11/06/11

O tio Zé

Fosse por uma agenda muito organizada ou por uma memória prodigiosa (prefiro pensar que era a segunda), o meu tio-avô Zé nunca se esqueceu de assinalar as datas mais importantes ou de se associar a nós nas mais tristes. Fosse nos aniversários, ou quando passava um ano, ou dois, ou mesmo 30 de uma data importante, lá tocava o telefone e, do outro lado, a voz reconfortante do tio de cabelos brancos, sempre super elegante.
O tio Zé era sempre dos primeiros a aparecer quando alguém precisava, sempre bem disposto, sempre pronto a conversar. Enfiava o braço no nosso e levava-nos para uma conversa de tio-avô-tipo-avô. Era uma daquelas pessoas com quem não importava o tempo que passou, bastava começar e a conversa retomava exactamente onde a tínhamos deixado. E era muito bem disposto e tinha um sentido de humor dos que eu gosto. Brincava até quando, ao atender o telefone, recordava "filha, fala mais alto que o tio não te ouve".
O meu tio atleta, que até há bem pouco tempo era assíduo frequentador do ginásio - onde diz que deixou muitas saudades quando entregou o cartão de sócio -, que jogava golf e desafiava os sobrinhos e os sobrinhos netos para umas partidas. E, se calhar, ganhava.
O meu tio viajante, que tinha muito mundo dentro. O meu tio que morreu anteontem, aos 94 anos. O meu tio General.

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