31/08/10

Cuore

Vejo-a pouco, porque os meus olhos não costumam pairar sobre as revistas cor-de-rosa, mas a Cuore é a minha revista preferida. Aí, ninguém é perfeito, ninguém está perdidamente apaixonado, ninguém acaba de recuperar a excelente forma física apenas dois segundos depois de ter sido mãe. Aí, nessa revista que é publicada em vários países, as pessoas têm defeitos, têm joelhos de pessoas velhas, têm rugas, têm pança, celulite, fumam, andam despenteadas e sem maquilhagem... Enfim, são pessoas. E isso é o verdadeiro encanto da revista (que eu nunca comprei).

30/08/10

Eu quero uma

Tenho um amigo que admirava muito quando éramos pequenos, pelo simples facto de que tinha uma mala de mão de aspecto antigo que afinal era um rádio. Isto foi em 1980 e pouco, por isso ainda não havia walkman e coisas do género. E eu amava a mala/rádio dele.

Hoje vi num blog destes que recomendo à direita, o da Jordan Ferney, um post sobre as novas clutch da Kate Spade, senhora cujos produtos também admiro mas não consumo que isto aqui por casa as maletas são de tecido ou qualquer coisa igualmente barata. As clutch têm a forma de livros. Acho genial. E são lindas, além disso. Só têm um problema: custam 300 dólares.

Modos

Na semana passada, em Biarritz, descobri que há uma maneira simples de vigiar efectivamente as praias. Os nadadores salvadores, com ar de pequenos touros, concentram o maralhal em 20 metros de mar. Duas bandeiras azuis limitam a possibilidade de tomar banho. Quem sai das linhas de defesa leva um apito. Os surfistas que se aproximam dos banhistas levam um mega apito. O mar é mau, mas há quatro pares de olhos a fiscalizar tudo em permanência. Dá segurança.

Payback

E, como sempre, depois de sermos egoístas (ainda que com razão), recebemos o castigo divino. No meu caso, resultou na seguinte conversa que ouvi hoje de manhã entre o meu sobrinho minorca e a minha filha.
"pima, tu ontem imitaste à porta do café?"
"sim, vomitei", ar compungido.
"então vou-te comprar uma bola da kitty".
O amor entre primos é assim. E o payback também.

29/08/10

Hoje foi dia de compras

Hoje fui às compras para mim, sozinha. Comprei coisas muito giras, a pensar no fim do Verão, um casaco cinzento amoroso, umas sabrinas pretas, um pijama, umas cuecas, uma t-shirt. Não comprei uma única coisa para ninguém, isto é, passei por coisas de miúdos e não comprei nada para eles, nem um gancho, nem umas meias. Hoje de manhã fui egoísta. Fui só eu. Estava a precisar, depois de dois meses e tal só de meninos e trabalho e meninos self-centered.

Assim, sozinha, concluí que: em família, o equilíbrio de uns equivale ao equilíbrio de outros. O bem-estar de uns resulta mais facilmente no bem-estar dos outros à sua volta. Assim, tão simples.

26/08/10

Apertado

A simples ideia do que se está a passar com os 33 mineiros chilenos enterrados numa câmara de 50 metros quadrados a 700 metros de profundidade é aterradora. Devo ser um pouco claustrofóbica, porque não me aprazem muito os túneis, os locais apertados e exíguos, mas isto é mesmo demais. Pobres coitados.

Waka waka

A música deste Verão está a ser a Waka waka da Shakira. Acho que até já quase desloquei a anca para a imitar na dança. Os miúdos adoram. O delírio total foi quando na fantástica kiss fm galega apareceu a Shakira a cantar a música em castelhano. Deliraram.

"Sabes mãe, eu gosto muito da Shakira, porque ela canta muito bem"
Eu também gosto, é muito animada.
"E também gosto dela porque, além disso, é muito bonita".

