25/05/09

Imagens sugestivas

Há imagens, vistas ou imaginadas, que perduram na memória, surgindo ocasionalmente quando menos se espera. Tenho muitas boas imagens para puxar quando me apetece. As cores brilhantes do Verão em Abrantes, o cheiro da praia e a sensação aquática de estar mergulhada (que repetia durante o Inverno na banheira mergulhando a cabeça dentro de água durante forever, o que o meu filho mais velho também faz, ficando eu entre o enternecido a olhar para ele, sortudo que ainda cabe na banheira e o medo silencioso de pensar que já está sem respirar há muito tempo). Posso lembrar-me facilmente de fazer empadas com a minha avó ou de medir os centímetros todos da casa enorme dos meus avós que não conheci, procurando vestígios deles. Posso lembrar-me facilmente dos dias em que faltava à escola por ronha ou por estar doente e tinha direito a ficar em casa dos meus avós e do livro tristíssimo que o meu avô escritor traduziu do francês só para me poder ler e de ficarmos os dois tristonhos mas compinchas. Posso lembrar-me de comer comacompão com papos-secos ou de comê-los com açúcar e manteiga, ou de mergulhar o pão no leite, simplesmente para não ter de o beber.
Também me lembro dos meus pais novinhos e lindos, dos passeios fantásticos às retrosarias todas da Baixa em busca de botões com formas para calções ou vestidos novos. E de ver o meu filho e depois a minha filha pela primeira vez, será que vou ser capaz de fazer tudo bem? Não faço ideia...
Depois de voltar de Nova Iorque, onde simplesmente a-d-o-r-e-i ir, sempre que pegava na escova de dentes tinha flashbacks da viagem. Mas era só ao fim do dia, em casa. Quando lavava os dentes a seguir ao almoço no jornal não tinha a mesma sensação. Quando lavava os dentes de manhã antes de sair a correr para o trabalho nem pensar em pensar.
E depois há imagens más, que também se colam a nós e que era bom podermos esquecer. A última imagem má que tive foi a de uma cobra enroladinha no congelador de um tipo qualquer. É medonho, não consigo esquecer-me dela. A foto faz parte de um trabalho que adorava fazer, uma série de fotografias de frigoríficos e vale a pena ver a série toda. Já disse que sou curiosa das vidas das outras pessoas. Os frigoríficos podem ser super pessoais.

3 comentários:

anniehall disse...

O que lhe terá dito o meu:)???
O frigorífico é um armário danado de malandro .Eu que me sinto (sem dizer nada)muito contente comigo mesma por ter uma vocação especial para as arrumações ,não atino com o frigorífico .....nunca sei onde colocar o quê , misturo , troco de lugar ....tenho as instruções ali por perto ....é tão complicado como escolher formas certas para cada tipo de bolo.E esta ?

Joaninha disse...

Por acaso não espreitei, mas o resto da casa também dá pistas sobre quem aí mora. A imagem que fica é de calma, organização e noção de decoração. De resto, quem tiver um frigorífico organizado atire a primeira pedra...

Claudia disse...

Adorei a sequência dos frigoríficos!!!
Há tempos o público tinha uma coisa desse género, ver o frigorífico das pessoas "famosas"...adorava ver.
Também tenho uma costela de cusca!