Li há tempos um artigo espectacular sobre a nova moda em matéria de parques infantis, que é conceber e criar espaços tipo selvagem. Adorei o artigo e fez-me pensar na maneira simples como ocupávamos o nosso tempo quando erámos miúdos. Como tínhamos os montes mesmo à frente de casa (o monte pequeno e o monte grande), havia muito espaço por onde correr, escavar, inventar aventuras (um crime incluído com polícia e tudo que espiámos da janela deitados no chão), criar esconderijos, partilhar segredos e inconfidências, saltar, rebolar e cair, cortar dedos e esfolar pernas e joelhos. Era o dia todo! Tínhamos milhares de amigos. De vez em quando, muito de vez em quando, passava um carro. Um dia até passou um carro só com um farol aceso e a galhofa foi geral, com toda a gente a dizer que estava a fingir que era mota.
Brincávamos à noite na rua. Enterrávamos os nossos animais no monte, dentro de caixas de fósforos, e marcávamos o lugar com cruzes feitas de galhos, como víamos fazer nos filmes. Inventávamos brincadeiras o dia todo e ao sábado e ao domingo de manhã aprendíamos mais a ver o Tom Sawyer e os três duques. Os nossos pais de vez em quando iam à janela ver se a prole estava toda intacta, os mais velhos tomavam conta dos mais novos e vice-versa. A hora de recolha era ao jantar. No Verão ainda voltávamos depois.
Irrita-me ir ao parque e ver os miúdos a seguir os circuitos que criaram para eles. Os baloiços (isso continua a ser fixe), os cavalinhos, os escorregas (que, de acordo com algumas velhotas, só se podem descer - porquê se quando éramos pequenos os subíamos?). Não podem criar mais nada, está tudo feito. Eu sei que eles gostam e que adoram ir aos vários parques infantis para onde os levamos. Eu sei que é melhor do que não ter nada, mas daí ter gostado tanto do artigo que li sobre parques. Os espaços em branco são como as folhas em branco, abrem a imaginação de quem a tem. Quem não tem odeia folhas em branco.
[Estou enjoada do verniz vermelho que pus nas unhas. É decadente ao fim de poucos dias (2), começam a notar-se todas as pequenas falhas e riscos. Odeio o cheiro do tira-verniz.]
3 comentários:
Concordo com a tua relutância aos parques infantis "isto faz assim e mais nada"... Quando souberes dos parques selvagens apita. Porque os parques arrumadinhos tornam os putos selvagens...
Quanto ao verniz vermelho, também tenho uma relaçao bastante antagónica. Apetece-me pô-lo, e depois de o pôr arrependo-me sempre!!!!
Jinhos
Parques "normalizados" fazem mal !Estou a falar a sério . Detesto tanto meninos "normalizados" como as maçãs e peras que se veêm nos supermercados :- tudo igual , do mesmo tamanha ( caso de miudos todos a querer as mesmas coisas sem ousar subir o baloiço )e sem cheiro .Já reparou que nesses parques o top de liberdade oferecida é em geral um imundo buraco cheio de areia !!!!
Venham para aqui , temos tentado construir um jardim cheio de locais secretos , esconderijos que já nem sei onde ficam , passagens e tuneis de fazer sonhar :)))e é verdade os baloiços são anti CEE , pode andar alto e saltar para o chão de terra :))) Um parque tem de ter zonas para estimular a imaginação e para ajudar a desenvolver o instinto de sobrevivência , ou seja tem de ter locais pouco seguros , plantas que picam , locais onde se podem esconder.Só assim aprendem a ter cuidado e é muito mais divertido.
Obvio que eu não poderia estar mais de acordo contigo! Qualquer dia até a areia nos parques será proibida (se já não for!). Antigamente uma simples tábua de madeira servia de caixa registadora, de tabua de passar a ferro e de tudo o que a nossa imaginação ditasse. Hoje em dia, as crianças não usam a imaginação pois já existem brinquedos que a substituem. Como Educadora de Infância, um dos meus grandes objectivos, é deixar que as crianças brinquem e é a brincar que se descobre, que se aprende, que se usa a imaginação. As criança não são um rebanho de ovelhas mas sim um ser único que precisa de ser respeitado como tal! Fizeste-me recordar as férias infinitas de Verão em que só se ia a casa para almoçar e jantar...em que tomava banho com as minhas colibri calçadas e saltava ao elástico até me doerem as pernas!!! Que saudadades desse tempo.........LIBERTEM AS CRIANÇAS....e principalmente, deixem-nas crescer
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