23/03/11

O catálogo dos sonhos

Insistes e voltas a insistir:
"Mas com que é que tu sonhas?"
E eu, que como já te disse, acho que a noite é para dormir, digo-te,
De noite durmo. Prefiro sonhar de dia. E passo o dia a sonhar, nas coisas que hei-de fazer, nas que fiz, nas que gostava de ver, nas que gostava de fazer, onde gostava de ir...
Insistes, pressionas. Contas os teus sonhos, claros como água, alguns querem dizer coisas concretas, outros são misteriosos. Pressionas mais um pouco, lá puxo pela cabeça, o problema é que não me lembro do que sonhei quando acordo,
Sabes? Eu acho que tenho o sono muito pesado, sonho também de noite, mas geralmente só me lembro de sonhos perturbadores e, graças a Deus, esses sonhos agora são raros.
"Mas como?"
sei lá...
Olha, a última vez que me lembro de ter tido um sonho foi na noite em que fomos ver o Cisne negro. E aí sonhei. Passei a noite a sonhar, um sonho peganhento, que não se foi embora depois de acordar, por muito que eu o sacudisse e que, ainda hoje, salta nos meus olhos. Um sonho pesadelo, que ainda não digeri completamente. Começa com a sequência mais angustiante do filme, em que a bailarina rodopia sem parar, mesmo no final, não sei quem está a dançar, acho que não sou eu, é alguém em sofrimento, com uma intensidade frenética e arrepiante. Aterrador. E ao fim de um bom bocado de rodas alucinantes - em que sinto a dor que deve estar no arco do pé, nos tendões castigados pela vaidade, do ego esmagado e recuperado, já não é a bailarina que dança. É a imagem dos braços abertos do meu primo igual ao meu irmão. E acordo mal-disposta e esmagada, mais uma vez, pela constatação de que ele não está cá.
Falamos mais um pouco, tu adormeces.
Eu vou para a sala, fico sem dormir até às duas ou às três.
Pressionada, hoje sonhei que estava outra vez a preparar a festa do nosso casamento. Andava num autocarro maluco, que seguia a 200 à hora, passando por estradas totalmente esburacadas. Tinha um condutor e um assistente, sentado duas filas atrás, que ia dando instruções:
"Estás a ver aquele buraco? Acelera como fazemos nos carros." E passo, de uma terra para outra, à procura de um bonito palácio - estão todos arruinados, mas têm aquela beleza que sabes que encontro nas casas antigas-, do edifício de um tribunal que agora é a fachada de um centro comercial, de uma clareira passo para a outra, a discutir talheres, toalhas e pratos.
Depois acordei. Se perceberes o que é, diz. Eu acho que quer dizer que eu gosto de festas... Enjoy.

2 comentários:

Sónia disse...

...tarefa árdua esta que lhe deixas...eu pessoalmente acho os sonhos insondáveis!

...embora preparar uma Welcome Spring Party!!!...não tão palaciana quanto os teus sonhos, mas assim fixe e acolhedora.

Joaninha disse...

Adoro Welcome Spring Parties! Logo falamos.
bjs