29/12/08
Silly head
Agora nem penso nessas coisas para não dar azar.
Já me safei
Afastem-me essas tesouras
O perigoso em relação ao meu cabelo é que, devido ao fim de ano iminente, todos os cabeleireiros estão cheios. Como não consigo vaga, nem me esforço por conseguir uma, porque não tenho pachorra para conversa de galinheiro e no fim acho sempre que não foi o melhor corte do mundo e, por isso, não aguento tempo nenhum num cabeleireiro, vou chegar rapidamente a uma situação de desespero.
E aí a conversa comigo mesma vai ser:
- Posso esperar pela próxima semana para cortar o cabelo...
- Não, não posso...
- Se cortar só um bocadinho aqui...
- Vai ficar um nojo...
- Não, vai ficar brilhante, vou descobrir que afinal posso cortar o meu próprio cabelo
- ... e poupar montes de dinheiro...
- ... e deixo de passar horas sem fim em cabeleireiros cheios de mulheres...
- ... e até posso cortar o cabelo dos miúdos...
- Queres ver que até está a ficar giro?
- Ups! Não devia ter cortado este bocadinho...
- Nem este...
- Oh meu Deus, que crueldade...
- Agora tenho mesmo de esperar pela próxima semana para cortar o cabelo...
Por isso, socorro, escondam-me as tesouras, ok?
25/12/08
Estava a ver que não
Estava a ver que não me acontecia este ano. Geralmente vem, nas alturas em que é suposto estarmos mais felizes. Não é propriamente estranho. Sei que vai acontecer, só não sei exactamente quando.
É uma grande tristeza e uma grande pena por não participares em coisas que sei gostares. É por não abrires presentes connosco, é por não conheceres os miúdos. É por não estares aqui. É tudo isso e muito mais. Estive ao pé de ti, apesar de saber que isso não significa nada. Estás sempre comigo.
23/12/08
O que ainda não fiz
- comprar comida ou ingredientes para fazer comida natalícia
- comprar pão e mantimentos, fraldas e toalhitas para os dias em que os supermercados vão estar fechados
- comprar três prendas para três pessoas importantes
- comprar duas prendas para pessoas não importantes
- levar as prendas todas para casa dos meus pais
- visitar as pessoas que gosto de visitar nesta altura do ano
- escrever cartões de Natal
- acabar de enfeitar a minha casa
- arranjar o cabelo
- ir à depilação
Estou a ver que amanhã não vou poder ir ao Natal a casa dos meus pais, o que me vai deixar muito tristonha.
22/12/08
É oficial (2)
21/12/08
Finalmente
Ao mesmo tempo, estou a precisar muito de creme para as mãos, talvez óleo de girassol seja já a única solução... Por causa disso, as minhas unhas-cor-de-beringela não estão tão bonitas como devia ser e também a lavar as mãos 125 vezes por dia daqui a nada vou tirar o verniz.
Desejo que o Natal seja passado sem gripe, ok?
20/12/08
É oficial
18/12/08
Santa's little helpers
Outra hipótese, que sai baratinho, é investir no look das prendas: embrulhá-las em tecido, com fitas compradas a metro e transformadas em laços em casa, imprimir os cartões de to and from daqui, apanhados no blog How about orange, aqui ao lado. Só não tenho cores na impressora, mas vou usar os lápis dos meus filhos para dar um toquezinho de cor... ou não. Bons embrulhos.
16/12/08
Formiguinhas
O mano, a preparar-se para ir ao circo à borla com um tio emprestado, ri-se muito e encolhe os ombros, "eu não disse nada"... Anseia, no entanto, pelo descaramento insolente da mana. [Todo o descaramento é insolente, calculo].
O que fazer? Finjo que me zango, mas só vale a pena rirmo-nos. [Se tivesse havido uma árvore assim em minha casa quando eu era pequenina: as gomas tinham todas desaparecido muito antes do menino Jesus chegar; além disso, ninguém tinha visto que tinha sido eu a autora do crime].
14/12/08
Natal docinho
Estou feliz da vida com a nossa árvore de Natal, com gomas, pipocas e marshmallows, bonecos em forma de bolacha que nos deu a minha irmã. Assim, tudo alimentício, que é para quando o menino Jesus nascer ter alguma coisinha para comer.
E também temos um presépio. Mas quem me dera poder mostrar o dos meus sobrinhos - é lindo e monumental, tem água corrente e estrelinhas que piscam e tudo.
E temos um Pai Natal, não vá ser esse o verdadeiro portador das prendas e depois está tudo tramado.
Porquê?
A outra...
12/12/08
Desejos para 2009
... aliás, acho que, assim de repente, nem me lembro de muitas coisas... Ó tempo volta p'ra trás... Socorro, não me lembro do que é que me aconteceu este ano... Lembro-me deste último quartel, da crise e da crise (bem diz a Annie Hall que já está farta de crise). Lembro-me dos bebés que nasceram, do meu sobrinho pequenino lindo lindo. Da festa da minha mãe. De estar a tirar um curso muito fixe. Lembro-me das férias deliciosas, lembro-me dos miúdos a crescer, não propriamente dos dias em que cresceram, mas antes do tempo a passar por eles.
A mais pequena, especialmente, cresce tão depressa que antes dos dois anos usa os sapatos que o irmão usava aos quatro, só quer brincar aos "paixeàsmães" e tem um bebé que dorme sempre com ela, provavelmente para a compensar de nunca ter querido dormir na nossa cama (abençoada). Cresce mais devagar miúda, que assim a mamã não acompanha.
Então, em 2009 quero:
- o fim da crise económica que preocupa muito o pessoal empreendedor lá de casa;
- os miúdos a crescer muito bem, seguros de si, auto-confiantes, felizes e contentes;
- o meu irmão mais novo a abrir um novo capítulo na vida dele;
- muitos passeios para os meus pais;
- poder para as miúdas;
- coisas boas (pode ser só assim, genérico?);
- a Esso Gás deixar de implicar comigo e cortar-me a água quente de três em três meses;
- os SMAS deixarem de embirrar comigo e deixarem de me cortar a própria da água de quatro em quatro (nós só somos esquecidos, não pretendemos ficar com os vossos serviços à borla);
- roupa gira e o roupeiro arrumado (este é um bocado egoísta, mas se arrumar o roupeiro posso dar a roupa a quem dela precisa);
- contas de telefone mais baixas;
- mais tempo;
- saúde e beleza para todos;
- também gostava de uma casinha sem ser num andar tão alto (acho que impossível até que o primeiro ponto esteja resolvido);
- almoços, lanches e jantares com os meus amigos. Adoro almoços, lanches e jantares com os amigos;
- muito trabalho.
Por hoje é tudo. Como ainda faltam uns dias até ao princípio do ano ainda posso ir aperfeiçoando os meus desejos e depois é tudo uma questão de fé e boa-vontade.
Home
Quem me dera ter um cérebro poliglota, só tenho uma parte, já não é mau. Mas adorava falar muitas línguas, tipo Indiana Jones na juventude, uma das séries mais impecáveis da década de 90 (?). Fartei-me de aprender coisas, sempre pondo em causa a possibilidade dessa vida fantástica que não existiu - não sei se já tinha passado a barreira em que os miúdos deixam de acreditar em tudo o que vêem na televisão, acho que é aos 12 anos, mas deixava-me enrolar pela ficção.
Mais tarde, já a trabalhar no jornal tive uma colega que era muito engraçada. Tinha a minha idade e contava histórias muito bem. Eu ouvia-a e pensava "que vida tão comezinha que eu levo, tenho de fazer mais coisas" (que mania esta de me estar sempre a avaliar...). Coisas fascinantes, cursos aqui e cursos ali, pós-graduações, estágios e mais não sei quê. E eu só tinha acabado de sair da faculdade sem saber nada da vida e, por vezes, ouvia-a. E cansada como andava sem dormir em excitação com notícias e manchetes e a trabalhar até depois dos peixinhos irem dormir, não me dava sequer ao trabalho de pôr em causa o que me contava, fazia conversa e achava-lhe piada - um pouco louca, mas com piada. Mais tarde, o seu editor contou-me que quase tudo o que fazia era inventado. Inventou inclusivamente artigos e reportagens sobre a guerra no Kosovo. Eu só pensava, "bem que me pareceu um pouco estranho", e fiquei mais aliviada.
