Uma das partes preferidas das minhas rotinas nocturnas é ir ver se os miúdos estão tapados antes de me ir deitar. Adoro vê-los com os cabelos espalhados pela almofada ou pela cama, com o ar pacífico que não deixa adivinhar as diabruras do dia, as almofadas enroladas no corpo, quando estão virados do avesso com a cabeça no sítio dos pés... Adoro dar-lhes beijinhos e dizer que os adoro em surdina, sem mais ninguém ouvir, só os cérebros pequeninos que registam tudo, até o bater de asas de uma mosca de Verão.
Hoje, depois de ter desenleado a minha filhota, de ter tapado os pés da sobrinha mais velha e de ter ouvido o ressonar tranquilo da sobrinha mais pequena, depois de ter espreitado para a cama de grades do meu sobrinho e vê-lo a dormir com o ar pândego que tem durante o dia, cheguei à cama do meu filho. Eles dormem numa camarata, onde há lugar físico para sete, e todas as noites antes de adormecerem é uma galhofa, eu ralho, mas rio-me a lembrar-me das minhas galhofas com irmãos e com primos. O meu filho estava enrolado num edredão que, como com o fato de surf dentro de água, lhe dá uma sensação de segurança enorme (comigo também era assim, enrolava-me muito bem nos lençóis e puxava os cobertores para cima, deixava só o nariz de fora para poder respirar e fechava os olhos com força para não ver os monstros que havia debaixo da cama e eles não me verem ou se me vissem para me devorarem de uma só vez sem eu me aperceber).
Puxo o edredão para trás e na obscuridade do quarto vejo que tem as pernas cruzadas e os chinelos novos que o pai lhe trouxe calçados. É tão bom ter presentes.
31/07/09
A reflama
... e, porque me esqueci ontem, o meu filho mais velho pergunta com os olhos muito abertos "quando é que o pai se reflama?". Não percebo imediatamente o que quer dizer a pergunta e ele explica melhor "quando é que o pai se reflama, assim como os avós?".
Já sei, queres o papá sempre de férias, a ir para a praia e sempre ao pé de nós.
Já sei, queres o papá sempre de férias, a ir para a praia e sempre ao pé de nós.
Uma rapidinha
A correr, só para não dizer que não venho cá:
- a + pequena já sabe andar de bicicleta com rodinhas (a 200 kms por hora) e atravessa a piscina toda a nadar à cão (com braçadeiras);
- o + crescido já não tem medo das ondas e gosta que o chamemos de "o surfista";
- às vezes é "enrobolado" pelas ondas mas não se queixa;
- a sobrinha mais pequena canta pela casa toda "olha a bola chouriço a merenda" a imitar o homem das bolas de berlim;
- o + pequeno vai ser beijoqueiro;
- a + velha gosta de organizar o pessoal;
- os miúdos todos abriram um negócio (Tartaruga dos cinco), incentivado pelas mães, que assim os vêem entretidos e a trabalhar em conjunto. Vendem enfeites, brincos, pulseiras, colares e porta-chaves. Já estão a facturar super orgulhosos de si mesmos;
- os dias de praia têm estado geniais.
- a + pequena já sabe andar de bicicleta com rodinhas (a 200 kms por hora) e atravessa a piscina toda a nadar à cão (com braçadeiras);
- o + crescido já não tem medo das ondas e gosta que o chamemos de "o surfista";
- às vezes é "enrobolado" pelas ondas mas não se queixa;
- a sobrinha mais pequena canta pela casa toda "olha a bola chouriço a merenda" a imitar o homem das bolas de berlim;
- o + pequeno vai ser beijoqueiro;
- a + velha gosta de organizar o pessoal;
- os miúdos todos abriram um negócio (Tartaruga dos cinco), incentivado pelas mães, que assim os vêem entretidos e a trabalhar em conjunto. Vendem enfeites, brincos, pulseiras, colares e porta-chaves. Já estão a facturar super orgulhosos de si mesmos;
- os dias de praia têm estado geniais.
