29/10/09

Viver por quem perdemos

António Lobo Antunes diz numa entrevista na SIC que "temos de continuar a viver por aqueles que perdemos" ou qualquer coisa do estilo. Que a relação que temos com as pessoas de quem gostamos continua a evoluir depois de eles morrerem. Que "a certa altura, temos mais mortos do que glóbulos no sangue". Adorei o conceito.
Gosto muito de Lobo Antunes, especialmente das crónicas, os livros não sei se alcanço bem o que diz, se calhar peguei n' "Os cus de judas" ou na "Memória de elefante" antes de tempo. Adoro as crónicas que faz sobre as casas das pessoas, sobre os amores envelhecidos ou perdidos, sobre os naperons e os bibelots sobre a televisão. Daquela ideia que usa muito que é sempre um menino a ver o mundo.
Eu também sou uma miúda pequenita a ver o mundo, muitas vezes ainda não chego ao topo da bancada do café onde tento, sem sucesso, pedir cinco pastilhas Gorila de banana. Também às vezes me sinto como a miúda que se esquecia de ir à casa-de-banho, por estar tão entretida a brincar na rua aos polícias e ladrões, que fazia xixi pelas pernas abaixo e depois morria de vergonha. Ter cinco anos e começar a ter memória é lindo. Vejo hoje isso no meu filho. Já tenho memória das coisas que fazia quando tinha a idade dele. Quem me dera dar-lhe boas memórias.

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