09/12/08
Masters of zen
Recapitulando: massagens o fim-de-semana todo, vichy e sem ser vichy, nas Termas da Curia, que são um oásis de tranquilidade. Os miúdos adoraram o bosque encantado, perdemo-nos e tudo (a fingir, mas ainda houve uns que acharam que era a sério), imensos amigos pequeninos a correrem pelos corredores e os crescidos a relaxar, o parque infantil novo, ir lanchar ao Palace Hotel ali ao lado, ir almoçar ao Palace Hotel do Bussaco (assim com dois ss, à antiga), ouvir as histórias dos reis e princesas que por lá passaram e que "estão quase a chegar"...
Ver o mundo pelos vossos olhos. É isso que é bom.
Pena a amigdalite e serem só três dias. Havemos de ir a termas a sério, 15 dias, estacionar o carro ou, melhor ainda, ir de comboio, e não sair daquele bosque encantado durante todo o tempo, como faziam os nossos bisavós.
05/12/08
Caller ID
As coisas que perdemos com o caller ID:
- a curiosidade de saber quem está a telefonar quando o telefone toca;
- a satisfação de ouvir uma voz que não estávamos à espera de ouvir;
- a possibilidade de fazermos uma surpresa a alguém;
- a impossibilidade de evitarmos atender pessoas chatas;
- a impossibilidade de pregar partidas ("É de casa do Sr. Leitão? Sim... É para dizer que foi promovido a porco" e coisas do estilo, inofensivas e muito divertidas - os miúdos têm de passar o tempo, não é verdade?)
- ...
Viva a chuva
ADORO A CHUVA!!!
Adoro a chuva e casacos impermeáveis, adoro a lama e as poças gigantes com água para saltar. E, por isso, adoro galochas e calças por dentro delas. Adoro ver os meus filhos de galochas a saltar por cima de tudo, quais tanques invencíveis.
Lembro-me de ter um dia, quando era mais pequena, faltado a uma aula para saltar numa poça. Quando dei por mim já tinha dado o segundo toque e ainda por cima estava ensopada. Voltei para casa. Adoro a chuva!
04/12/08
Anos 80
Até posso ter bom ouvido e apanhar facilmente as letras das músicas mas nunca consigo decorar os nomes dos cantores ou das bandas. E, por isso, passo muito tempo sem ouvir músicas de que gosto, simplesmente porque não sei como procurá-las.
No entanto, agora ando com sorte. Com os anos 80 em full fashion, posso ouvir de novo músicas de que sempre gostei e que deixei de ouvir porque não sabia os seus nomes e porque deixaram de estar na moda. Li algures que quando se dá uma festa, devemos seleccionar músicas dos anos em que a maior parte dos convidados andava na faculdade - e funciona mesmo.
Mas ontem, enquanto ía no carro para a escola, tocou uma música genial dos anos 80, que foi a escola primária e a preparatória. Na primária, a professora pedia a um aluno que tinha uma costela inglesa para nos entreter, cantando as músicas em inglês da moda. Às vezes era o hino nacional (!!), que cantávamos todos. Tenho saudades da professora e ontem também fiquei com saudades desse colega.
03/12/08
Isto hoje foi duro
Porquê?
02/12/08
E a neve
E o pequeno-almoço, como nós gostamos, sentadinhos à mesa, a lareira a aquecer o ambiente. Ficámos no lindíssimo Mosteiro de São Cristóvão de Lafões, recuperado como se nada se tivesse passado e como se a chuva e a intempérie e os anos e os ladrões não tivessem andado por lá a partir paredes e a roubar azulejos.
Os donos falam da sua casa como de um filho e têm quartos suficientes para os 11 netos e para ainda receberem uma série de hóspedes, casa cheia o fim-de-semana, ou pelo menos assim me pareceu. E uma visita guiada com os pormenores todos sobre a casa no meio da floresta.
Adorei.
26/11/08
Olhe que eu sou cardíaco
O "olhe que eu sou cardíaco" apareceu, repetido várias vezes, quando eu ía a sair do carro, estacionado clandestinamente para não ter de pôr moedas no parquímetro. O motivo do susto era um labrador branquinho, daqueles adoráveis e amorosos, que não fazem mal a uma mosca porque, penso eu, têm todo o mimo do mundo. Tenho uma amiga que teve um. São uns cães lindos.
Mas, no escuro do jardim, o senhor assustou-se. Eu pensei que ele pensou que o cão era meu, porque o primeiro aviso da condição cardíaca foi feito na minha direcção. Assim, dirigi-me rapidamente para o cão, que tentei chamar sem lhe saber o nome e a quem dei umas festinhas. O senhor ía andando e eu, para tentar acalmá-lo e uma vez que a legítima dona do cão já se tinha aproximado dele, fui também caminhando lado a lado com o senhor.
Fui-lhe dizendo as coisas que aprendi no curso de socorrismo, respire fundo, acalme-se, o cão não faz mal nenhum, estou aqui e protejo-o (aliás, acho que isto é o que eu digo ao meu filho quando ele vê um cão a aproximar-se dele). E o senhor lá acalmou. E, eu e o meu novo amigo, fomos andando ao lado do jardim.
Então ele justificou-se. "Sabe, é que já tenho muita idade e, ainda por cima, sou cardíaco". E disse-me quantos anos tinha. É da idade do meu pai, penso eu. Mas agora que estamos à luz, tem razão, o senhor é muito velho. O meu pai tem, pelo menos, menos dez ou 15 anos que o senhor. Tenha uma boa vida então e obrigado, diz-me ele. Ficámos amigos. Nunca mais o vou ver.
Nuvens e flores
Gostei de ler
"Irrita pouco viu...
- Pessoas na calçada, sentido oposto ao meu, não sabem desviar e fica aquela dancinha boba irritante.
- Caneta com tinta seca.
- Clips estilo “correntinha” (tem sempre um morfético que junta tudo e na hora da correria é uó)
- Açúcar empedrado (adoro essa palavra)
- Quando o shampoo acaba e só tem outro novo do lado de fora do banheiro.
- bolinhas nas unhas após pintá-las
- Telefone ocupado
- Ligação perdida e celular sem crédito.
- Fila fake na balada
- Banco “suado” no metrô.
- PC lento.
- Guarda-chuva cretino que após um vento, vira e te deixa na mão.
- Meias molhadas.
- TV aberta aos domingos.
- Papel de bala vagabundo que não desgruda fácil dela.
- Baratas do verão.
- Chinelo de ponta cabeça.
- Números restritos “este número não pode ser chamado”
- Cantada feita por um sujeito no carro e você a pé: logo, não é possível ouvir a linda frase completa.
- Telefone fixo com fio curto
- Fone de ouvido bagaceiro que logo na primeira semana só um lado funciona.
- Sacola furada
- Ajuda do Windows (palavrinhas banais: você escreve “quiz” e ele, sem a tua permissão muda para “quis” e depois no doc impresso você descobre que amigão ele é)
- Ampulheta do PC.
- Bala de canela
- Bombom de banana
- Alface roxa
- Atendente blasé
- Atendente puxa-saco que logo de cara te elogia.
- Eternos setores de grandes empresas no Call Center. Uma verdadeira brincadeira de batata-quente. O pior é você contar a mesma história para mais de 5 pessoas. Chega uma hora que vira telefone sem fio. A história perde alguma parte no caminho e te colocam em xeque-mate.
- Vendas frenéticas. Experimentar roupa e após 5 segundos, você escuta da cabine: “E aí, ficou bacana¿ Como ficou?”
- Cadarço desamarrado e você atrasado.
- Abraço “frouxo”
- Aperto de mão “molenga”
- Ao ser apresentado a alguém, aquele impasse chato e que precisa ser resolvido muito rápido: primeiro beijo no rosto e estende a mão? primeiro a mão e depois o beijo? ou os dois simultaneamente¿
- Ao cumprimentar alguém você dá um beijo no rosto e a pessoa quer mais um. E sempre rola aquela risadinha "amarela"
- Moeda no fundo da bolsa quando você precisa para completar a grana.
- Controle remoto da TV que toma chá de sumiço quando você está deitado.
A vida tem lá sua graça quando notamos nos detalhes a acidez que ela nos oferece!"
É claro que há algumas coisas que eu não percebo (o que raios é um cadarço, um chinelo de ponta cabeça ou fila fake na balada?). Mas, no geral, está muito bom. Deixei à rapariga um comentário, a acrescentar algumas das coisas que me irritam:
- telefones que deixam de funcionar justamente quando vamos ouvir "amo-te" ou as direcções que precisamos de conhecer;
- blogs que parece que fomos nós a escrever, mas não fomos;
- um convite para ir à praia e não ter ido à depilação;
- estar sentada à frente do computador com um deadline e não sair uma única ideia;
- achar que estamos estáveis e, de repente, uma música ou uma imagem nos pôr a chorar (ou isto são as hormonas?);
- não ver os amigos anos seguidos e quando os encontramos sentir que perdemos a ligação;
- tampa de sanita levantada;
- pasta de dentes sem tampa;
- pacotes vazios no frigorífico ou na despensa;
- ...
