26/09/11
Toy story
Estou nesta casa minúscula desde que cheguei a Londres. Não procurei ainda uma maior. Não é por falta de dinheiro. É por falta de paciência, por me lembrar ainda dos caixotes que trouxe de Portugal e para os quais já tive de encontrar lugar uma vez. Não me apetece fazê-lo outra vez.
O meu pai diz que é desinteresse, a minha mãe desleixo. Who cares?
A única coisa boa que a casa tem é ser perto do metro, o que, em Londres, quer dizer perto de tudo. Além de não ser muito gelada no Inverno, por causa do aquecimento central, que foi a única exigência que fiz ao homenzinho curioso da agência imobiliária.
Nunca fui dada a frios, gosto de ter calor, esse foi o único factor que me fez torcer o nariz durante tanto tempo ao convite para vir para cá. Eles acharam que eram questões salariais - lucky me. Vim ganhar muito acima daquilo que valho, o que só pode ser uma correcção ou uma espécie de justiça cósmica face às merdas que tenho tido na vida.
"Há quem tenha pior", diz a minha tia velhota, que julga assim conseguir corrigir todas as infelicidades do mundo. Não consegue, sendo, ela própria, uma pessoa vagamente infeliz, com uma casa ensombrada por pesados cortinados de veludo e mobílias igualmente tristes e escuras.
Na minha casa minúscula, quando está sol e é Inverno, com o tal aquecedor ligado, quase consigo sonhar que estou em Portugal. Sim, que isto de ser expatriado é chique mas dói no fundinho da alma. Custa quando o trabalho chega ao fim e ficamos sozinhos num sítio onde quase ninguém é igual a nós. No final do próximo ano termina a minha aventura por aqui e, como não me perdi de amores por nenhum príncipe, devo regressar a casa.
Mas aí, também eu já não vou ser igual.
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