23/12/09

Imaginário infantil

Na maior parte das vezes, quando compro comida biológica - genericamente mais cara mas com benefícios nutricionais e tendencialmente livre de pesticidas perigosos - fico à espera de ser atingida por memórias.
São as cenouras pequeninas e lindas ainda presas pela rama, são os rabanetes vermelhinhos e lindos ainda com rama também, abóboras perfeitas, maçãs tortas e diferentes umas das outras, pêras amolgadas pela natureza, ovos com gema hiper amarela...

... e a saber aos ovos que vinham nas cestas desde Abrantes onde em tempos a minha mãe partilhou um galinheiro com os irmãos (acho eu) e com que sonhava fazer uma gemada gigante: uma gema, uma colher de sopa de açúcar, numa tigelinha pequena, bater até a gema ficar quase branca. Um sonho - ainda melhor quando um dia a minha mãe me encontrou deliciada a comer esta iguaria e me disse com o ar mais enternecido do mundo "o meu pai adorava gemadas". Portanto, além dos genes partilhava esse gosto com um avô que nunca conheci e de quem tenho a imagem de ser um semi-gigante abraçado à sua Ginota.

Hoje fui completamente surpreendida por um sabor raro mas típico da minha infância: o do verdadeiro ananás. Fruta maravilha que lá em casa só aparecia no Natal - o dinheiro não abundava, mas a minha mãe fazia a comida chegar para todos e para mais os 50 amigos que aparecessem. Até muito tarde, as próprias das bananas estranhamente vinham sempre em cachos de seis - uma para cada um, não dava para mais. Bifes do lombo foi coisa que só provei lá para os 16 anos - juro.
Portanto, o que estive agora a arranjar para a consoada que amanhã será cá em casa, não é como o abacaxi doce-doce que hoje se vende em todo o lado a 1,89 euros. É um verdadeiro ananás da Madeira a, se não me engano, 8,90 euros. Só pelo sabor que tem e pelas memórias que acordou valeu cada cêntimo.

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