Hoje
25/11/08
Afinal
Há alturas em que tudo parece convergir para os pensamentos que nos atormentam e que queremos tornar mais cor-de-rosa. No Domingo uma história triste duma rapariga que conheço da escola e que sem eu o saber passou um mau bocado. Perdeu a mãe muito nova e os filhos dela nunca puderam conhecer a avó. Continua a passar um mau bocado. É nisso que penso quando vejo os meus filhos crescer. Que o meu irmão haveria de ter adorado conhecê-los, brincar com eles, estar com eles. E o raio do Natal é uma das piores alturas. É muito bom para quem está feliz da vida, mas para quem tem uma mágoa permanente não é bom. É duro.
Ao mesmo tempo, vou fazendo, sorrateira, as minhas compras de Natal. Gosto do Natal, mas não gosto. Ambivalência em acção.
By appointment
Tivemos um fim-de-semana fantástico. Ainda bem, porque é por causa de coisas boas como estas que os miúdos pensam que estão a ter uma infância boa e é também de coisas destas que se vão lembrar quando forem grandes e estiverem a trabalhar e virem os dias e as semanas passarem um pouco depressa demais... deprimente, eu sei, mas é esta a triste vida da nossa sociedade.
Li um estudo que diz que questionados sobre a infância os adultos se lembram melhor das brincadeiras ao ar livre e com "brinquedos" inventados. Por isso, este Natal só vou dar livros aos miúdos da minha vida. Foram os melhores brinquedos que tive. Passava horas a ler e horas a sonhar com o que lia. Um livro faz mais pela imaginação do que mil brinquedos, desenvolve a linguagem, previne os erros ortográficos...
O fim-de-semana partido em dois, Sábado vela no Tejo, num barco lindo e luxuoso, que vale a pena ver, um Dufour 385. O vento esteve envergonhado, mas ainda deu para fazer algum exercício e para apreciar a vista. Quem andava ao leme ganhava uma alma nova, Lisboa vista do rio é ainda mais gloriosa. E a luz de Lisboa é sempre magnífica. Figos secos com amêndoa e biscoitos.
Domingo, praia outra vez, até já temos receio de ir, como é que conseguimos tantos dias assim bons em Novembro? Os miúdos em fato-de-banho em bando a brincar pela areia fora. E o céu lindo. Ah, e o pai-herói a fazer body-board em calções e t-shirt, a água gelada e toda a gente com fato completo.
Segunda, já não conta como fim-de-semana, mas vela outra vez, era para ser a última aula, mas ainda vamos ter mais uma deste curso e depois sei lá mais quantas. Ventosga, a série de abdominais mais completa da minha vida, a ver se não caía do barco inclinado a 45º, acho que era isso, e os pés fincados com força. Frio, o mar e o rio gelados. Chegámos à ponte num sopro. De regresso, um enorme navio de cruzeiro, Lisboa anda cheia deles. Que paz.
Sons de miúda
E continua a ser calminha, mas tem sempre uma genica grande lá no fundo da voz.
(Este não é propriamente o clip mas o que interessa é a música)
20/11/08
E... as ambulâncias?
Boa viagem
Como passar pela casa de amigos e desejar que tudo esteja bem com eles. Como comprar um anjinho para a minha vizinha que está mesmo muito doente a ver se se põe boa. Como pensar muito com os olhos fechados com muita força a ver se a mãe de uma amiga que tem dias de vida se põe boa. Como achar perfeito como despedida o título do filme - que nunca vi - Good night and good luck.
O que é que poderá acontecer se vir o avião passar e não desejar boa viagem?
19/11/08
De choco
18/11/08
Ruptura
Pontos de ruptura são geralmente coisas em que penso e que nunca digo. Divirto-me com isto e não magoo ninguém. Ao mesmo tempo, deixo de prestar atenção à conversa e deixo de ter ar de seca. É melhor para todos.
17/11/08
Desejos para o Natal
Este Natal, gostava muito de receber livros giros, positivos, daqueles que devoramos num misto de ansiedade e tristeza pelo fim que se aproxima. Não sei quais. Só o Philip Roth, que ando há que tempos com vontade de ler. Mas se for muito dark não. Também podem ser uns livros técnicos, que são sempre um investimento. Também gostava de uma máquina fotográfica daquelas a sério, com um sensor rápido, que permita apanhar os miúdos quando eles ainda estão à frente da câmara.
O meu filho quer a casa dos Gormiti e os gormiti e a pista das motas do Spiderman. Acho que o canal Panda anda a investir nas horas da manhã - em que os pais aproveitam para conseguir mais meia horinha de sono - para encharcar os putos em anúncios de brinquedos.
A minha filha ainda não percebe nada disto. Hoje consegui comprar três brinquedos e, apesar de ter querido andar abraçada a eles na loja, esqueceu-se deles assim que a sentei no carro. Santa ingenuidade.
Bem sei que o Pai Natal hoje é mais popular, mas em minha casa foi sempre o menino Jesus. Assim sendo, quero pedir também a típica Paz no Mundo e cá em casa também. Se não der muito trabalho. Obrigada.
Aos 23 meses
Esta vai ao ritmo dela. Fala muito também. Há dois dias perguntou: "Mamã, pocho abrir a porta agora, pocho?" Só apetece encher de beijocas.
15/11/08
À porta fechada
O elevador é pequeno. Estivemos lá mais de 40 minutos. Primeiro porque o elevador não tem alarme!!! Depois porque ninguém nos ouvia a bater na porta. O que ouviu, e que acabou por conduzir o nosso salvamento, pensou que o barulho eram obras...
Do telemóvel, tentei telefonar para o 112, porque não tenho o número dos bombeiros aqui da zona. Não tinha rede. Estranhamente, consegui ligar para os nossos vizinhos de baixo, que estavam a ouvir as "obras" e que lá andaram à procura da chave para abrir o elevador. A chave não apareceu. Ligaram para a empresa de manutenção, que tinha de fazer ainda a viagem até chegar. Ligaram para os bombeiros que depois de várias tentativas lá conseguiram abrir o elevador.
Os miúdos portaram-se impecavelmente. O pai, que antes tinha muito medo de ficar trancado dentro de elevadores, também. Hoje senti o momento em que decidiu que não ía entrar em pânico. Foi uma decisão consciente. A nossa mente é uma coisa fantástica.
Benditos bombeiros, que ainda tiveram tempo de dar um autógrafo ao meu filho que gosta muito de bombeiros.
Depois fomos almoçar ao Noobai, comi uma bela salada de queijo de cabra, pena os verdes por temperar.
14/11/08
Chocolate (2)
Ok. Hoje comi o melhor chocolate do mundo. O chocolate que me sabe a infância. O chocolate que me sabe a raridade. O chocolate que sabe a lojas raras e a boutiques de café, como as da Baixa e do Chiado. Com uma embalagem nova, brilhante e linda. E, por dentro, o mesmo sabor de sempre. Que delícia. A marca Regina. A fábrica Imperial. Ainda bem que a Regina persiste.
12/11/08
A caminho...
Este ano, estou em paz com o Natal. Sempre adorei festas. Adoro festas. Adoro o Natal, o carnaval e a Páscoa, os aniversários todos, os feriados, adoro o pão por Deus, o São Martinho... Tudo o que for festa eu gosto. Mas paz com o Natal é especial. O Natal é uma altura complicada. Os miúdos vieram simplificar tudo. Esforçamo-nos por lhes mostrar as partes boas. Não vamos às compras com eles. Vamos ao Chiado ver os enfeites, vamos às feiras, cozinhamos com eles. Pedimos ajuda para enfeitar a casa. Tudo pouco comercial. Eles não precisam disso. Nós temos de meter na cabeça que também não precisamos.
Mesmo assim, acho que ainda é cedo para enfeites e para árvores de Natal. Esperem mais um pouco. Deixem gozar as castanhas do Outono.
Arrepio
É o mesmo que se passa com pessoas com quem me cruzo na rua, nos transportes, na escola do meu filho. O ar carregado, o sobrolho fechado. Há pessoas que nascem assim, mas mesmo assim, porque não se riem? Não brincam nos escorregas com os filhos? Não se deitam no chão a fazer cabriolices para eles se rirem? Não cantam para os fazer perder a vergonha?