26/07/09
Zzzz
Há dois dias consegui, pela primeira vez num mês de férias com os miúdos, estar 15 minutinhos deitada na minha toalha azul. Deitei-me e fechei os olhos como gosto de fazer desde sempre. O fechar de olhos que permite aguçar os sentidos, que faz com que sinta melhor o que está à volta. Gosto do cheiro do mar, gosto do cheiro da areia, gosto dos barulhos da praia, do ronronar das ondas, dos gritos das crianças, dos pregões dos vendedores de bolas de berlim e gelados...
Todos os dias penso que me apetece comer uma bola de berlim com creme, mas não como. Comer bolos na praia não é grande ideia.
Ouço tudo. Gosto da proximidade da areia, do contacto com a leve ondulação da areia sob a toalha. Do toque da toalha, super macia. Abro os olhos, repostos que estão todos os sentidos. Acima o ceú, lindo, de Verão, com umas leves nuvens. Mas ao fim de um bocado, não sou eu que olho para cima para o ceú, estando afinal debruçada de cima a olhar para as nuvens que estão lá em baixo, no fim da imensidão de azul. Gosto de sentir e de provocar estas mudanças de ponto de vista. São fundamentais para aceitar coisas diferentes.
Os 15 minutos passaram a correr, como passa sempre o tempo em paz. E voltou a agitação, vamos jogar à bola, vamos fazer surf, vamos vestir o fato, vamos tirar o fato, embrulha-me na toalha, quero tirar o fato de banho, vamos tomar banho, tenho fome, tenho sede, quero fazer xixi, não quero ir embora, não quero ficar. Cinco cabeças com ideias tontas.
Todos os dias penso que me apetece comer uma bola de berlim com creme, mas não como. Comer bolos na praia não é grande ideia.
Ouço tudo. Gosto da proximidade da areia, do contacto com a leve ondulação da areia sob a toalha. Do toque da toalha, super macia. Abro os olhos, repostos que estão todos os sentidos. Acima o ceú, lindo, de Verão, com umas leves nuvens. Mas ao fim de um bocado, não sou eu que olho para cima para o ceú, estando afinal debruçada de cima a olhar para as nuvens que estão lá em baixo, no fim da imensidão de azul. Gosto de sentir e de provocar estas mudanças de ponto de vista. São fundamentais para aceitar coisas diferentes.
Os 15 minutos passaram a correr, como passa sempre o tempo em paz. E voltou a agitação, vamos jogar à bola, vamos fazer surf, vamos vestir o fato, vamos tirar o fato, embrulha-me na toalha, quero tirar o fato de banho, vamos tomar banho, tenho fome, tenho sede, quero fazer xixi, não quero ir embora, não quero ficar. Cinco cabeças com ideias tontas.
22/07/09
Enquanto isso...
Percebo agora que enquanto eu estive quieta, agarrada à minha ideia de casa, toda a gente andou despreocupadamente na borga e a fazer inter-rails e a acampar. Enquanto me afastei dos meus amigos ou eles se afastaram de mim por eu estar a olhar para dentro muitas amizades esmoreceram. Enquanto ficava especada em frente aos livros sem conseguir ler o que diziam e as letras bailavam embaciadas pelas lágrimas que corriam pela minha cara sem que ninguém o percebesse o mundo mudou. Enquanto falavam comigo as palavras corriam pelos meus ouvidos pelo meu cérebro e saíam com gigantescos pontos de interrogação em cima, dizia coisas que não fazia ideia ter dentro da minha cabeça e defendia posições nas quais nunca tinha pensado. Via-me de cima, de fora, de lado. Nunca por dentro.
A cabeça é um lugar estranho. A voz quando vive alheada da cabeça ainda é mais.
Em 1995 o mundo parou ou deu sete voltas de uma vez. Nem sei bem. A mesa deixou de ter seis lugares. A porta deixou de se abrir da tua maneira. Os teus recortes de jornais deixaram de andar pela casa.
