Há imagens, vistas ou imaginadas, que perduram na memória, surgindo ocasionalmente quando menos se espera. Tenho muitas boas imagens para puxar quando me apetece. As cores brilhantes do Verão em Abrantes, o cheiro da praia e a sensação aquática de estar mergulhada (que repetia durante o Inverno na banheira mergulhando a cabeça dentro de água durante forever, o que o meu filho mais velho também faz, ficando eu entre o enternecido a olhar para ele, sortudo que ainda cabe na banheira e o medo silencioso de pensar que já está sem respirar há muito tempo). Posso lembrar-me facilmente de fazer empadas com a minha avó ou de medir os centímetros todos da casa enorme dos meus avós que não conheci, procurando vestígios deles. Posso lembrar-me facilmente dos dias em que faltava à escola por ronha ou por estar doente e tinha direito a ficar em casa dos meus avós e do livro tristíssimo que o meu avô escritor traduziu do francês só para me poder ler e de ficarmos os dois tristonhos mas compinchas. Posso lembrar-me de comer comacompão com papos-secos ou de comê-los com açúcar e manteiga, ou de mergulhar o pão no leite, simplesmente para não ter de o beber.
Também me lembro dos meus pais novinhos e lindos, dos passeios fantásticos às retrosarias todas da Baixa em busca de botões com formas para calções ou vestidos novos. E de ver o meu filho e depois a minha filha pela primeira vez, será que vou ser capaz de fazer tudo bem? Não faço ideia...
Depois de voltar de Nova Iorque, onde simplesmente a-d-o-r-e-i ir, sempre que pegava na escova de dentes tinha flashbacks da viagem. Mas era só ao fim do dia, em casa. Quando lavava os dentes a seguir ao almoço no jornal não tinha a mesma sensação. Quando lavava os dentes de manhã antes de sair a correr para o trabalho nem pensar em pensar.
E depois há imagens más, que também se colam a nós e que era bom podermos esquecer. A última imagem má que tive foi a de uma cobra enroladinha no congelador de um tipo qualquer. É medonho, não consigo esquecer-me dela. A foto faz parte de um trabalho que adorava fazer, uma série de fotografias de frigoríficos e vale a pena ver a série toda. Já disse que sou curiosa das vidas das outras pessoas. Os frigoríficos podem ser super pessoais.
3 comentários:
O que lhe terá dito o meu:)???
O frigorífico é um armário danado de malandro .Eu que me sinto (sem dizer nada)muito contente comigo mesma por ter uma vocação especial para as arrumações ,não atino com o frigorífico .....nunca sei onde colocar o quê , misturo , troco de lugar ....tenho as instruções ali por perto ....é tão complicado como escolher formas certas para cada tipo de bolo.E esta ?
Por acaso não espreitei, mas o resto da casa também dá pistas sobre quem aí mora. A imagem que fica é de calma, organização e noção de decoração. De resto, quem tiver um frigorífico organizado atire a primeira pedra...
Adorei a sequência dos frigoríficos!!!
Há tempos o público tinha uma coisa desse género, ver o frigorífico das pessoas "famosas"...adorava ver.
Também tenho uma costela de cusca!
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