Como é que isto aconteceu? Foi devagarinho, sem ninguém dar por isso, um pullover beige ou castanho de cada vez? Quando deixaram de usar a cor? As primárias: o azul clarinho, o amarelo e o magenta? E o branco? E todas as outras? O laranja, o azul petróleo, o verde...
Há pessoas a quem o castanho fica bem. Pessoas clarinhas. À maior parte da população portuguesa o castanho fica mal. Faz desaparecer a pouca cor que há, especialmente se for usado no Inverno. Eu sei que o castanho me fica mal. Sinto-me toda da mesma cor.
E os cabelos? Porque é que deixam os brancos tomarem conta das cabeças jovens, tornando-as pesadas? Benditos cremes de coloração ou tintas ou o que se seja.
Como gosto de imaginar o que se passa nas cabeças e nas vidas dos outros, fico sempre a pensar se acharão o mesmo de mim. Não quero que me vejam precocemente envelhecida. Chegará o dia. Antes não.
À noite
De manhã, quando acordamos, tenho os pés quentes e tu gelados.
Gosto de ti porque me completas.
11/11/08
Do outro lado do mundo
Chocolate
E eu brincava porque o chocolate nunca me maravilhou.
Quando era pequenina gostava das tablettes Belleville que usávamos para fazer mousse, nunca percebendo como pode alguém fazer mousse de pacote - é a coisa mais fácil de fazer do mundo, só são precisos seis ovos, seis colheres de sopa de açúcar e uma tablette de chocolate. Em menos de cinco minutos está pronta e é uma delícia. Mas, quando era pequenina, não posso dizer que adorasse mousse. Comia sempre pouco. O que gostava mesmo era de a fazer. Foi a última coisa que cozinhei para o meu irmão no hospital. Sempre que faço mousse penso nisso.
Quando era pequenina gostava dos chocolates Regina com sabores de fruta, o morango era o meu preferido. Regra geral, escolhia chocolates fininhos ou bombons de ginga. Adorava aqueles grandes azuis com desenhos prateados e vermelhos e, enquanto comia o bombom, alisava a prata, lembrando-me sempre de que o meu pai em miúdo tinha uma vez resolvido um furo num pneu do carro com uma prata que retirou da sua "colecção privada". Esta é uma das razões para o meu pai ter sido sempre um herói para mim. Isso e a "batata" dos rangers.
Depois tive um filho. E depois uma filha. E quando fiquei grávida desta sonhava durante a noite (e o dia também) com chocolates, com fondue de chocolate, com mole chileno, com chocolate. Deve ter sido por esta altura que vi uma reportagem sobre a Feira do Chocolate em Óbidos. Casas de chocolate como a de Hansel e Gretel, fontes de chocolate, chocolate, chocolate, chocolate...
Hoje dou por mim a visitar os amigos que moram no andar de baixo na demanda de um pouco de chocolate no fim do jantar. E sempre com um vago sentimento de culpa, que isto de uma coisa saber tão bem só pode fazer mal à saúde... Compenso comprando chocolates com 80 por cento de cacau. Porque assim sim, faz bem à saúde.
10/11/08
Fruta
A loucura é como uma tangerina.
Hoje dei por mim com esta frase a martelar nos ouvidos quando ía de carro para a escola. Sempre que vou para a escola lembro-me de imensos potenciais posts, de que depois me esqueço. Excepto os que anoto. Hoje anotei.
A loucura é como uma tangerina. Redonda, arrumadinha, concentrada. Começa a descascar-se aos poucos. Deixa cair a sua capa espessa e que nos suja as mãos com um cheiro inconfundível, deixando-nos as unhas pintadas de amarelo.
Revela-se sumarenta, ácida ou doce, colorida e saborosa. Geralmente, está escondida. Mas tem sempre uma explosão de sabor. Então as primeiras tangerinas, que comemos avidamente como se a vida dependesse disso... É como quando percebemos a loucura de alguém. Não queremos acreditar que é possível. Espreitamos melhor. Outra vez. Pensamos como foi isto possível? O que é que despoletou isto? O meu irmão tem uma teoria que acho que diz que a partir dos 40 anos toda a gente "flipa". Digo-lhe que já toda a gente era maluca antes. Ele diz que é aos 40. Digo que são educações diferentes, isso é a base de tudo.
Sempre adorei o som da palavra tangerina. Sempre odiei o cheiro a tangerina nas casas das outras pessoas que cheiram a tangerina o ano inteiro, mesmo quando há uns bons anos atrás as tangerinas só apareciam no tempo delas.
09/11/08
Delish
E yoga na praia, para miúdos e para crescidos, uma ideia fantástica e inesperada. Puxar pela imaginação para fazer o relaxamento com o mais velho a dizer que tem de fazer cocó, aguentar o riso na posição invertida quando a minha filha me salta para as pernas como faz sempre, obrigando-me a dar uma espécie de cambalhota contorcionista, aguentar o riso outra vez quando me salta em cima da barriga "ah cavalinho" como fazemos sempre e toda a gente a tentar concentrar-se muito, excepto eu. Mas é sempre assim.
O melhor do mundo. Os risos dela.
Imaginem que estão numa praia, diz o professor também entretido com a facilidade da visualização, ouvindo as ondas ao fundo, a areia enrolada no cabelo, o corpo todo enrolado na areia. O professor vai frisando que é fundamental o sorriso, porque um dos objectivos do yoga é pôr o corpo a sorrir por dentro e por fora. Ou, se calhar, ele não disse nada disso e eu é que acho.
Que dia fixe.
22h30
Mas porque é que os putos berram durante a noite? E, por isso, passamos a noite a pensar se serão pesadelos, se será mimo ou falta de mimo, se será frio, se será o nariz entupido, and so on and so on.
Bem, então ontem, o pai dos miúdos berrões (que pensa que berros durante a noite equivale a tortura) entrou na sala com um ar triunfante. Isto porque ao ir ao quarto deles, teve de acender temporariamente a luz. E eles, que dormem no mesmo quarto para afugentar monstros e para facilitar eventuais verificações nocturnas (e também porque partilhar o quarto com irmãos é a melhor coisa do mundo, porque eu sei), reagiram incomodados à luz. E fez-se luz na cabeça do pai deles. Bastava que passássemos a ser nós a acordá-los, para que percebessem que era uma chatice serem acordados e extrapolassem para a vida deles a teoria. Engraçado, não? Como castigo por esta ideia, a mais pequena berrou ininterruptamente durante duas horas esta noite.
"Quero a minha mamã", depois "quero o meu papá" e, por fim, rendida às evidências de que não ía ter nem um nem outro, "quero o Noddy". Claro que nos largámos a rir. Hoje o dia todo foi com um olho aberto o outro fechado.
06/11/08
À leitora mais comentadora
Há uma outra versão de Pink Martini, um grupo de que gosto muitíssimo, mas este vídeo era mais bonito.
05/11/08
Go girl
Just do it
Depois, pensando friamente, lembro-me da avaliação que um amigo cibernético que nunca vi fez: se és jornalista freelancer, então não tens desculpa para não teres ideias. O que tens a fazer é sentares-te ao computador e escreveres.
Tens razão. É o catch frase da Nike.
04/11/08
Speed
A sensação era semelhante à que se tem depois de jogar Tetris durante um bom bocado. De olhos fechados, vêm-se as peças passar a grande velocidade e estamos sempre a tentar resolver o puzzle, acabando com as linhas, cada vez mais depressa, cada vez mais depressa...
A sensação de andar de patins também é mais ou menos assim, deixa memória, neste caso física, e durante a noite sentem-se as rodas a deslizar debaixo dos pés.
Pois esta noite vi passar em fast motion todas as imagens que vi durante a aula e o exercício que fizemos refi-lo milhares de vezes, até estar lindo. Até estar perfeito.
Dúvidas
Mãe que diga que nunca teve dúvidas deve ter tido sempre em permanência ao seu lado um pediatra, uma ama daquelas antigas e um professor das mais variadas áreas. Pelo menos.
Todos os dias as mães, ok, eu tenho dúvidas em relação ao que faço/digo/mostro/proíbo/dou aos meus filhos. Se faço/digo/mostro/proíbo/dou de mais ou de menos. Se tomo as decisões correctas. Se está calor a mais para tanta roupa ou frio para os calções do miúdo. Se temos pequeno-almoço para todos, incluindo a que ainda não pode comer iogurtes com morango. Cá em casa os iogurtes são quase todos de morango. Beijinhos e abraços é que nunca são de mais. Dúvidas fazem parte do conjunto.
Abençoado o pediatra que ontem me disse que "é estatisticamente impossível que uma criança nunca tome antibióticos". Que alívio.
