Não acredito na vida depois da morte. Acredito que nos mantemos vivos enquanto as pessoas se lembram de nós, enquanto olham enlevadas para as nossas fotografias, enquanto sabem a que cheiramos, mesmo que percam o nosso cheiro e o reconheçam só cinco ou dez anos depois num sítio completamente diferente. [Há dois anos reconheci o cheiro do meu irmão numa almofada. Que saudades...] E essa memória, apesar de tudo, é fixe.
O pior é antes, quando envelhecemos muito e de repente não sabemos onde estamos, quem somos, quem são as pessoas que estão ao nosso lado, em que porta é o armário e qual é a casa de banho. Nessa fase começamos a lembrar-nos de coisas muito antigas, voltando quase ao momento em que demos o primeiro grito, em que nos rimos pela primeira vez, em que começámos a gatinhar...
Se fosse possível escolher quais os momentos de que poderia lembrar-me nesse processo de esquecimento acelerado a caminhar para o total queria escolher estes:
- a felicidade dos meus pais (tenho a ideia de que estavam sempre contentes quando era pequena)
- as Quintas (estávamos mesmo todos contentes)
- os momentos mais felizes todos dos meus irmãos
- fazer bolos, salame de chocolate e rolo de carne
- os carrinhos de rolamentos, os polícias e ladrões, o bate pé, as tardes ou noites inteirinhas à conversa
- as descobertas dos meus filhos e sobrinhos
- as festas
Só boas imagens. E pensar que o envelhecimento quer dizer esquecimento não é ser pessimista. Chegar a velhote com boas memórias é ser optimista.
Sem comentários:
Enviar um comentário