda mais se souber que eu, ainda por cima, escrevo sobre isso. É a vida...

11/10/08

Dias diferentes

Daqui a dois dias vou voltar à escola, quase dez anos depois. Estou hype com isso, mas não tenho propriamente que fazer compras de material escolar. Nevertheless, comprei um caderno para tomar notas. Vão ser aulas práticas, de trabalho em computador. Estou feliz da vida.



... e hoje fomos à feira, há três anos que há feira por aqui. Eu adoro feiras. Os miúdos também. Ié!!!

01/10/08

Aos pares

Uma das coisas mais curiosas sobre os miúdos pequeninos é a sua enorme capacidade de terem pares ou outros múltiplos das mesmas coisas. São as colecções de pequeninhas coisas, como dinossaurozinhos, carrinhos e bonequinhas, ou mesmo cartas de jogar (são 54, não é?) e alimentozinhos em miniatura ou mesmo um copo cheio de lápis de cor (umas das minhas coisas preferidas).

E são os sapatos e as meias intermináveis que nunca jogam umas com as outras antes, durante e depois do circuito de lavagem e secagem da roupa.

A ideia é que os pares e outros múltiplos se encontrem uns ao pé dos outros. Mas é claro que os pares estão sempre separados. Alguém tem uma dica para pôr os miúdos pequeninos a arrumar os seus pares? Ou a deixarem de gostar de pares e outras coleções? Ainda não percebi como é que se faz - se calhar não se faz - mas resulta moderadamente quando arrumo com eles, mas é cá uma seca...

É que, cá em casa, todos estes pares são a dobrar. Às vezes dá para enloquecer, tanta é a tralha espalhada por toda a casa. Curiosamente, quando eles já estão a dormir, acho sempre ternurento ver um carrinho a espreitar debaixo do frigorífico ou encontrar uns sapatos de boneca dentro da minha mala. E aí, apetece-me deitar-me na cama com eles, a ouvi-los respirar tranquilamente (ainda que tenham o nariz entupido...) e cheirar os seus cheiros a champoo de pêssego e champoo sem cheiro para a pele sensível da mais pequenita.