Só não tenho dúvidas sobre o tipo de vida que quero que eles tenham. Quero que se sujem e vivam na rua, quero que corram e saltem e caíam e que se levantem. Quero que mexam nas coisas, mesmo nas nojentas, como lagartixas e lesmas. Porque eu também mexo.
03/11/08
Dualidade
A minha filha é rapariga - com um irmão rapaz. E isso faz toda a diferença. Sempre gostou de carrinhos. Gosta de lutas. Gosta de jogar à bola.
A minha filha anda com os carrinhos dela dentro de uma malinha super chique. É essa a diferença.
02/11/08
Puericultura
Também me maravilho ao ver que a minha irmã é igual à minha mãe, uma espécie de tenda gigante com imenso espaço lá dentro e com uma paciência quase infindável para os miúdos. Mesmo quando estão a passar por fases ou quando estão com sono - as desculpas de qualquer mãe minimamente civilizada para as crises de mau feitio dos filhos.
É vê-la a arrastar os três miúdos estrada acima estrada abaixo com um ar feliz da vida, até se arrisca a metê-los dentro do carrinho das compras e ir ao continente ou qualquer coisa assim do estilo. Eu digo arrastar, ela diz que não é arrastar, eu digo arriscar ela diz que precisa mesmo de ir eu digo eu não vou - por aqui se vê. A minha mãe também era assim connosco os quatro. Íamos para onde fosse, sempre todos, quatro miúdos. Quatro miúdos. [Como é que nos dava a mão a todos? Como é que nós não fugíamos? Como é que...?] Lisboa em geral, Campo de Ourique, Casa da Moeda para a ginástica do mais velho, Algés, onde fosse. De transportes públicos.
E ainda nos fazia a roupa a todos, calças, camisolas e fatos-de-banho incluídos e a comida para todos (às vezes comprávamos frango assado ao Domingo) e só tinha uma senhora para ajudar à quarta-feira, durante cinco horas. A minha mãe é um motor de elevada potência. Quem me dera ter metade da genica dela. A minha irmã também é um bocado assim. Então com os miúdos, "são cinco? Venham..."
Mas estou a divagar.
O que quero é contar uma das coisas que me maravilha na minha mãe enquanto avó e que, parece, se repete em muitas outras avós da sua geração. Quando se suspeita que um dos putos com fralda tenha cocó, a minha mãe e as tais outras avós espetam um dedo dentro da fralda para verificar a teoria. Um dedo dentro da fralda! Só há duas hipóteses: ou tem ou não tem. E se tiver, tem duas hipóteses: ou tem sorte ou tem azar. E, se tiver azar, o que acontece mais vezes, o dedo faz a prova viva do suspeito cocó. Porquê? Terá sido algum fantástico curso de puericultura que as avós desta geração fizeram? Hoje evitamos ao máximo qualquer contacto com essas substâncias. Antes, as fraldas eram mesmo lavadas à mão, não havia nada a fazer. Deve ser por isso.
01/11/08
Tolices (2)
Quando era pequenina, mas já tinha algum dinheiro, torrava-o todo em pastilhas Super Gorila, de todas as cores, 2$50 cada uma. Houve uma altura em que preferia as cor-de-rosa e outra em que preferia as vermelhas, mas o que eu gostava mesmo era de mastigar aí umas dez ao mesmo tempo. Um pacote inteiro, não sei quantas tinha, mas isso é que era o paraíso.
Lembro-me de fazer uns balões tão grandes que quando rebentavam ficava com a cara toda melosa de pastilha elástica, uma vez até tive de cortar um bocado de cabelo para me safar da pastilha. "Those were the days", como rezava a série do cabeça de abóbora e da Gloria. Hoje já não como quase nunca pastilhas elásticas - acho que é só um vício gregário, como o tabaco ou usar dreads.
Seria eu a campeã dos balões de Super Gorila? Não sei, já não me lembro, mas que tinha bons lançamentos tinha. E tinha outra especialidade - esta é que é a tolice - não sei se era a única ou se fui eu que me lembrei disto: arrancava os bicos dos lápis de cor e mastigava-os juntamente com as pastilhas para ter balões de todas as cores. Cor-de-rosa, vermelhos, azuis, verdes ou pretos, isso é que era surpreender os amigos. Que é hoje feito das pastilhas Super Gorila? Os miúdos ainda juntam os tostões para as comprar?
Tolices (1)
Na quinta onde passava férias em pequenita havia um monte colado a casa. Um monte de entulho, penso. A casa esteve sempre em obras ou em melhoramentos, que fazíamos em família e que eram fantásticos, como cortar silvas, caiar a casa, pintar as janelas e as portas, os armários de madeira, arranjar os móveis...
Passei grande parte da minha infância (outra vez esta palavra pirosa) imersa em lama da ribeira ou em girinos, sapos e rãs, cobras, lagartixas, gafanhotos e passarinhos, alguns gatos e muito campo. Um campo delicioso e selvagem, com direito a andar sozinho à aventura, a construir casinhas e labirintos com os caixotes da apanha do tomate. Tínhamos uma eira à séria, poços proibidos, uma fonte desmontada e até um arco do tipo triunfal. A casa é um antigo lagar de azeite, com talhas de barro e tudo operacional. Uma casa espectacular.
Isto até ao dia em que a inevitabilidade dos assaltos tornou impossível continuar a ir lá. Isso parte-me (nos) o coração, mas acho que devemos aceitar que às vezes há capítulos que se encerram para se abrirem outros.
Ora chegou um dia a vez de esse monte de entulho ser desagregado. Os meus pais mandaram vir uma escavadora e nós os quatro ficámos de cima a comandar a obra. Eu devia ter cinco ou seis anos. A retro-escavadora, que fez as delícias dos meus dois irmãos, era enorme e, às tantas, abriu um buraco no chão. Um buraco mesmo, no qual, espreitando de cima, se podia ver o vazio, o nada. Fiquei aterrorizada. "Que horror! Afinal o chão é muito fino". Nem com muitas explicações os meus pais conseguiram tirar-me esta ideia da cabeça e lembro-me de ainda ter tido uns pesadelos com isso. Afinal, a máquina só tinha partido a tampa do colector do esgoto, que eu não sabia existir ali. O que me faz muitas vezes pensar que não conseguimos controlar nada nas cabeças dos miúdos e que se for para terem pesadelos vão mesmo ter.
(Ponho já o número um ao pé do título porque a probabilidade de ter mais tolices para contar é enorme.)
31/10/08
Paciência
Porque é que hoje, caso uma página da net demore um bocadinho de mais a carregar ou caso o Multibanco tenha uma fila de três pessoas, ficamos logo super impacientes e reclamamos, nem que seja com os nossos botões da demora?
Não foi assim há tanto tempo que erámos capazes de ficar um grande bocado à espera que o jogo do ZX Spectrum entrasse. Por preguiça ou falta de ideia, ainda nunca tinha pesquisado por esta maravilha da tecnologia que fez parte de uns bons anos da minha infância - eu sei que é uma palavra foleira, mas o conceito de infância não tem outra palavra. Mas devia ter, uma palavra que soubesse a carrosséis e a algodão doce, a praia e a pés descalços.
Hoje procurei e lembrei-me mais uma vez das horas passadas a jogar ZX Spectrum. Jumping Jack Flash, Chuckie Egg, Jungle Trouble são alguns dos jogos que adorava e que estive hoje a recordar. Porque tenho tanto medo dos actuais jogos? Talvez por serem tão perfeitos e tão absorventes. No ZX Spectrum nada daquilo era realidade. Nós sabíamos que ao desligar o gravador íamos à nossa vida. Os actuais jogos são muito mais viciantes.
Também não foi assim há tanto tempo que para ir levantar dinheiro a minha mãe tinha de ir à terrinha ao lado com os quatro putos e ficar sei lá quanto tempo à espera de vez. Ainda só havia cheques...
Os anos 80 foram mesmo bons. Eu sei que os 70 também devem ter sido, não me lembro de muito, e os 90 também não foram nada maus, pelo menos na primeira metade. Os zeros (será que é assim que se chama a esta década em que estamos?) já são mais sérios, o tempo já é mais repartido com trabalho e portanto menos tempo é para brincar. Agora prefiro mil vezes brincar com os meus filhos na rua.
A notícia
Pode ser em código, como quando soube que estava à espera do meu primeiro filho e disse à minha mãe e à minha irmã: "vem lá um Francisquinho", o que fez com que a minha mãe perguntasse: "mas quem é que é esse?".