O mundo demorou mais ou menos dez anos a voltar ao seu ritmo normal. Foi preciso os miúdos chegarem para a gaveta onde guardo os teus recortes ficar mais tranquila. Gosto de tirar de lá bocadinhos de ti/de mim e expo-los à frente de todos. Estou sempre a falar de ti, sempre que posso, sempre que faz um pequeno cabimento nas conversas. Falo de ti aos primos e aos tios nos casamentos, falo de ti aos amigos, sublinho-te em casa, falo de ti às senhoras do cabeleireiro ou da depilação... Sinto-lhes o constrangimento, mas não me atrapalho. Continuo a conversa como se nada fosse.
Quando tu morreste eu também morri. Morremos todos um bocadinho. Temos saudades percebes?
A cabeça é um lugar estranho. A voz quando vive alheada da cabeça ainda é mais.
Em 1995 o mundo parou ou deu sete voltas de uma vez. Nem sei bem. A mesa deixou de ter seis lugares. A porta deixou de se abrir da tua maneira. Os teus recortes de jornais deixaram de andar pela casa.
O mundo demorou mais ou menos dez anos a voltar ao seu ritmo normal. Foi preciso os miúdos chegarem para a gaveta onde guardo os teus recortes ficar mais tranquila. Gosto de tirar de lá bocadinhos de ti/de mim e expo-los à frente de todos. Estou sempre a falar de ti, sempre que posso, sempre que faz um pequeno cabimento nas conversas. Falo de ti aos primos e aos tios nos casamentos, falo de ti aos amigos, sublinho-te em casa, falo de ti às senhoras do cabeleireiro ou da depilação... Sinto-lhes o constrangimento, mas não me atrapalho. Continuo a conversa como se nada fosse.
Quando tu morreste eu também morri. Morremos todos um bocadinho. Temos saudades percebes?
21/07/09
Sim... também estou de férias
Tenho tido inspiração diária para aqui vir, mas estou em modo férias, apesar de estar a trabalhar. Portanto, estou a fazer uma dieta de computador - e está a saber-me muito bem. Tenho muitas fotos giras para partilhar, mas estou com preguiça. Bons dias de praia.
09/07/09
Assim sim
Hoje acordei com as unhas dos pés pintadas de vermelho vivo.
O meu mini-aspirador cheira a chocolate.
Os meus filhos gostam de brincar aos playmobis.
Encontrei uma amiga de manhã.
Assim sim.
O meu mini-aspirador cheira a chocolate.
Os meus filhos gostam de brincar aos playmobis.
Encontrei uma amiga de manhã.
Assim sim.
08/07/09
Dormir mal e pessoas fixes
Não sou a pessoa mais original do mundo ao dizer que odeio dormir mal. Não sou a pessoa mais original do mundo ao dizer que ter filhos equivale a dormir mal às vezes. Com sorte, no meu caso, isso é muito raro. Hoje e ontem foi assim.
Hoje troco caracteres uns pelos outros e sinto-me assim como o Lobo Antunes ou o Pedro Paixão que dizem que escrevem sem saber muito bem o que vai sair. No caso deles saem coisas fixes, no meu caso saem letras tortas e palavras que não querem dizer nada e estou constantemente a apagar erros.
Quando durmo mal geralmente tenho menos paciência. Odeio quando estou com pouca paciência. Curo-me quando converso com pessoas fixes ou quando consigo relaxar durante uns dez minutos. Adoro ter a cabeça cheia de projectos. Odeio andar preocupada com gripes estúpidas e o unknown.
Hoje troco caracteres uns pelos outros e sinto-me assim como o Lobo Antunes ou o Pedro Paixão que dizem que escrevem sem saber muito bem o que vai sair. No caso deles saem coisas fixes, no meu caso saem letras tortas e palavras que não querem dizer nada e estou constantemente a apagar erros.
