Enquanto tecla de forma dolorosamente lenta no teclado preto que parece ocupar a secretária inteira, mantém os óculos fixos no monitor do qual só consigo ver a marca impressa a relevo nas costas.
A bata branca e a posição relativa no gabinete em que nos encontramos dizem que este senhor é o médico. Mas, deixa-me a pensar, na minha cabeça ser médico é outra coisa diferente.
Gosto dos médicos como gosto das pessoas - daqueles que olham para dentro de nós e sabem exactamente qual é a pergunta que devem fazer. Melhor, aqueles que conseguem apontar o sítio exacto, no meio dos milhões de células, onde nos dói.
Estes médicos a treinarem para serem tecnológicos, já não são propriamente médicos. Especialmente porque teclam como uma criança de dois anos.
Para mim, quando se perde a ligação humana, o resto já não interessa muito. E este silêncio forçado, interrompido pelo titubeante teclar, incomoda-me, quanto mais não seja porque as dores de costas já arrasaram comigo antes.
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