Pode ser de uma forma alarmista, como quando ligamos para o nosso pai que está na América e dizemos: "cortei metade do dedo", quando apenas entalámos metade da falangeta numa porta, apesar de ter doído como tudo. O pior é que este alarmista vive comigo e já por diversas vezes tive de o proibir de dar más notícias, dando-as eu na sua vez, para não dar baques aos ouvintes.
Pode ser de uma forma dramática, como quando o meu avô nos disse: "tenho cancro", apesar de a sua idade avançada graças a Deus não ter permitido que fosse muito agressivo e o meu avô ter programado fazer cem anos no próximo mês de Maio.
Pode ser discretamente, para ninguém dar por nada: "hoje está um dia lindo, bati ligeiramente com o carro, amanhã podíamos ir jantar fora". Assim, suavemente, não dói tanto.
Ao dar uma notícia podemos fazê-lo de imensas formas diferentes. A maneira como o fazemos vai influenciar a reacção de quem a ouve. Por isso, por favor, quando tiverem de me dar notícias más, sejam gentis, não alarmistas e escolham bem as palavras. A reacção não pode congelar a acção que pode ser necessária a seguir.
28/10/08
Orientação profissional
A segunda área forte foi Direito. Na altura fascinou-me essa ideia - deve ser influência das séries norte-americanas sobre advocacia. Por cá, o exercício do Direito não é minimamente parecido, arrastando-se por secretarias decrépitas e por requerimentos infindáveis e totalmente desinteressantes. Também tenho um avô juiz, que ficou muito contente com essa opção. Ainda bem que não a segui. Por várias razões, a principal de ordem prática.
Sou uma pessoa muito simples. Não tenho cabelo de advogada, eternamente alinhado e penteado e brilhante. Odeio ir ao cabeleireiro. Tenho geralmente o cabelo com jeitos que não consigo desfazer e uma tolerância muito limitada a saltos altos. Assim, nunca haveria de conseguir ser uma advogada de sucesso.
Já a psicóloga da escola tratava-me por Joaninha nas reuniões de orientação que eram feitas com dez alunos e penso que não me orientou muito apesar de olhar para nós com um ar muito profundo, de quem conseguia ver-nos até à alma. Na realidade já não me lembro. Sei que entre as duas psicólogas, escolhi jornalismo. É fácil perceber porquê. É uma profissão interessante, não há volta a dar-lhe. Os horários e os salários é que são para o baixito.
Adorei fazer os exames psicotécnicos porque sou tão cusca de mim mesma como das outras pessoas. Acabei por descobrir algumas coisas e por confirmar outras. Adorei responder a questionários intermináveis de cruzinhas e divertir-me. Mais com as perguntas do que com as respostas. Adorava saber o que diriam hoje de mim esses questionários se os fizesse.
De repente...
A minha filha bebé
que ainda não tem dois anos
mas já aspira a comer chupa-chupas,
que não come,
que nunca gostou de chucha,
senão dois ou três dias
o que deve querer dizer que
na realidade,
não gosta de chuchas.
De repente,
hoje
apareceu com uma chupeta do primo
mais pequenino
de menos um ano que ela.
Feliz da vida
mas obviamente sem saber como se come aquilo.
Os putos são mesmo giros. E esta,
ainda por cima,
tem caracóis.
Quem sou eu?
No final, tivemos de trocar de folha com outra pessoa que não conhecessemos e fazer uma avaliação dessa pessoa pelo que escreveu/desenhou... Fi-lo de uma forma absolutamente desinteressada - a rapariga com quem troquei estava sentada ao meu lado, penso que não emitimos boas vibrações uma para a outra, antes da folha ainda não tinhamos trocado uma palavra.
O professor (de psicologia) disse que valia tudo para fazer o trabalho, por isso a resposta a qualquer pergunta que começasse por "posso..." seria respondida com um "claro que pode".
Eu escrevi. É o mais fácil para mim. Também teria sido fácil fazer um desenho, mas ando num modo infantil de fazer patos e cães e motas e carros. Disse que tinha dois filhos, família, casada, jornalista, free-lancer, etc. Com bastantes espaços para não ter de pôr muita informação.
Obviamente, não pus na folha nada de privado, nada de pessoal, nada de meu.
A minha colega do lado fez uma série de desenhos, o centro era ela. Tinha aparentemente muita confusão na sua vida, uma família pouco estruturada, necessidade de evasão.
A minha colega do lado, sabiamente, disse que achava muito pouco definir-me assim, por coisas exteriores a mim, como a família e o trabalho. É claro que isso não me define, faz parte de mim, mas não sou eu. Eu sou uma pessoa que não gosta de partilhar facilmente o privado, o pessoal, o meu.
A conclusão é que é impossível definirmo-nos assim. Especialmente perante estranhos iguais a nós.
23/10/08
Brincar com as cores
O azul sobre todas as cores, o anil pelo tom sonhador, o petróleo pelos tecidos e pelo petróleo em si nas candeias em Abrantes, o azul transparente do mar, o azul das Bic, o azul cueca do carro da faculdade que dizia "este carro não é azul cueca", o azul do céu, este é óbvio. O azul.
Adoro o branco. O branco que faz todas as pessoas ficarem lindas nas fotografias, com um ar super saudável e fabuloso.
Desde que soube que ia ter uma miúda, este também é óbvio, cor-de-rosa. Deixou de ser piroso e tornou-se amoroso. Foi a única maneira de o pai se convencer que íamos ter uma miúda e não um miúdo.
Ultimamente, mais por preguiça, uso montes de vezes preto. Porque é uma cor confortável, embora seja geralmente assumida como uma cor do poder - algo a que eu, de todo, não aspiro.
Ontem tive uma aula sobre cor, que adorei. CMYK, RGB, LAB et al. Logo falo mais sobre isso.
21/10/08
Igual aos outros
Voltando ao jantar, quando há pizza, e eu adoro pizza e todos os miúdos adoram pizza, faz parte, reforço a quantidade de legumes na sopa e a sobremesa é fruta dupla ou tripla se estiverem com fome. Só para compensar e para ter a certeza que não estou a dar cabo do equilíbrio nutricional deles para sempre.
Acho que com estes problemas de consciência sou igual às outras pessoas todas. Noutro dia, o meu filho de quase cinco anos comeu pela primeira vez na vida um chipicao, que é igual ao bolicao só que sabe melhor. E também já fui com ele ao McDonald's. Não gostou, o que compensou o peso na consciência com que lá entrei. Devemos excluir os nossos filhos das experiências normais da idade, só porque temos uns quantos conceitos de segurança alimentar e de nutrição?
No fundo, no fundo, mais do que sermos todos iguais, acho que somos todos o mesmo. Daí a minha curiosidade pelas pequenas coisas e pelas vidas dos outros - se eles sou eu, então tenho de saber como vivem.
Aliás, um destes dias, hei-de falar sobre a minha religião, que assume que todos somos o mesmo, que todos somos Deus. Assim que me organizar em relação a isso.
20/10/08
É verdade...
Quando inventarem um sistema funcional, por favor, ponham uma música bem animada na minha vida. Acho que só isso faz com que ande mais feliz.
Nunca tive jeito para escolher música. Nunca sei os nomes dos cantores, dos grupos, das músicas. Sei cantar, vá lá. Mas só isso não é muito intelectual. Nem sequer sei dizer quais são as minhas dez músicas preferidas de todos os tempos, à la high fidelity, um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. Já me lembrei: Time of your life dos Green Day é das boas. Enjoy.
Enfim
Nesta fase divertida, o meu filho mais velho anda um pouco contestatário - mal sabes tu meu querido que a minha adolescência está bem perto. Sabes, meu amor, há pouco tempo eu era como tu... Assim, pequenina e desafiadora. Mas agora tenho a tarefa de te ensinar os limites e de te explicar como funciona o mundo. Eu sei que às vezes não te apetece ir para a escola. Às vezes também não me apetece ir trabalhar. Às vezes também me apetece deitar a língua de fora a alguém e berrar "és má", mas já aprendi que isso não resolve nada.
"É a vida" - este o corolário mais parolo de qualquer frase, mas acaba por ser mesmo assim. Melhor só mesmo o do sr. Costa, dito sempre que alguém morre ou fica gravemente doente - "ninguém diga que está bem". Presumo que também o use quando alguém é despedido de uma maneira fulminante.
Portanto, ando contente. Eu sei que anda por aí uma crise tão grande, mas tão grande, que os senhores que nunca se preocupam com a economia andam muito preocupados. Obrigada monsieur Sarkozy pelo seu empenho. E façam lá com que tudo fique bem, ok?
16/10/08
O poder do mktg
Shampou from Damon Stea on Vimeo.
