Quase seguramente com o acordo ortográfico, contra o qual milito silenciosamente - acho que, como sucedeu com os euros, nunca vou aprender a usar correctamente as novas grafias e vou estar a fazer erros atrás de erros sem me aperceber -, a manhosa expressão pejorativa "caixa-de-óculos" vai perder os hífens.
Tenho preguiça para confirmar.
Lembrei-me que era dos insultos mais ofensivos que se podia fazer a alguém que usasse óculos ao ler a manchete do i de hoje, que diz que há crianças a serem incentivadas a usar óculos sem deles precisarem.
Quando éramos pequenos, ir ao oftalmologista significava quase sempre vir de lá com uma receitazinha para óculos, que motivariam a chacota dos colegas e (também um pouco) a vergonha própria.
Eram as dificuldades na visão, detectadas pelos pais, pelos professores ou pelo próprio, que motivavam a ida ao oftalmologista e mais nada (os médicos não eram um bem de primeira necessidade. Não havia dinheiro para sapatos, quanto mais). Por isso, havia queixas. Por isso, fazia sentido haver óculos.
Agora, de acordo com o i, parece que se fazem rastreios nas escolas e que as crianças passam a ter de usar óculos sem precisarem deles, o que pode agravar problemas que existam.
É tão importante confiarmos nos nossos filhos e reagirmos às suas queixas e não sermos hiperactivos e fazermos tudo o que supostos técnicos nos aconselham. Daí também a importância de uma segunda (ou terceira) opinião.
Eu devo ser muito casmurra, porque corri os oftalmologistas todos de Lisboa para encontrar um que resolvesse um problema nos olhos da minha filha. Inclusivamente uma especialista em Campo de Ourique, que vinha com recomendação para pediatria, que era uma besta e que disse que não a ia tratar porque eu já tinha falado com um colega dela, portanto não seria ético, mas que nos tratou (eu mais dois putos) como se fossemos imbecis. E, no fim, cobrou a consulta.
Além disso, tinha uma casa de banho que era um nojo. Casa de banho, sem hífen.
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