Quando durmo mal geralmente tenho menos paciência. Odeio quando estou com pouca paciência. Curo-me quando converso com pessoas fixes ou quando consigo relaxar durante uns dez minutos. Adoro ter a cabeça cheia de projectos. Odeio andar preocupada com gripes estúpidas e o unknown.
06/07/09
Preciso de uma goma!!!
E é já!!!
"mãeeeee, preciso de uma vassoura"
Engulo em seco, tentando lembrar-me da última vez que a minha filha mais pequenina me tinha pedido tal coisa, nunca, uf, que alívio, lembro-me, no entanto, de quando o meu filho crescido a pediu, hoje de manhã, tinha migalhas por todo o quarto de brincar do tio Pedro. Ups. Que cenário me espera? Vem a correr ter comigo e estica-me a mão, em jeito de 'bora lá ser amigas do parque infantil.
"Então conta lá: achas que a mamã vai ficar muito ou pouco chateada contigo?"
"Pouco"
Claro que é pouco, se foi a última hipótese que dei é essa que ela vai repetir. Respiro fundo enquanto vamos pelo corredor fora tão amigas, por tão pouco tempo. Calma. Pode nem ser nada demais.
Só que o azul clarinho do chão da cozinha parece que foi usado para fazer transplante de vasos. O conteúdo da lata de chocolate em pó da Nestlé, aquele delicioso que se chama chocolate quente acho, estava parcialmente espalhado pelo chão. A lata estava já muito arrumadinha em cima da mesa e, palpita-me que tenham sido as mãos dela a fazer os circuitos turísticos que identifico no chocolate. É claro que não ficamos zangadas, quem me dera um chão inteiro de chocolate em pó para me deitar enquanto brinco convosco, mas tenho de te pôr uns minutos de castigo, enquanto me rio às escondidas e limpo a confusão. Ao menos o meu aspirador manual agora cheira a chocolate.
Acho que estamos oficialmente na fase das asneiras da besnica.
"mãeeeee, preciso de uma vassoura"
Engulo em seco, tentando lembrar-me da última vez que a minha filha mais pequenina me tinha pedido tal coisa, nunca, uf, que alívio, lembro-me, no entanto, de quando o meu filho crescido a pediu, hoje de manhã, tinha migalhas por todo o quarto de brincar do tio Pedro. Ups. Que cenário me espera? Vem a correr ter comigo e estica-me a mão, em jeito de 'bora lá ser amigas do parque infantil.
"Então conta lá: achas que a mamã vai ficar muito ou pouco chateada contigo?"
"Pouco"
Claro que é pouco, se foi a última hipótese que dei é essa que ela vai repetir. Respiro fundo enquanto vamos pelo corredor fora tão amigas, por tão pouco tempo. Calma. Pode nem ser nada demais.
Só que o azul clarinho do chão da cozinha parece que foi usado para fazer transplante de vasos. O conteúdo da lata de chocolate em pó da Nestlé, aquele delicioso que se chama chocolate quente acho, estava parcialmente espalhado pelo chão. A lata estava já muito arrumadinha em cima da mesa e, palpita-me que tenham sido as mãos dela a fazer os circuitos turísticos que identifico no chocolate. É claro que não ficamos zangadas, quem me dera um chão inteiro de chocolate em pó para me deitar enquanto brinco convosco, mas tenho de te pôr uns minutos de castigo, enquanto me rio às escondidas e limpo a confusão. Ao menos o meu aspirador manual agora cheira a chocolate.
Acho que estamos oficialmente na fase das asneiras da besnica.
02/07/09
O menino de ouro
Tenho visto por todo o lado o novo outdoor do PS, a antecipar as próximas eleições legislativas. Nem sei o que lá diz. Concentro-me nas caras que fazem parte da composição. E pergunto-me: é raiva que põe vermelhos os senhores à direita? É enjoo que põe verdes os senhores à esquerda? É que o Sócrates, amarelinho, já toda a gente sabe que é o menino de ouro. Aqui em versão esfera armilar. Que outdoor mais piroso.
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