11/07/11

Mergulhar

Debaixo de água tens assim uma espécie de uma superioridade natural sobre mim. As luzes difusas, os ruídos abafados, o ambiente estranho, fazem com que dependa de ti mais do que gosto de admitir. É uma situação desconfortável para mim. Mas sinto-me bem lá em baixo. Gosto de me perder a procurar peixes e conchinhas, rochas e animais estranhos. Não gosto da sensação de perigo, de dependência. Isso nunca gostei. Por isso, obrigo-me a procurar-te, mais uma vez. Dás-me a mão, paternalista, controlas o meu oxigénio, perguntas por sinais se está tudo bem, respondo que sim, tudo ok. Mas mastigo esta desagradável sensação de depender de ti, quando na vida real dependo tão pouco.
Vejo passar um cardume de sargos. Brilham sob a luz filtrada do Sol, parecem pequenos espelhos voadores a insinuarem-se, ora perto ora longe de nós. Movem-se em unidade, são quase como um só, num bailado prateado e privado, só para mim. Penso outra vez "o que pensarão de nós?", mas sei que isso não interessa nada, porque não se consegue ter uma conversa filosófica com um peixe.
Mais tarde, já a caminho da superfície, libertando bolinhas, numa espécie de renascimento, voltando a respirar sem botijas, olho para ti novamente e já não sinto nada. Já não és mais, está tudo normal de novo. No barco comemos uma sandes deliciosa de atum e está tudo bem.

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