14/10/08
Pelo menos uma
O que vale é que sinto mesmo o que digo. Não são balelas, até porque saiem, como disse, sem sequer pensar nelas. Gosto de ter assim um espírito cumprimentador.
Bem sei que sempre me preocupei em saber se as outras pessoas gostam de mim, até porque acho que a minha auto-estima não é só auto-estima, precisa de hetero-estima para estar em forma. Feitios...
Sei que há pelo menos uma pessoa que goza desta minha maneira de ser e que vai gozar ainda mais se souber que eu, ainda por cima, escrevo sobre isso. É a vida...
11/10/08
Dias diferentes
... e hoje fomos à feira, há três anos que há feira por aqui. Eu adoro feiras. Os miúdos também. Ié!!!
01/10/08
Aos pares
E são os sapatos e as meias intermináveis que nunca jogam umas com as outras antes, durante e depois do circuito de lavagem e secagem da roupa.
A ideia é que os pares e outros múltiplos se encontrem uns ao pé dos outros. Mas é claro que os pares estão sempre separados. Alguém tem uma dica para pôr os miúdos pequeninos a arrumar os seus pares? Ou a deixarem de gostar de pares e outras coleções? Ainda não percebi como é que se faz - se calhar não se faz - mas resulta moderadamente quando arrumo com eles, mas é cá uma seca...
É que, cá em casa, todos estes pares são a dobrar. Às vezes dá para enloquecer, tanta é a tralha espalhada por toda a casa. Curiosamente, quando eles já estão a dormir, acho sempre ternurento ver um carrinho a espreitar debaixo do frigorífico ou encontrar uns sapatos de boneca dentro da minha mala. E aí, apetece-me deitar-me na cama com eles, a ouvi-los respirar tranquilamente (ainda que tenham o nariz entupido...) e cheirar os seus cheiros a champoo de pêssego e champoo sem cheiro para a pele sensível da mais pequenita.
26/09/08
33 metros em piscina
23/09/08
Baby fat
"Baby fat" é um termo adorável para representar a camada adiposa com que os bebés nascem e que vão perdendo à medida que crescem, tornando-se em crianças em vez de bebés.
Os britânicos/americanos são peritos em inventar termos engraçados, estando entre os meus preferidos: "couch potato", "jackass", "chubby" e "old fart", que também é muito bom.
O pior é que, no que diz respeito à "baby fat", as mães também são geralmente afectadas por ela. É claro que, como em tudo o resto, há mães perfeitas que acabam de ter os bebés e voltam à sua roupa dos 16 anos. Eu não (e também já não tenho pachorra para a minha roupa dos 16 anos).
Trabalhar a partir de casa também tem os seus problemas, que geralmente giram em torno de uma despensa bem recheada de mais e de tempo de menos para ir ao ginásio (sócia anual mas sem usufruto).
Por isso, o meu compromisso para este início do ano lectivo - eu sei que já não tenho aulas, mas para mim o ano lectivo é que marca o princípio do ano e não Janeiro. Em Janeiro nem quero pensar em começar o ano. Continuo o que já fazia antes. Por isso, nunca fiz promessas de Ano Novo.
E o tal compromisso inclui: parar de petiscar a toda a hora; regressar ao ginásio; e, se me sentir muito desalentada, contratar um "personal trainer". Este é um dos poucos conceitos britânicos/americanos com que embirro profundamente. Mas, se tiver de ser, tem mesmo. Quero o meu corpo dos 18 anos de volta, ok?
* Imagem de thecuteproject.com
19/09/08
Somos felizes
Férias
10/09/08
Chiado
Adorei ter trabalhado no Chiado uma série de anos e ter tido tempo para almoçar tantos dias num sítio tão fixe onde posso pensar sobre as pessoas que passam e que não conheço - um dos meus passatempos preferidos quando não tenho nada para fazer. Gosto de imaginar o que fazem, quem são, de que é que gostam, como vivem...
Hoje matei umas saudades e soube-me tão bem...
Recomeçar
06/09/08
Travel light
Viemos ao Algarve. Só trouxe roupa mesmo para o fim-de-semana. Assim que me afastei uma hora de casa, a minha filha deu-me um grande beijinho nas calças, na zona do joelho. Foi mesmo ternurento, mas fiquei com uma valente nódoa de bolacha nas calças. As únicas que trouxe...
Adiante, aqui também ninguém repara, e é o que vale.
Vamos às compras, ver de um peixe grande para grelhar.
04/09/08
Setembro
Ontem já tinha dado uns vislumbres, mas hoje é que é mesmo Setembro. Já não dá para ir à praia, o sol anda escondido e, pior de tudo, chove.
Chuva nos primeiros dias de Setembro só é bom para quem vai trabalhar, para não ter pena de se ir embora, para acelerar a recuperação.
Para quem ainda tem uma semana de férias, ou quase férias, chover nesta altura é um desconsolo.
O ceú azul, onde está?
Maçã
Não vou ler os manuais de utilização. Não façam manuais enormes. Acho que ninguém deve lê-los.
Steve, amigo, faz, por favor, uma máquina fotográfica e um gravador. Odeio os que tenho. O da Sony, apesar de pequeno, é ridículo. Tem para aí dez botões!!! Um gravador só precisa de um play, um rec, um erase, um forward, um backward e um pause. Mais nada.
A simplicidade operacional é o melhor que há.
30/08/08
Um
Eu sei, aliás constato-o agora, que esta é uma das expressões que mais uso. Foi o que disse quando o conservador meio desnorteado de Sintra disse que já estava casada, fazendo com que a sala inteira se largasse a rir. Já está. Não é uma muleta das mais cansativas - e ainda bem, porque não gosto de muletas: "de modos que, o diabo a quatro, prontos e portanto". Canso-me a contá-las quando as ouço e abstraio-me do resto da conversa. Até pode ser a melhor palestra do mundo, mas se vai dizer 65 vezes "digamos que...", tenho de contar quantas vezes o faz... Não, estou a gozar (esta expressão também uso muito). Também me farto de dizer "pronto, já passou", para acalmar as mazelas dos meus pequenotes. Assim, acalmo-os a eles e a mim, mesmo já tendo percebido que a melhor estratégia é não ligar nenhuma.
O que já está hoje é o primeiro mergulho no mar, em Sesimbra. Que sensação fixe. Ainda tenho os ouvidos debaixo de água, apesar de já ter saído de lá há mais de oito horas. Mas vale a pena. É, de facto, paz o que se encontra no fundo do mar - que, no meu caso, não foi muito longe do cimo do mar, mas já valeu.
29/08/08
Não consigo dormir
Aos 2,30 metros, na piscina, não oiço nada. Aos 12 metros, no fundo do mar, deve ser a paz completa. Estou a adorar fazer isto, apesar da seca que estou a dar à minha mãe e irmã, que ficam com os miúdos.
25/08/08
Sonhos
Resisti durante muito tempo a ouvir a sua conversa, mesmo depois do NYTimes ma ter recomendado explicitamente. Resisti e resisti, porque o cancro e a morte iminente são assuntos que procuro esquecer - sem o conseguir, nunca. Mas depois, como sucede nas ondas do mar onde adoro andar, deixei de resistir, encostei-me para trás e vi e ouvi com muita atenção o que Randy Pausch tinha para me dizer. Com pena, como um bom livro que não queremos largar, tive de interromper esta conversa de mais de uma hora e, no seu fim, desligar.
Nunca fui, nem sou ainda, de grandes objectivos. Contento-me geralmente com o que tenho. Como é que pude esquecer-me que entre os meus sonhos de miúda se contava um piano? Mas sei que quero, ainda que não necessariamente por esta ordem:
- uma casa grande com jardim, se puder ter tectos altos fica perfeito;
- um piano vertical;
- filhos (tenho dois);
- uma vida feliz - pode parecer vago, mas acho que não posso ser muito específica, não deixar a felicidade encaixar dentro de tabelas muito rigorosas;
- a minha família toda por perto, saudável e feliz também - já falta uma parte, como lidar com isso?
- muito dinheiro - também não é preciso especificar muito.
Quem me conhece também sabe que não sou de grandes entusiasmos, mesmo que esteja a rebentar de excitação por dentro. É uma espécie de protecção, acho. A morte do meu irmão tornou-me pouco susceptível a excitações, uma vez confirmado que nada havia a fazer. Acho que foi aí que esse instinto nasceu.
Adorei a última aula.
