15/09/11

O som do teu silêncio

Está a chover baixinho há mais de 12 horas. Não consigo ir lá fora buscar a roupa que tinha posto a secar. De noite, desde há uns dias, ouço o telefone tocar de maneira cada vez mais aflitiva - apesar de o som ser o mesmo desde sempre. Ouço, com o coração a bater com força, o carro da polícia, uma ambulância, o carro dos bombeiros. Passam e afastam-se com o seu lamento estridente. Ouço um trovão, escondida debaixo dos lençóis. Ouço-te bater a porta de casa. Ouço o elevador arrastar-se pelos carris. Ouço o silêncio que fica quando sais. O frigorífico recomeça a fazer barulho, depois estremece e, de repente, fica calado. A máquina da roupa continua a rodar a 600 rotações, para acabar de lavar a roupa que trouxeste hoje de manhã do trabalho. Ouço-me a pensar que tenho de arrumar a casa, tirar a roupa molhada da corda, espalhá-la pelas cadeiras da cozinha e pelos toalheiros da casa de banho, fazer o jantar só para mim. Ouço-me a chorar baixinho. Ouço-me a recomeçar - no mesmo sítio - todos os dias. Há quantos anos...

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