19/04/11

Sensações

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às vezes tenho a sensação que não pertenço a lado nenhum,
diz ela baixinho, a jeito de ver se ninguém dá por nada, como sempre fez, para não incomodar, para não estorvar por ter ideias próprias. Esconde os olhos atrás da franja, estica um pouco a mão sobre a mesa do café.
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eu só preciso de mimo, é tudo,
isto já não diz, só pensa, mas há coisas que não são para dizer e sentem~se e magoam mais por não serem ditas.
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se achas que não pertences, tens bom remédio, vai para outro lado,
diz ele rápido e em voz firme, com o eterno ar de quem não tem paciência, até podia ter, mas não tem, porque é que ela há-de ser insegura. A única resposta certa é
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mas tu pertences. Obviamente.
Mas ele não a diz.
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encolhe a mão, deixa cair mais a franja sobre os olhos, ajeita a alça da t-shirt e pega apressada no telemóvel, como quem muda de assunto,
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quem me dera que tocasse agora e que fosse, de facto, de outro lado qualquer,
mas não toca e não é.
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Acaba de beber o café. Sai. Não volta.

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