31/07/09

Que doçura

Uma das partes preferidas das minhas rotinas nocturnas é ir ver se os miúdos estão tapados antes de me ir deitar. Adoro vê-los com os cabelos espalhados pela almofada ou pela cama, com o ar pacífico que não deixa adivinhar as diabruras do dia, as almofadas enroladas no corpo, quando estão virados do avesso com a cabeça no sítio dos pés... Adoro dar-lhes beijinhos e dizer que os adoro em surdina, sem mais ninguém ouvir, só os cérebros pequeninos que registam tudo, até o bater de asas de uma mosca de Verão.
Hoje, depois de ter desenleado a minha filhota, de ter tapado os pés da sobrinha mais velha e de ter ouvido o ressonar tranquilo da sobrinha mais pequena, depois de ter espreitado para a cama de grades do meu sobrinho e vê-lo a dormir com o ar pândego que tem durante o dia, cheguei à cama do meu filho. Eles dormem numa camarata, onde há lugar físico para sete, e todas as noites antes de adormecerem é uma galhofa, eu ralho, mas rio-me a lembrar-me das minhas galhofas com irmãos e com primos. O meu filho estava enrolado num edredão que, como com o fato de surf dentro de água, lhe dá uma sensação de segurança enorme (comigo também era assim, enrolava-me muito bem nos lençóis e puxava os cobertores para cima, deixava só o nariz de fora para poder respirar e fechava os olhos com força para não ver os monstros que havia debaixo da cama e eles não me verem ou se me vissem para me devorarem de uma só vez sem eu me aperceber).
Puxo o edredão para trás e na obscuridade do quarto vejo que tem as pernas cruzadas e os chinelos novos que o pai lhe trouxe calçados. É tão bom ter presentes.

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