25/08/10

Vejo-te

Vejo-te quando sais do mar a correr ou quando mergulhas com os olhos muito abertos não sei se com medo de ficar sempre na água. Vejo-te na galhofa e a brincar. Vejo-te nos ténis gigantes e nas calças justas. Desculpa mas é isso que vejo. Vejo-te e morro de saudades.

23/08/10

As flores

Logo pela manhã, enquanto os outros se afadigam a limpar as mesas com as toalhas de plástico às flores, penduram a roupa lavada nas cordas cor-de-laranja e se dirigem em rebanho para as casas de banho, eu enfeito a minha mesa da cozinha com flores frescas.
Aqui, no Verão, é difícil comprar pão e ovos pela manhã. Os turistas de dois dias compram tudo para poderem passar o dia na praia. Passam por aqui logo pela manhã - eu vejo pela minha janela do avançado da cozinha - com um saco cheio das baguettes e outro com o leite, queijo, tomate e alface.
Às vezes também me apetecia poder ir com eles até à praia, só um bocadinho. Mas a praia agora é diferente do que era quando eu era miúda. Antes, íamos à praia quase vestidos, a água daqui é fria, tremíamos quando o banheiro nos mergulhava dentro da água, uns a seguir aos outros, como patos a tomarem o banho. Ainda me lembro dos gritos dos outros miúdos. Como eles se devem lembrar dos meus.
Mas agora, com a quantidade de coisas que tenho de fazer, quase não me sobra tempo para ir até à praia. Acordar mais cedo do que os outros todos, para poder usar a casa de banho à minha vontade. Preparar o pequeno-almoço para nós os dois, aquecer o leite, misturar o café, preparar as torradas, fazer ovos mexidos, pôr a mesa. Começar a ver os outros a acordar, ensonados, despenteados, essa é a minha parte preferida. Quase nem me vêem. Mas eu vejo tudo. Aqui sei tudo o que se passa.
Depois, arrumar a mesa e a cozinha e tratar da roulotte. Arrumar tudo, varrer, tratar das roupas, sacudir os tapetes e começar a tratar do almoço. A seguir ao almoço repetir. Depois a sesta. E depois o jantar, arrumar de novo, apanhar um bocadinho da fresca da noite. E dormir. Não dá para ir à praia.

Lola

"Porque é que estás sentada no meu caminho?", pergunta a espanholita com um ar hiper insolente a fazer-me um ar superior.
Olá, estás boa? És muito bonita. Como te chamas?
Perdeu um pouco o pé, fez-me um sorrisinho derretido.
"Sou a Lola."
Mas continuou.
"Porque é que estás no meu caminho?"
Este caminho não é teu, é do parque de campismo e o senhor do parque disse-me para pôr aqui a minha tenda. Por isso, eu e a minha família vamos ser teus vizinhos. Quantos anos tens? Moras aqui?
"Quatro. Estou aqui de férias com a minha avó."
Ok, nós vamos embora daqui a dois dias, depois tens o teu caminho de volta, pode ser?

A avó, percebemos depois, é daquelas pessoas que liga a televisão quando acorda e desliga quando se vai deitar. Era mesmo a única fonte de barulho no pacato e familiar parque de campismo de Rodilles, zona de praias maravilha nas Astúrias, onde os miúdos se envolveram pela primeira vez numa muy tipica disputa Portugal/Espanha.

A avó, uma senhora pesadota que se apresentava com um lenço na cabeça à moda dos anos 50, tinha três actividades que lhe ocupavam o dia: conversar com as vizinhas (que não a gramavam muito), estar ao computador portátil (provavelmente no facebook) e tratar da neta.

Tratar da neta devia ser a tarefa que lhe dava mais gozo. Isto porque, enquanto os meus filhos estavam permanentemente enlameados de andarem a subir aos montes, às árvores e aos escorregas, tinham roupa estilo fato de treino para não termos pena de se estragar e andavam de chinelas da praia (acho que ainda estão coladas aos pés), a boa da Lola apresentava-se todos os dias com duas toilettes completas diferentes. De manhã com um ar mais informal mas, mesmo assim, com penteados elaborados ("ó mãe, esquecemo-nos da escova"). De noite, aparecia com ténis pretos de verniz e com tantos ganchos, pulseiras e colares que até a minha pirosa achava excessivo.

