Tenho uma amiga que é artista. Recupera coisas lindas, como igrejas e palácios e pinturas. Ela não se vê como eu a vejo, com a "inveja" de quem gostava de saber fazer com as tintas metade das coisas que ela sabe. Tenho a sensação que ela se vê mais como uma técnica, mais como uma executante, do que propriamente como uma artista.
Mas eu acho que o que ela faz tem tanto de arte e de interpretação como pintar de novo. Isso sei que ela não gosta de fazer. Não gosta de telas em branco. Tem uma cópia dum Almada com umas cores lindas - que eu cobiço loucamente porque sou indecisa sobre o que gostava de ter nas minhas paredes mas sei que aquilo era uma coisa que eu gostava de ter - que deixou a meio por insatisfação.
Hoje, levou-me a visitar uma igreja que terminou há pouco tempo. A própria da igreja é muito gira, uma igreja muito antiga no meio duma aldeia às portas de Lisboa. As cores restauradas do interior, o azul anil, o dourado, os marmoreados, tudo coisas de que eu gosto. Também gostei do cheiro da sacristia, o cheiro típico das caves das casas antigas, uma mistura de humidade com muitos anos, e umas escadas que não subi para o primeiro andar.
A igreja no meio da aldeia, com uma estrada que diminui ao passar por trás do altar, foi um cenário para umas imagens mentais giras. A igreja tinha as potentes luzes acesas no interior, para que um fotógrafo russo tirasse fotografias ao trabalho de restauro com um nível de bolha acoplado à máquina. Ao mesmo tempo que fotografava o tecto azul, ria-se dos nossos disparates.
Obrigada, artista. Gostei.
2 comentários:
Pena é que essa amiga artista não venha ler o blog. Ela ia gostar :)
Ela sabe que eu penso isto. E eu compreendo que ela não venha aqui - três filhos ocupa muito tempo.
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