18/08/08
Nas margens do rio
A cidade é excelente. É acolhedora porque é pequena. É caseira, porque podemos passar o dia só a olhar as casas dos outros e a adivinhar-lhes a vida. Já antes disse que adoro olhar as janelas dos outros. Não é propriamente cuscice, uma vez que nem conheço as pessoas. Mas gosto de conhecer as janelas e de imaginar quem lá vive. Achei piada à concentração de berços e camas de grades às janelas, como se os bebés dormissem melhor com a luz e o barulho que vem da janela.
Adorei os ganchos no cimo das casas tortas para proteger a casa da intempérie, ganchos para fazer entrar e sair os móveis, uma vez que as mudanças têm de ser feitas pelas janelas. As portas são assim tão estreitas porque os impostos camarários eram cobrados em função da largura da casa para o rio. Assim, as casas são estreitinhas mas muito compridas. A maior parte das casas é muito torta, o que torna ainda mais divertido imaginar a vida das pessoas que vivem lá. Têm, calculo, mais facilidade em encontrar as coisas perdidas, porque devem deslizar sempre para os mesmo sítios, consoante a inclinação da casa.
Amsterdão é uma cidade muito original, de tão liberal que é. Nos seus cafés é proibido fumar cigarros. Mas é permitido fumar charros. Grupos enormes de rapazes circulam pelas ruas com o ar vagamente alienado de quem fuma o seu primeiro charro, alguns recostam-se nas coffee shops com ar relaxado. As raparigas são escassas, mas são bonitas ou, pelo menos, arranjadinhas. Até algumas das famosas raparigas das janelas no distrito da luz vermelha são bonitas. Mas aí não gosto de lhes adivinhar a vida.
Os canais multiplicam-se, as pessoas cruzam-se. Subimos vezes sem conta as mesmas pontes, vimos sempre caras diferentes. Conhecemos gente de países que mal conhecemos, como o Suriname ou Curaçao.
Comemos bem.
Que boa viagem.
11/08/08
Raizes
Acho que nunca vai acontecer olhar para o espelho e ver uma senhora crescida. Vejo sempre a mesma miúda. Sempre a mesma. Passar de filha para mãe é um salto enorme, mesmo querendo-o de todo o coração não se está preparado.
Agora que estou prestes a partir, deixando-os com os meus pais e irmãos, encho-me de dúvidas, de pequenas ansiedades. Ficam entregues ao melhor colo em que podiam ficar, mas não é fácil.
Da primeira vez que fui, quando o meu filho já tinha um ano e tinha deixado de mamar, voltei um dia antes de um fim-de-semana em Madrid. Nas ruas da cidade que adoro só vi carrinhos de bebés, bebés e crianças. Não consegui ver mais nada.
Depois, já tinha ele três anos, cinco dias em Londres e, aos três anos e meio, grávida da mais pequena, seis dias em Estocolmo. Desta vez já não me custou. Ele já era independente, já fui sem o coração nas mãos. Pude gozar as duas cidades calmamente - nunca perdendo, obviamente, a mania de contar cabeças e de me sobressaltar de cada vez que o fazia. Geralmente tenho de contar cinco cabeças, os meus filhos e os meus sobrinhos. Temos a mania de andar em bando. É uma das coisas que me deixa mais feliz.
Admiro com uma ponta de inveja os pais que são capazes de deixar os filhos pequenos e ter o passaporte cheio de carimbos de locais exóticos. Acho que voos de ligação ou 26 horas num avião não combinam comigo e com a minha maneira de viver. Sei que há bungalows lindíssimos em Bora Bora, sei que as paisagens e a tranquilidade são irrepetíveis. Sei isso tudo. Mas nem pensar em deixá-los. O máximo que admito é uma viagem de três ou quatro horas de avião. Não suporto a ideia de não poder chegar ao pé deles rapidamente.
Adoro ir e adoro poder de vez em quando ir sem eles, recuperar rotinas, ir sair, deitar tarde, não ter de andar com o protector solar atrás, comer sem horas, lanchar só porcarias, beber.
Adoro voltar.
09/08/08
Janelas fechadas
Especialmente janelas de casas com um pé direito fantástico. Acho sempre que devia viver numa casa assim, com muita luz. Se houver outras vidas, se pudermos ter vivido outra vida antes desta, tenho a certeza que vivi numa casa grande, enorme, com corredores com chão de madeira encerada ladeados por portas gigantescas, com quartos com tectos e paredes trabalhados, com janelas semi-cobertas por cortinas diáfanas. Na cozinha, uma chaminé em vez de um exaustor, cheira a pão acabado de cozer e a arroz doce. O chá é servido à hora dele, com bolachinhas e conversas sociais. Adoro receber pessoas em casa. Adoro preparar festas. Adorava ter uma casa com janelas grandes e poder dar muitas festas.
Como a casa dos meus avós.
Adoro olhar para as janelas bonitas e pensar como vivem a vida as pessoas que aí moram. Serão felizes por trás dos seus estores e cortinados? O que faz alguém pendurar cortinados de renda numa janela? Terão rotinas de família ou jantarão cada um por si, sozinhos, à frente da televisão? Quem trata da roupa, da comida, de desentupir sanitas, de pendurar quadros? Quem põe e levanta a mesa, quem faz a comida? Assim, ainda adoro mais ver as janelas das casas das cidades antigas e que mantêm a sua riqueza, como Paris, Londres ou Madrid. Impressiona-me imenso conseguirem manter as casas lindas lindas como no início. Quem me dera poder ler a vida dos outros.
A vida dos outros faz-me sempre imensa curiosidade.
07/08/08
Pelos olhos dos outros
Acho que comecei a sentir as dores das outras mães todas no mundo. Comecei a ver o mundo pelos olhos das mães. Também comecei a ter nostalgia da minha infância - perfeita, simples, descomplicada, compincha, divertida, acompanhada por uma família perfeita, simples, descomplicada, compincha e divertida - ao ver as pequenas conquistas e as experiências dos meus filhos. Todos os dias.
Ter férias na praia, o primeiro banho consciente de mar, brincar com os amigos, fazer amigos novinhos em folha com a maior das facilidades (como é que se fazem amigos hoje em dia?), ter avós muito amigos por perto, disponíveis e não só nas fotografias, andar nu o dia todo, querer gelados e bolos a todas as horas e comê-los, não ter de pensar no regresso a casa, em arrendar casa para as férias, em tirar as fotografias e organizá-las por álbuns. Há coisa mais perfeita do que esta liberdade infantil? Adoro ver os meus filhos a fazer isto tudo. Tenho pena de não poder fazer isto como eles. Daí a nostalgia.
Quando eles nasceram comecei também a fazer coisas estranhas. Descascar fruta - eu, sempre preguiçosa de comer fruta para não ter de a descascar, logo, banana fruta preferida. Acordar às 3h da manhã para dar um copo de água ao mais velho - "e eu? e eu?" a mais pequena meia hora mais tarde. Acordar à hora que eles quiserem de manhã, quando o que eu quero mesmo é dormir até às 9h. Organizar a minha vida pelos horários deles - esta confesso que não me custa nada, gosto que tenham ritmos deles e de ter a família organizada.
Estas férias estão a ser muito boas para eles. Adoro isso.
Estilo até aos 12 anos
É difícil ter estilo num hospital pediátrico, de chinelos de praia e prestes a ir ser operado a qualquer coisa complicada.
Hoje estava um miúdo na Estefânia daqueles mesmo textbook estiloso. E ainda por cima era bonito.
Em princípio, antes dos 12 anos o estilo não acontece assim, ou seja, só depois de se deixar de ter idade de estar na pediatria é que os miúdos passam a ter estilo, não é? Este não, sempre deve ter sido assim. Giríssimo. Quero que o meu filho seja assim quando passar a ser intermédio.
04/08/08
80 e muitos estilos
A praia é óptima, mas não é a típica praia do Algarve, com mar de caldo, sem ondas e lisa. A entrada é acentuada, com pequenas pedras e conchinhas partidas que podem magoar os pés e mesmo as pernas - as ondas não são meiguinhas, é uma maneira de o dizer.
A rebentação é forte, o mar puxa, mas não dá para nos guiarmos pela bandeira do nadador-salvador, inexistente. Entra, faz uns sons de satisfação engraçadíssimos e começa a nadar. Nada, nada, com um ar tão feliz como um miúdo pequenito que chega pela primeira vez ao mar. Sem medo, sem olhar para o lado. Fantástica no seu corpo que ganha vivacidade na água brava.
À saída, se está sozinha, pede a quem por ali anda que a ajude a vencer a rebentação. Vem para a praia, mesmo sem boleia, de autocarro, a pé ou como calha. Fica triste se num dia de Verão não toma banho.
A senhora dos cabelos brancos há-de ter aí uns 80 e muitos anos. Mas muito estilo.