Neste parque de campismo vi também as cozinhas mais aprumadas que já alguma vez pensei ser possível haver no campo, com bancadas e electrodomésticos encastrados, com forno, fogão e micro-ondas e frigoríficos maiores do que aquele que tenho em casa. Tudo por 1.695 euros anuais.

Vida no campo

Miúda, é melhor calçares as sandálias.
"Mas porquê mamã?"
"Porque o chão está cheio de sílvias", dispara o irmão mais velho.

Just landed

Chegámos ontem à noite a casa depois de uma viagem directa de carro de mil quilómetros desde Biarritz, no Sul de França. Os miúdos portaram-se maravilhosamente, apesar de terem começado a alucinar quando entrámos em Portugal e, depois, quando passámos a zona de Abrantes.
A subida até Biarritz e ao espectacular parque de campismo Le Pavillon Royal sobre a praia foi uma semana de férias a acampar por uma série de parques do Norte de Espanha, que correu muito bem.
É claro que na primeira noite, na Galiza, em O Grove, custou um pouco a adormecer. O parque de campismo era barulhento e os miúdos estavam histéricos por estarem a acampar. A partir daí acalmaram e entrou-lhes na pele. Perto de O Grove, delirámos com San Vicente do Mar, um aldeia de férias deliciosa, onde comemos marisco barato barato.
O herói que esteve a praticar body surf na praia em Biarritz é que veio um bocadinho amassado, com o braço magoado. De resto, correu tudo às mil maravilhas.

13/08/10

Casa de doidos

Costumas dizer que, seja a que hora for, podemos sempre encontrar alguém acordado cá em casa. Há os que atacam nos filmes da televisão, há os que gostam de ir beber água, os que vão à casa de banho, os que vão ler para a casa de banho, os que vão espreitar à janela do cimo das escadas, enfim... de tudo um pouco.
Eu gosto de dormir. Gosto de não saber de nada disso. Gosto, como me tem acontecido ultimamente, de acordar com a sensação de ter dormido apenas cinco minutos, por ter dormido tão bem. Mas, às vezes, também acordo.
Costumas dizer que, se calhar, somos uma casa de doidos. E enquanto vos vejo a entrar no carro às duas da manhã para ir tratar do pequenino, a discutir como marretas, rio-me porque acima de tudo somos uma família de ciganos. Ou mosqueteiros, como quiseres. E eu adoro isso.

11/08/10

Hoje foi...

... Um dia de doidos. A partir do meio-dia, uns quantos enloqueceram. Berraram, brigaram, choraram, fincaram os pés no chão. Agora, finalmente, adormeceram todos.
A minha mãe diz "estava bem arranjada, com quatro, a serem tão esquisitinhos", para os desmotivar de serem chatos. Mas, sabe, mamã, ainda há dois dias o New York Times dizia que as memórias, de férias, por exemplo, anulam todas as pequenas areias na engrenagem, todas as birras e esquisitices. Que, ao fim dos anos, os pais se lembram de infâncias angelicais, de meninos penteadinhos e a cheirar a banho.
Hoje, com esta treta dos blogs, fica tudo gravado. Tudo tudo não. Algumas birras só. E, além disso, a pequenita ficou com um pontinha de febre e daqui a dois dias vamos usar a tenda gigante que, até há dois minutos estava estendida no jardim. Se ela ficar boa até lá, claro.
Fora isso, o mar estava um sonho - as horas na praia foram dentro dele, a brincar com as ondinhas e com os putos - felicidade suprema.

08/08/10

Quem é?

A minha irmã anda super curiosa para saber quem é o lonely pipe que aqui há tempos deixou um comentário muito simpático neste blog e que não se revelou. Por isso, please, apresente-se. Ela quer saber quem é. E eu também, já agora.

