04/03/10

Mais net e o flash de um amigo

Cada vez mais me convenço que devia ter um teclado ligado à net em dois sítios muito específicos: ao lado da cama e no carro. E nem precisava do ecrã. Ontem à noite tive de lutar com todas as forças para resistir às ideias malucas que andavam a perseguir-me. Gritavam-me do mais profundo "vai escrever", "vai escrever já", "o que é que estás a fazer na cama?", "vai escrever", "não tentes resistir"...
Fechei os olhos com toda a força para ver se conseguia dormir. Acho que as minhas pestanas deviam parecer as do Keanu Reeves no Matrix, quando estava a absorver toda a informação necessária para praticar na perfeição artes marciais (gosto especialmente da maneira como dizem jujitsu).
A agitação para vir escrever foi cansativa e só passou quando voltei a acender a luz, teimosamente não para escrever mas sim para ler. Para pegar finalmente no Paulo Castilho que andava a reservar para mais tarde, para que não acabe tão depressa.

Porque o Paulo Castilho é uma espécie de febre - ou, pelo menos, sempre foi. Os seus livros têm de ser devorados e, pelo que consegui ler ontem, uma série de capítulos de enfiada, agora a lutar com o cansaço do corpo pelas horas tardias, parece-me que este vai manter as expectativas. A história começa em Sintra numa atmosfera que eu adoro, de casas antigas, com mobílias antigas, com pessoas antigas, que gosto de ler nos livros porque os posso imaginar sempre como a casa dos meus avós.
E começa com amigos que já eram amigos na altura dos 17 anos, em que se discute a existência e a não existência, a importância e o sentido da vida e outros conceitos filosóficos que só eles davam para um blog inteirinho. Que saudades de tertúlias assim. Estou em pulgas para que chegue a noite e para voltar a pegar no livro. O regime é auto-imposto, se começo a ler a qualquer hora o livro chega ao fim num instante.

Já hoje, de regresso a casa no carro, lembrei-me de repente dum amigo de infância que morreu há uma série de anos, pouco depois do meu irmão ter morrido. Lembrei-me da exacta circunstância em que soube que ele o tinha feito. Tinha acabado de acordar e estava deitada na cama verde de ferro, encostada à parede. A minha irmã entrou e deu-me a notícia com um ar desesperado. Disse-me que uma das últimas respostas que tinha dado a alguém era "agora já está tudo bem". Era um miúdo muito divertido, cheio de imaginação e vontade e habilidade para fazer disparates. Brincávamos muito todos juntos. Não teve uma vida muito fácil. E hoje tive saudades dele.

2 comentários:

Paula disse...

Também me lembro muitas vezes dele...

Quanto ao livro, já sabes o que é que lhe vais fazer a seguir, não sabes?

Joaninha disse...

yep