Logo pela manhã, enquanto os outros se afadigam a limpar as mesas com as toalhas de plástico às flores, penduram a roupa lavada nas cordas cor-de-laranja e se dirigem em rebanho para as casas de banho, eu enfeito a minha mesa da cozinha com flores frescas.
Aqui, no Verão, é difícil comprar pão e ovos pela manhã. Os turistas de dois dias compram tudo para poderem passar o dia na praia. Passam por aqui logo pela manhã - eu vejo pela minha janela do avançado da cozinha - com um saco cheio das baguettes e outro com o leite, queijo, tomate e alface.
Às vezes também me apetecia poder ir com eles até à praia, só um bocadinho. Mas a praia agora é diferente do que era quando eu era miúda. Antes, íamos à praia quase vestidos, a água daqui é fria, tremíamos quando o banheiro nos mergulhava dentro da água, uns a seguir aos outros, como patos a tomarem o banho. Ainda me lembro dos gritos dos outros miúdos. Como eles se devem lembrar dos meus.
Mas agora, com a quantidade de coisas que tenho de fazer, quase não me sobra tempo para ir até à praia. Acordar mais cedo do que os outros todos, para poder usar a casa de banho à minha vontade. Preparar o pequeno-almoço para nós os dois, aquecer o leite, misturar o café, preparar as torradas, fazer ovos mexidos, pôr a mesa. Começar a ver os outros a acordar, ensonados, despenteados, essa é a minha parte preferida. Quase nem me vêem. Mas eu vejo tudo. Aqui sei tudo o que se passa.
Depois, arrumar a mesa e a cozinha e tratar da roulotte. Arrumar tudo, varrer, tratar das roupas, sacudir os tapetes e começar a tratar do almoço. A seguir ao almoço repetir. Depois a sesta. E depois o jantar, arrumar de novo, apanhar um bocadinho da fresca da noite. E dormir. Não dá para ir à praia.
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