Dias do Demo

O Levante é um vento do Demo. Quando sopra com força, parece que alguma força maléfica está para se levantar. O mar fica encarpelado, o vento seco e quente, os mosquitos atacam com um força sanguinária, a tensão vem por aí abaixo. Razão tinha o avô João, pai do meu sogro, para andar irrequieto em dias de Levante. O vento quente que vem do deserto incomodava-o imenso. A mim também, porque me cheira sempre a coisas más, como fogos, terramotos, inquietação da terra. Não gosto do Levante.

06/08/10

Aventura em alto mar

Agora, que a nossa semana de férias sobre a água está prestes a terminar, percebo que as minhas perspectivas foram muito pessimistas. Imaginei dias difíceis, birras e complicações, mas correu tudo bem. Scrapes & bruises, cada um traz os seus, que isto do mar é sempre mais instável.
Hoje, ao fazermos a nossa última amarração em Portimão, o nosso timoneiro, o nosso grande líder, caiu à água. Ficámos a simpatizar bem mais com a de Lagos, é mais estruturada.
Amanhã regressamos, ainda há tempo para uns mergulhos e depois acho que como os destes dias dificilmente vamos ter mais. O tempo esteve um sonho. Os miúdos portaram-se muito bem. Mesmo considerando o dia do Inferno.

A ver o mar

Doem-me os pés. Aquele senhor está a olhar para mim de lado, de que é que eu me esqueci? Estes sapatos já deram o que tinham a dar, tenho de pedir à Conceição que me compre outros. A esplanada hoje está cheia, não devo ir para casa antes das três da manhã. Outra vez. Entrego umas amêijoas à mesa de esquina, acho que os tipos são suecos. Para a semana faz 20 anos que trabalho aqui. Despacho uma cataplana especial e duas massas de peixe. Nem tenho tempo de olhar para o mar. Assim que começa o Verão acaba-se o passeio. Durante o Inverno é pior, o restaurante fecha e vivo da agricultura. Parece muito mas é muito pouco, dá para dois. Desculpe, mas já não temos carapaus. Aqui está a sua conta, é cara? Pois temos de fazer em três meses o que nos faz comer em nove. Tenho 40 anos, não sei o que vou fazer a seguir. Para já, faço quatro turnos ao jantar e mais três ao almoço. E é o dia todo a tentar perceber o que é que eles querem. E eu?

04/08/10

Modo de vida

Por estes dias, dormimos em vê, lavamos os dentes com água do luso, arrumamos as coisas mal as usamos, passamos os serões ao ar livre, repetimos três vezes a chamada em vhf, compro e devoro duas ou três revistas por dia (mais um bolinho de amêndoa, o da forma de joaninha, por favor), e repetimos uns para os outros "isto é que é viver a vida".
Hoje, em especial, tivemos de simular que íamos pôr os putos no comboio para Lisboa, por mau comportamento e implicância militante. Entrámos na estação, onde estava muito fresquinho, e tudo. Depois, ficaram mais meiguinhos e tudo "ó mana" práqui, "ó mano" práli.
Quem disse que pais têm férias é como quem diz que dormiu como um bebé: o mais certo é não ter tido filhos ou já não se lembrar.
Está a ser muito fixe, não se assustem, os miúdos estão a delirar.
Será muito errado dizer-lhes que ás vezes tornam as férias num Inferno? Não deve fazer grande mal. A isso segue-se a pergunta "o que é um inferno?" e o meu ataque de riso inevitável. Passamos os dias dentro de água. Isso compensa.

Parece-me que...

Quando era pequenina, gozava com a divertida característica da minha mãe de ver pessoas conhecidas em toda a parte. Quem via mais eram os seus irmãos, que nós nos apressávamos a dizer que não eram os ditos. Mãe: estou igual. Bjs

03/08/10

Vamos a fazer um esforço

Quando se referem a tostas, os ingleses não se referem a toasties, nem a mix toast, nem sequer a mistical toast. Grilled cheese. Não é lógico mas nem tudo tem de ser lógico.