17/07/12

Nas ruas de Lisboa

Está um calor peganhento e mesmo os calções me parecem de mais, excepto quando tenho de me sentar nos bancos de napa do táxi que me traz à fisioterapia, onde fico com as pernas coladas no fim da corrida.
Nesta zona, onde chego uma boa meia hora adiantada, deve ter sido largado um camião de indigentes profissionais, que está a montar o espectáculo.
Uns preparam-se para vender coisas contrafeitas em pouco discretos sacos de plástico pretos, um outro poisa a bengala e senta-se no chão, sobre uma almofada e com uma fotografia da família na mão, ensaia a posição e o chorinho e aquilo sai-lhe direito.
Uma cigana vem na minha direcção, eu estou seguramente com um ar desconsolado, dormi muito mal e acordei a sentir que me tinha passado um camião por cima. Aproxima-se de mim, eu não estou propriamente a vê-la, mas devo reagir ao seu sorriso e ela interrompe-me.
"Bom dia, menina"
Bom dia. Diga.
"Menina, deixe-me ler-lhe a sina. A menina está com um mau olhado."
Livra, se o raio da mulher tem razão estou tramada, mas eu não acredito em superstições. Acredito que todos temos um anjo da guarda ou qualquer coisa boa a tomar conta de nós.
"Deixe-me ler-lhe a sina. Eu já vi que há um homem que a quer fazer feliz."
Pois há. Obrigada mas não quero que me leia a sina.
Livra.

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