02/11/08

Puericultura

Desde que nasceu a minha sobrinha mais velha, que já tem sete anos, que me maravilho com uma faceta da minha mãe que desconhecia. A faceta de avó. Uma avó muito fixe, prática e com uma energia inesgotável, de ver a trupe dos cinco entrar pela casa a correr e a saltar todos os dias, sempre cheios de fome da escola, sendo que dois são quase residentes a tempo inteiro. Uns berram, uns esperneiam, uns batem-se, outros berram, vomitam, correm, comem... Ok, ao fim-de-semana os avós têm mais ou menos folga dos putos, mas é uma folga ligeira.

Também me maravilho ao ver que a minha irmã é igual à minha mãe, uma espécie de tenda gigante com imenso espaço lá dentro e com uma paciência quase infindável para os miúdos. Mesmo quando estão a passar por fases ou quando estão com sono - as desculpas de qualquer mãe minimamente civilizada para as crises de mau feitio dos filhos.

É vê-la a arrastar os três miúdos estrada acima estrada abaixo com um ar feliz da vida, até se arrisca a metê-los dentro do carrinho das compras e ir ao continente ou qualquer coisa assim do estilo. Eu digo arrastar, ela diz que não é arrastar, eu digo arriscar ela diz que precisa mesmo de ir eu digo eu não vou - por aqui se vê. A minha mãe também era assim connosco os quatro. Íamos para onde fosse, sempre todos, quatro miúdos. Quatro miúdos. [Como é que nos dava a mão a todos? Como é que nós não fugíamos? Como é que...?] Lisboa em geral, Campo de Ourique, Casa da Moeda para a ginástica do mais velho, Algés, onde fosse. De transportes públicos.

E ainda nos fazia a roupa a todos, calças, camisolas e fatos-de-banho incluídos e a comida para todos (às vezes comprávamos frango assado ao Domingo) e só tinha uma senhora para ajudar à quarta-feira, durante cinco horas. A minha mãe é um motor de elevada potência. Quem me dera ter metade da genica dela. A minha irmã também é um bocado assim. Então com os miúdos, "são cinco? Venham..."

Mas estou a divagar.

O que quero é contar uma das coisas que me maravilha na minha mãe enquanto avó e que, parece, se repete em muitas outras avós da sua geração. Quando se suspeita que um dos putos com fralda tenha cocó, a minha mãe e as tais outras avós espetam um dedo dentro da fralda para verificar a teoria. Um dedo dentro da fralda! Só há duas hipóteses: ou tem ou não tem. E se tiver, tem duas hipóteses: ou tem sorte ou tem azar. E, se tiver azar, o que acontece mais vezes, o dedo faz a prova viva do suspeito cocó. Porquê? Terá sido algum fantástico curso de puericultura que as avós desta geração fizeram? Hoje evitamos ao máximo qualquer contacto com essas substâncias. Antes, as fraldas eram mesmo lavadas à mão, não havia nada a fazer. Deve ser por isso.

1 comentário:

anniehall disse...

"Hoje evitamos ao máximo qualquer contacto com essas substâncias."
:))))com quase todas as substâncias .
O vosso mundo está cheio de uns assustadores perigos que garanto não existiam para a geração anterior. Quando agora vejo alguns dos cuidados que se tem com os miudos fico surpresa de como é que voçês , os filhotes da geração dos anos 70 do seculo passado , conseguiram resistir e sobreviver:))))
Qual é o puto que hoje consegue comer um pão com manteiga e chocolate apanhado do chão do campo da bola????ou andar de biciclete de olhos fechados??sob o olhar orgulhoso e babado da respectiva mamã?:))
;)))