Sempre adorei aquelas árvores enormes que se espalham pelos campos, com uma copa muito larga que serve para proteger toda a gente do Sol de Verão. Há pessoas que são assim (como a minha mãe). Eu não sou, mas gostava de ser. Para já, sinto umas raizes compridíssimas que me ligam aos meus filhos, à minha família, à minha casinha... Mas ainda preciso de crescer muito. Trabalhar, ter filhos, pagar a conta da luz, da água e do telefone não são suficientes.
Acho que nunca vai acontecer olhar para o espelho e ver uma senhora crescida. Vejo sempre a mesma miúda. Sempre a mesma. Passar de filha para mãe é um salto enorme, mesmo querendo-o de todo o coração não se está preparado.
Agora que estou prestes a partir, deixando-os com os meus pais e irmãos, encho-me de dúvidas, de pequenas ansiedades. Ficam entregues ao melhor colo em que podiam ficar, mas não é fácil.
Da primeira vez que fui, quando o meu filho já tinha um ano e tinha deixado de mamar, voltei um dia antes de um fim-de-semana em Madrid. Nas ruas da cidade que adoro só vi carrinhos de bebés, bebés e crianças. Não consegui ver mais nada.
Depois, já tinha ele três anos, cinco dias em Londres e, aos três anos e meio, grávida da mais pequena, seis dias em Estocolmo. Desta vez já não me custou. Ele já era independente, já fui sem o coração nas mãos. Pude gozar as duas cidades calmamente - nunca perdendo, obviamente, a mania de contar cabeças e de me sobressaltar de cada vez que o fazia. Geralmente tenho de contar cinco cabeças, os meus filhos e os meus sobrinhos. Temos a mania de andar em bando. É uma das coisas que me deixa mais feliz.
Admiro com uma ponta de inveja os pais que são capazes de deixar os filhos pequenos e ter o passaporte cheio de carimbos de locais exóticos. Acho que voos de ligação ou 26 horas num avião não combinam comigo e com a minha maneira de viver. Sei que há bungalows lindíssimos em Bora Bora, sei que as paisagens e a tranquilidade são irrepetíveis. Sei isso tudo. Mas nem pensar em deixá-los. O máximo que admito é uma viagem de três ou quatro horas de avião. Não suporto a ideia de não poder chegar ao pé deles rapidamente.
Adoro ir e adoro poder de vez em quando ir sem eles, recuperar rotinas, ir sair, deitar tarde, não ter de andar com o protector solar atrás, comer sem horas, lanchar só porcarias, beber.
Adoro voltar.
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